Passou tão pouco tempo desde que o Benfica se despediu da velha Luz e cá está o novo estádio. De 22 de Março até 25 de Outubro, o Benfica trocou uma casa por outra. A velocidade com que o clube fez a transição e apresenta uma casa nova, até parecida com a outra mas obviamente mais moderna e sofisticada, é o que impressiona desta noite de inauguração. Ainda que haja muito por fazer. Alguma coisa no estádio, alguma também na equipa que venceu o Nacional Montevideu por 2-1.

Da noite da festa da Luz ficam as bancadas cheias, claro, essa capacidade do Benfica mobilizar tanta gente. E o ambiente dos grandes momentos, a luz, o som, a imponência daquele que será o palco da final do Euro-2004, o maior acontecimento desportivo de sempre em Portugal. Não é nada pouco.

Para a história do Benfica fica também uma vitória, mais do que o clube pode recordar da inauguração da velha Luz, que nasceu com uma derrota frente ao rival F.C. Porto. Da noite da nova Luz fica também, obviamente, o regresso de Nuno Gomes aos golos. Foi ele que marcou os dois golos da equipa, pouco depois do regresso após uma paragem de cinco meses. O melhor prémio para um jogador que já fez muito pela equipa e lhe faz muita falta. Mas fica também a sensação de quem viu que a vitória não foi muito convincente, como se percebeu pelos poucos aplausos com que os 65400 adeptos que lotaram a Luz se despediram da equipa quando o árbitro apitou para o final. Chegava ao fim uma noite que começou quente, plena de exaltação benfiquista, mas foi arrefecendo à medida que o jogo avançava.

Nuno Gomes, Nuno Gomes

O Benfica voltou a mostrar em campo muitas das debilidades que tem evidenciado ao longo dos últimos tempos. A equipa até entrou bem, o ataque do Benfica subia bem e mostrava boa capacidade de desmarcação para criar desequilíbrios entre o adversário que veio do Uruguai para a festa.

O primeiro golo resulta de uma combinação entre Nuno Gomes e Sokota, a dupla que, a funcionar em pleno, parece poder ajudar a dinamizar de facto o ataque dos «encarnados». Estava baptizado o Estádio da Luz, o golo número um é de Nuno Gomes.

Mas o Nacional reagiu pouco depois, com Melo a aproveitar uma falha da defesa do Benfica e a aparecer sozinho para o remate. O jogo tinha começado animado, mas foi piorando a partir daí. O Benfica perdeu capacidade no ataque na medida em que não conseguia ter capacidade de choque no meio-campo e de reacção na defesa.

O Nacional, que nem veio à Luz com a melhor equipa e não estava claramente a encarar o jogo como de vida ou morte, chegava facilmente junto da área do Benfica em jogadas de contra-ataque. Poucas vezes rematou com perigo, mas chegava para abalar a pouco sólida estrutura do Benfica. Pouco sólida mentalmente, sobretudo, como se revela esta equipa a espaços em cada jogo.

O jogo também não era a sério, era apenas de exibição, e foi nesse tom que se foi desenrolando. Na segunda parte o Benfica cumpriu a regra dos últimos tempos e voltou a entrar à leão, passe a metáfora. Desta vez Camacho mexeu na equipa, com quatro mudanças de uma assentada. Roger, recém-entrado, faz o passe para Nuno Gomes marcar, aos 47m, um grande golo e colocar o Benfica na frente.

De novo em vantagem, o Benfica voltou a abrandar o ritmo. Do outro lado, o Nacional ficou reduzido a dez aos 58m, por expulsão de Melo depois de uma cena na área, o que só prejudicou o jogo. A equipa visitante conformou-se com o resultado, Camacho ia fazendo entrar jogadores para dar a todos oportunidade de participar na festa, o jogo ia, aos poucos, perdendo ritmo.

O apito final chegou quando já todos ansiavam por ele. E a equipa que recolhia ao balneário mostrava que a transição do Benfica para uma nova era, expressão tão querida aos dirigentes esta noite, ainda terá muitos passos a dar. Depois seguiu a festa. Nasceu a nova Luz.