* enviado-especial à Suécia

O Rio Ave vive hoje um dos momentos mais altos da sua história, ao disputar o play-off de acesso à Liga Europa.

A partir das 18h de Lisboa, 19h locais, a equipa vila-condense inicia uma disputa a duas mãos com o Elfsborg, clube de Boras, na Suécia, que poderá valer uma vaga na fase de grupos da prova europeia. 

Com 75 anos de existência, grande parte do tempo de vida do clube de Vila do Conde foi vivido nos distritais, nos escalões secundários.

O período de crescimento e de sucessos em planos superiores surgiu mais recentemente, nas últimas três décadas e meia.

João Malheiro, autor de vários livros sobre futebol, cresceu em Vila do Conde e, a par do conhecido amor que tem pelo Benfica, é também adepto do Rio Ave. Em conversa com o Maisfutebol, analisa: «O Rio Ave é fruto do 25 de Abril. Sem a Revolução, o clube não teria crescido o que cresceu».

À pergunta sobre se acreditava que, um dia, o Rio Ave iria estar numa competição europeia, João Malheiro sorri e admite: «Nem sonhávamos com isso! Quando o clube militava em divisões secundárias, essa era uma realidade que nos ultrapassava completamente».

Sobrinho de João Malheiro, Rui Malheiro, analista de futebol, deu os primeiros passos no estudo e na paixão pelo jogo precisamente em Vila do Conde e com o Rio Ave.

Em depoimento especial para o Maisfutebol, Rui Malheiro revela:  «Foi em Vila do Conde, paredes meias com o Campo da Avenida, mítico mini-caldeirão do Rio Ave Futebol Clube, que nasceu e cresceu a minha paixão pelo futebol por influência do meu tio, na altura a iniciar carreira no jornalismo desportivo, facto que me permitiu acompanhar de perto o dia-a-dia do Clube, não só nos jogos dos diferentes escalões, como também os treinos, o balneário e o convívio com os jogadores, entre os quais destaco o capitão Duarte que foi o meu Mestre na análise de um jogo de futebol, e os treinadores. Posso dizer que cheguei a ver José Mário (Mourinho) jogar futebol e que me cruzei com ele no Disco-Bar, mas esses estão longe de ser momentos marcantes na minha infância futebolística.» 

O sonho que Rui Malheiro concretizou

Rui Malheiro aponta a meia-final da Taça de Portugal, em 1984, com o V. Guimarães, que o Rio Ave venceu, garantindo presença no Jamor, como um dos momentos inesquecíveis:  «Aquela meia-final da Taça de Portugal, diante do Vitória de Guimarães, decidida no desempate por pontapés da marca de grande penalidade, é um deles, até pelo facto de ter faltado às aulas e ter obrigado, já que só tinha 7 anos, a minha avó a assistir ao segundo jogo de futebol na sua vida. Mas também as manhãs e tardes passadas naquelas bancadas em saudáveis tertúlias com o meu tio e amigos, entre os quais estava o Álvaro Costa, a sonhar com o dia que poderia vir a trabalhar ali. A oportunidade surgiu, algum tempo depois, já no relvado dos Arcos, há exatamente 21 anos, por intermédio do presidente Paulo de Carvalho e do treinador José Rachão. Tinha 16 anos, e não houve receio em apostar num miúdo para a área de análise de adversários e de potenciais reforços. No fundo, fez-se scouting antes de se saber o que era. O sonho de representar o Rio Ave concretizou-se e prolongou-se durante vários anos. Tenho formação em Economia, Gestão e Sociologia, mas a grande universidade da minha vida chama-se Rio Ave Futebol Clube. Não há nada tão bom como fazermos o que gostamos, onde gostamos, com quem gostamos, como também não nos esquecermos de onde vimos e quem nos ajudou a crescer pessoal e profissionalmente, fomentando a vontade de aprender, aprender sempre. A paixão transformou-se em amor, aquele que tem força mais do que suficiente para sobreviver à distância.»