O presidente da Federação Portuguesa de Râguebi (FPR), Carlos Amado da Silva, acusou a Direção-Geral da Saúde (DGS) de ter «tratamento diferenciado» para outras modalidades e de não responder às propostas do organismo para retomar a atividade durante a pandemia covid-19.

O responsável pelo râguebi, em declarações à Agência Lusa, assumiu que a modalidade «não tem capacidade» para cumprir as orientações para a retoma dos treinos e competições desportivas, divulgadas esta terça-feira pela DGS, e revelou que a FPR apresentou diversas propostas «credíveis e economicamente viáveis» para as quais não obteve qualquer resposta do governo.

«Têm cinco cartas nossas às quais nem responderam e agora, de forma antidemocrática, tomam decisões sem ter em conta nada do que propusemos. A DGS tem estado absolutamente muda, numa atitude de autismo em relação ao râguebi que não tem para as outras modalidades. É público que têm reunido com as modalidades de pavilhão, mas a nós nem nos respondem. Se não têm ideias, ao menos que respondam às nossas», atirou Amado da Silva.

O dirigente alertou que não está em causa a classificação do râguebi como modalidade de risco elevado, mas sublinhou que o governo «tem de entender que há aqui desigualdades [entre as modalidades] que são inaceitáveis» e deve «criar condições» para que o râguebi possa retomar a atividade, até porque a modalidade «agiu antecipadamente com propostas concretas», para as quais não terá obtido respostas.

«Compreenderia melhor que o governo assumisse que não pode haver competições, do que criarem condições que não são exequíveis. Se acham que o râguebi é perigoso, que não pode ser jogado porque vai morrer toda a gente, então que o assumam. Antes isso do que esta atitude, que é simplesmente uma desresponsabilização que eu não aceito», criticou Amado da Silva.

A classificação do râguebi como modalidade de risco elevado nas orientações da DGS obriga a uma testagem de todos os agentes envolvidos na organização dos jogos oficiais até 48 horas antes do momento competitivo e, para os escalões de formação, impede mesmo o contacto físico em contexto de treino.

De acordo com Amando da Silva, a FPR propôs, nas várias missivas enviadas à DGS, que houvesse «uma análise inicial todos os dias» por parte dos médicos dos clubes, com «medição da temperatura corporal» e uma «certificação responsável da isenção de sintomas» para toda a gente envolvida no processo de treino ou competitivo.

Para os escalões de formação, o presidente da FPR admite fazer uma «adaptação momentânea das regras, como, por exemplo, suprimir as formações ordenadas», mas voltou a lembrar que esse tipo de medidas «discutem-se, não se impõem».

«Podem não estar de acordo com as nossas propostas, mas ao menos que nos digam porque não estão. Ou então que paguem! O governo tem de nos dar os materiais para podermos colocar de pé as suas normativas ou, no mínimo, responder às nossas propostas. É obrigação deles», reforçou Amado da Silva.

Ainda segundo o dirigente, em função das orientações divulgadas hoje, o campeonato que estava previsto para começar no último fim de semana de setembro «está absolutamente comprometido» e isso tem implicações diretas nos compromissos da seleção nacional, que vai disputar o apuramento para o Mundial de 2023 a partir de fevereiro.

«Se os clubes não funcionam, as seleções não funcionam. Apesar de termos alguns atletas selecionáveis no estrangeiro, se não houver competição nacional, não pode haver seleção nacional e temos compromissos já em novembro», lembrou Amado da Silva.

Questionado pela Lusa sobre a exequibilidade de criar condições apenas para um grupo de atletas selecionados, de forma a respeitar os compromissos internacionais das seleções, o dirigente não descartou totalmente a possibilidade, mas assumiu a defesa dos clubes.

«Não nego que a seleção nacional é o meu principal clube, mas esta não funciona se os clubes não funcionarem. Sou solidário com eles. A equipa nacional é uma seleção de jogadores dos clubes. A FPR é uma federação de clubes e não pode haver aqui uma distinção», concluiu.