A imagem tem o cheiro do álbum de família. O FC Porto agarrado à Supertaça. Primeiro em pequenino, depois com a roupa da Primeira Comunhão, mais à frente já caloiro na universidade e, lá para o fim, sentado no sofá e com dragõezinhos ao colo. O clube sabe cuidar como poucos do troféu e continua a ganhá-lo como se fosse a primeira vez. E vão 22 para o museu lá de casa.

Este, por ser contra o maior rival, terá sempre um sabor diferente. Pelo oponente, pela forma justa como foi conquistado, por assinalar uma espécie de superioridade moral sobre o Benfica – é isso que indicia a inibição da águia, o medo de errar acima do querer, a cabeça sem ideias.

Tudo foi decidido num penálti bem batido por Sérgio Oliveira e num raide de Luis Díaz em cima do apito final, mas os campeões nacionais ficaram a dever a um punhado de más decisões na frente um score mais avultado. Jogo feio, sim, sobretudo até ao intervalo. Um FC Porto mais sólido, a ganhar todos os duelos individuais e a impor regras na agressividade, na vontade maior, até na maior convicção com que protesta e discute. Tudo conta.

FICHA DE JOGO E AO MINUTO

O Benfica foi mau. Patético, em determinados momentos. Não ter memória é não ter complexos, mas esta águia de Jorge Jesus mostra o oposto. O treinador mudou e a equipa segue agarrada às três derrotas da época passada, fazendo com que o investimento de milhões (muitos) e o discurso do «vamos jogar o triplo» faça soar o botão de pânico.

Exceção feita a três remates de Grimaldo, o Benfica nada criou, nada ameaçou, nada foi capaz de dar ao jogo. O lateral tentou num remate dentro da área no primeiro tempo e depois em dois livres diretos na segunda parte, o segundo a bater com estrondo no poste esquerdo de Marchesín. O resto, insistimos, foi incompreensivelmente mau e a dar lógica a todos os sintomas de doença das passadas semanas. O Benfica está pior agora do que no início da época.

DESTAQUES DOS DRAGÕES: Pe-Pe-Perfeito

Este plantel de Jesus faz lembrar o casal que dorme na mesma cama por obrigação e que está junto há décadas só para não se incomodar com a papelada do divórcio. Os jogadores têm momentos em que fazem da união um inconveniente, vêem-se diariamente e mal se reconhecem. Em Aveiro não fizeram muito mais do que uma equipa de solteiros – ou de casados de longo termo, para manter a analogia – faria. Foi péssimo.

O FC Porto não precisou de ser brilhante para ser muito superior. Teve um Pepe em plano estratosférico – Darwin pareceu um juvenil deslumbrado ao seu lado – um Marchesín importante em dois momentos, um meio-campo cheio de convicções fortes, dois laterais melhores do que os adversários durante 90 minutos. Everton e Rafa foram… confrangedores.

DESTAQUES DAS ÀGUIAS: Grimaldo, o melhor avançado

Para o Benfica e para os benfiquistas tudo se torna pior à medida que o tempo avança. O investimento faraónico, até desfasado da realidade que os nossos dias impõem, atira toda a responsabilidade para cima da direção recentemente reeleita e do treinador que voltou a casa a envergar a túnica de salvador do mundo encarnado.

Não estranhem se sonharem com monstros e assombrações nos próximos dias. O FC Porto teve animais competitivos dentro do relvado. O Benfica passou o jogo amedrontado. A notícia para as águias é dura: continuar assim é continuar mal. É chegar à cama e ter medo de fechar os olhos, só para não ter de sonhar com o rival dos rivais. A Némesis que pega em dragõezinhos e folheia o álbum de família.