Mil jogos em 90 minutos, batismos e funerais, várias vidas, frustrações, euforias e muitos erros. Ganhou o FC Porto este Clássico e, consequentemente, o direito de disputar a final da Taça da Liga. Brahimi, Marega e Fernando Andrade marcaram para os dragões, Rafa respondeu para o Benfica.

Agarrem-se bem a esta montanha russa. De emoções e incidências. Aos dez minutos de jogo, já era seguro escrever que este estava condenado a ser o melhor Clássico da temporada. Menos fechado, menos intrincado, de coração mais aberto e disponível.

Os três primeiros golos apareceram entre os 24 e os 35 minutos, mas até aí chegarmos já levávamos muito o que contar. Basta dizer que Svilar e Vaná, habituais suplentes de Vlachodimos e Casillas, deram uma excelente resposta e não acusaram minimamente a pressão.

DESTAQUES DAS ÁGUIAS: boas memórias de Rafa, mas insuficientes

Marega falhou na cara de Svilar a abrir, Rafa respondeu de cabeça num canto mal defendido pelo FC Porto, Corona pediu penálti de Rúben Dias logo a seguir e o crónometro do relógio ainda nem tinha saído do tiro de partida.

Depois vieram os erros e os golos. O de Brahimi aparece depois de Marega ter caído na direita e obrigado Svilar a uma primeira defesa; o argelino só teve depois de fazer o mais fácil e encostar. 

Este Benfica, porém, está melhor e respondeu por Rafa Silva. Talvez o maior agitador das águias esta noite ou, pelo menos, o que aproveitou melhor o que o Clássico foi dando. Com o FC Porto desequilibrado, Pizzi cruzou, Seferovic segurou e rematou para uma primeira defesa de Vaná; Rafa, na recarga, empatou.

Os portistas pediram mão de Seferovic na receção ao passe de Pizzi. Não nos pareceu e ao VAR também não.

Ainda o Benfica celebrava o 1-1 e já Marega aparecia na cara de Svilar a dar nova vantagem azul e branca ao marcador. Rafa adormeceu, esqueceu-se de Corona e foi o mexicano a tocar de primeira para o golo do maliano.

Ufa! Ainda aí está, caro leitor? Isto ainda não acabou.

DESTAQUES DOS DRAGÕES: Óliver a mandar no ritmo argelino

Aqui talvez seja altura de lembrar outros aspetos da partida. Se o FC Porto sofreu uma mão cheia de vezes nas transições defensivas – claramente o aspeto mais fraco dos campeões nacionais esta noite -, então o Benfica mostrou sofrimento e angústia em todos os momentos relacionados com a defesa.

Buracos entre linhas e intra linhas, com Samaris insuficiente no apoio aos centrais e Gabriel muito mais confortável com bola do que sem ela. Pizzi passou o jogo encostado à direita e Rafa é um avançado na forma como pensa e executa. Atrás… as limitações de André Almeida são gritantes.

Em relação à era-Rui Vitória, a grande novidade e evolução está relacionada com a forma como a equipa já consegue saber ter bola em largos momentos da partida. Quando consegue saltar a primeira linha de pressão pode, de facto, ser perigosa.

Se as águias acreditaram quase até ao fim no empate, isso sucedeu porque o FC Porto também teve um jogo errático. Veja-se, por exemplo, o lance que precedeu o golo anulado ao Benfica em cima do intervalo.

Veja como seguimos o AO MINUTO do Clássico

Livre para Alex Telles em posição atacante. A equipa podia ter gerido a bola ou, pelo menos, proteger a retaguarda, evitando a subida de muitos elementos. Não fez nem uma coisa, nem outra, oferecendo um contra-ataque que só não deu golo porque a equipa de arbitragem viu um fora-de-jogo de Rafa. A ser, é no limite.

No FC Porto, Brahimi volta a merecer todos os elogios, tal como Óliver Torres. O espanhol fez um jogão! Com bola, já todos sabemos o que é capaz de fazer, mas foi sem ela que mais nos surpreendeu. Veja-se, por exemplo, o que fez a Gedson quando o médio se preparava para atirar à baliza, com Vaná desposicionado. Brilhante!

Tudo nos pareceu, enfim, ultrassónico, rapidíssimo, com uma intensidade de loucos e um prazer dos céus. Um jogo descontrolado. Ou seria a nossa tensão arterial?

O Clássico de Braga foi bom, talvez por ter tantos erros de todos os lados.

O FC Porto é, nesta altura, melhor equipa e foi sentindo isso ao longo do jogo. Sofreu em determinados períodos porque está longe de ser perfeito, mas percebeu que com o 3-1 de Fernando Andrade – sinal positivo do reforço de janeiro – a final da Taça da Liga já não lhe fugiria.

Bruno Lage perdeu o primeiro jogo como treinador principal do Benfica. O seu maior erro, lido a esta distância, foi a troca do competente Gabriel por Gedson. O médio português entrou mal e levou a equipa consigo.

O FC Porto sai de Braga com a moral reforçadíssima, apesar dos altos e baixos que teve na partida. Uma partida em versão montanha-russa, carrossel desenfreado, olhos esbugalhados e lábios mordidos. Muitos jogos no mesmo Clássico, mas um jogo bem ganho pelos dragões.