Primeiro, Mota foi de bicicleta.

Depois, foi mesmo só de Mota.

A seguir, foi travar e gerir. Recuar e desperdiçar. Aguentar e jogar mais do que o necessário para, por fim, sorrir.

No meio de tudo, sofrer, com três espinhos cravados nas redes de Diogo Costa – os primeiros neste Europeu – entre um Gonçalo que, por pouco, parecia ter colocado todos os Ramos num apuramento mais tranquilo.

Mas foi a várias velocidades, com horas extra e crédito final saído do banco: Jota e Francisco Conceição mostraram o lado genial dos seus pés e carimbaram Portugal nas meias-finais do Europeu de sub-21 pela quarta vez na história, depois de 1994, 2004 e 2015.

Segue-se a Espanha, na tentativa da terceira final na história lusa e do primeiro título na categoria.

Portugal entrou a alta velocidade e foi de Itália que chegou o homem que cedo atropelou os transalpinos. Sete minutos bastaram e Dany Mota, avançado do Monza, foi de bicicleta na área, após canto, para o 1-0.

Depois, mais um canto, mais um golo. Minuto 31: ensaio perfeito a começar no pé esquerdo de Fábio Vieira, a viajar até à cabeça de Daniel Bragança na área e a acabar no faro de golo de Dany Mota. Itália a sofrer com a tentativa de marcação individual, 2-0 no marcador.

Mas já por essa altura, Portugal ia perdendo fulgor ofensivo. A Itália ia crescendo e ia valendo à equipa de Rui Jorge o desacerto ofensivo contrário, antes de as contas do resultado serem – e porque muitas vezes não há duas sem três – feitas de novo de canto. Depois de beneficiar da bola parada, Portugal sofreu no último lance da primeira parte: Pobega relançou a Itália após canto de Rovella (2-1).

O primeiro golo sofrido por Portugal no Europeu lançou uma segunda parte que reforçou a falta de controlo do jogo da armada lusa. A que sempre tivera na fase de grupos. Foi valendo muito a regularidade de Vitinha. Que exibição no miolo: até ao último apito. Isso no meio do recuo português perante o crescimento italiano. Talvez ansiedade dispensável, ainda que algum desgaste seja natural após uma época tão intensa e condensada.

Portugal-Itália: os golos e todo o filme do jogo

Exemplo da falta de controlo foi que o 3-1 não durou nem dois minutos. Gonçalo Ramos faturou aos 58 minutos, mas uma rápida jogada que quebrou a linha média portuguesa resultou no 3-2 de Scamacca aos 60.

Rui Jorge quis depois equilibrar ao meio com a entrada de Florentino: abdicou de Gonçalo Ramos e lançou depois Jota na vez de um apagado Gedson. A contenção foi evidente e acabou numa sapatada de Cutrone. Um dos nomes maiores destes sub-21 italianos precisou de oito minutos em campo para o 3-3 (89m) e levar o jogo para prolongamento.

Foi só aí que Portugal decidiu tudo após uma entrada penosa de Itália. Dany Mota já tinha bisado e atirou Lovato para fora de cena aos 91 minutos: o jogador do Verona entrou com o braço na cara do avançado, viu o segundo amarelo e foi expulso.

Finalmente, foi preciso esperar pelos 11 últimos minutos para ver Portugal tirar dividendos. Jota engatou a quarta (109m) após combinação com Romário Baró, Francisco Conceição meteu a quinta (119m) após grande jogada individual sobre Frattesi e Portugal acabou como começou: a alta velocidade para, no meio de alguns percalços, valer-se dos créditos vindos do banco para dar mais um passo numa caminhada que começou de bicicleta.