Paixão é sempre uma palavra forte, muitas vezes utilizada em doses desmedidas no reino do futebol. Paixão é aquilo que Augusto Mata sente pelo Infesta, clube que orienta há 28 anos. Um caso impar, uma raridade nos tempos modernos, pautados pelas célebres chicotadas psicológicas, apanágio de qualquer Direcção. Mas esta história de amor é diferente, muito diferente. «A minha paixão resume-se a tudo o que sinto pelo futebol», diz, ao Maisfutebol o homem que segue as pisadas de Guy Roux, um mito vivo do Auxerre, à frente do conjunto francês desde 1963. 

No início da década de 70, Manuel Ramos, ainda o actual presidente do próximo adversário do Benfica na Taça de Portugal, confiou os destinos da equipa, então mergulhada na penumbra dos distritais, a um homem que tinha jogado no Leixões. Era jovem e depressa levou o emblema matosinhense à II Divisão B. «Foram três ou quatro subidas, já não me lembro muito bem. Já são muitos anos». Compreende-se. 

«A minha sorte é que encontrei um presidente com um pensamento diferente dos outros. Está sempre connosco, nos bons e nos maus momentos. Por isso, não sei o que é uma chicotada psicológica. Mas sinto na pele quando as coisas não correm bem». Propostas concretas para sair só teve uma, «quando o Salgueiros procurava um treinador para o lugar do Mário Reis». Já passou muito tempo. «Optaram pelo Carlos Manuel. Sinto alguma mágoa, mas o Infesta foi sempre uma aposta minha». 

Uma aposta que tem a ver com questões de carácter pessoal, do amor-próprio de quem gosta da terra onde nasceu. Por isso, não hesitou quando teve uma proposta para fazer carreira em S. Mamede Infesta, freguesia do concelho de Matosinhos: «Foi nessa cidade onde nasci. Vim para este clube muito novo e gosto de estar aqui, das pessoas, enfim... Mas nunca pensei ficar tanto tempo», confessa. 

Já jogou frente ao Benfica 

Agora, as bolinhas da Taça de Portugal colocaram o emblema matosinhense no caminho do Benfica: «Isto é uma lotaria, tivemos sorte, porque nem sempre se apanha um grande», explica. «Já joguei frente ao Benfica, no Estádio do Mar, então com a camisola do Leixões. Empatámos a zero, no tempo do Eusébio, do Simões, do Torres. Foi fantástico. O campo cheio, apinhado, as pessoas em bancadas de madeira». 

Mas Augusto Mata nunca foi uma pedra influente no meio-campo, nunca foi o futebolista que sempre desejou ser. Um pouco por medo, talvez, porque naquela altura o futebol não era a máquina mediática do hoje, nem sequer se movia graças a transferências milionárias e a ordenados chorudos. «Quando subi a sénior era torneiro mecânico e ganhava mais do que os meus colegas jogadores. Preferi sempre consolidar as duas actividades, talvez por medo». 

O medo cortou-lhe ambições, esmagou-lhe a possibilidade de fazer carreira. «Era suplente. Sempre tive receio do que iria fazer depois dos 30 anos, especialmente se não tivesse uma arte. Como não tinha estudos, temi muito e procurei conciliar as duas actividades. Trabalhava na oficina e jogava ao mesmo tempo, mas só assim tinha uma vida razoável». 

Uma vida que ainda está dependente de um sonho: «Levar o clube à II Liga. Se calhar, era uma forma de termos um estádio novo, porque este nem condições tem para a II Divisão B». Fica o registo. Augusto Mata, 59 anos, 28 dos quais de intensa paixão pelo seu Infesta. Um exemplo a seguir...