«Não podemos trazer o que vem do passado para cada jogo.»

Na terceira e na primeira pessoa, Bruno Lage é conhecedor das amarguras que a Liga dos Campeões tem trazido ao Benfica, que tem falhado repetidamente nos testes a que tem sido submetido neste patamar de exigência.

Na véspera do jogo com o Lyon, o técnico das águias frisava a importância de ter uma equipa imune a traumas passados na reentrada após as duas falsas partidas diante de Leipzig e Zenit.

E nesta quarta-feira o Benfica pareceu encontrar o caminho da homeostasia: o tal ponto de equilíbrio orgânico há muito quebrado na Europa e que até há umas semanas parecia na iminência de alastrar-se também para as competições nacionais, mas foi necessária uma prenda gigante de Anthony Lopes para que se acendesse a Luz da esperança para a equipa portuguesa.

Aos 86 minutos, quando Pizzi aproveitou uma infantilidade do luso-francês numa reposição com a mão para, com a baliza escancarada, dar os três pontos ao Benfica, os homens de Lage pareciam mais perto de sofrer novo golpe do que encontrar o caminho da felicidade plena.

É verdade que pouco antes o melhor marcador das águias esta época – que até começou a partida no banco – atirou ao ferro esquerdo num remate de meia-distância, mas o Lyon era nessa altura a equipa mais confiante em campo e aquele que mais fazia pelos três pontos diante de um Benfica que há muito tempo dava sinais preocupantes de falência.

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E a noite até começou da melhor forma para os encarnados, que se apresentaram em campo com muitas mexidas. Pizzi (já foi dito) começou no banco e Bruno Lage apostou num alinhamento muito diferente do habitual, com destaque para a presença de Rafa no apoio a Seferovic no ataque.

Mesmo numa posição diferente, o extremo recém-regressado de lesão marcou aos 4 minutos e teve 15 minutos diabólicos, com ações que espalharam a discórdias no reduto defensivo do conjunto gaulês.

Rafa, que parecia talhado para ser o elemento desequilibrador da noite, até acabou por sê-lo...

A saída por lesão ao minuto 20 retirou quase toda a imprevisibilidade aos encarnados e permitiu aos homens de Rudi Garcia encontrarem um ponto de equilíbrio.

Com Pizzi em campo e Gedson deslocado para as costas de Seferovic, os encarnados baixaram os níveis de intensidade com bola e foram também incapazes de segurá-la. Mais cómodo, o Lyon reorganizou-se e colocou a nu algumas fragilidades do Benfica na transição defensiva.

Na segunda parte, a equipa de Rudi Garcia carregou mais sobre o último terço português. Aos 57 minutos, Rúben Dias negou o golo a Tousart, Cornet atirou à barra pouco depois e o Lyon chegou mesmo ao golo merecido ao minuto 70 por Depay.

O crescimento dos franceses deixou a Luz em sobressalto e o descontrolo emocional das bancadas parecia alastrar-se para o relvado, mas a verdade é que os visitantes não conseguiram capitalizar um ascendente que chegou a ser considerável.

No fundo, foram mais perigosos antes do golo do empate do que depois, o que transmite a ideia de que levar um ponto de Portugal até não seria uma má notícia.

Aos 84 minutos, o Benfica ensaiou o primeiro remate de toda a segunda parte, num remate de Pizzi ao ferro esquerdo. Sintomático da performance pálida dos homens de Lage que, ainda assim, saíram por cima.

Pouco depois, Anthony Lopes cometeu um erro inexplicável, ao entregar a bola ao colega de Seleção Pizzi, que atirou para o fundo das redes com a baliza nua.

A Champions é também isto. Não desperdiçar as ofertas, pecado maior das águias nesta competição durante os últimos tempos.

O Benfica não transpira saúde, longe disso. Mas continua vivo e legitimamente na luta.