O jogo do Santiago Bernabéu vai colocar em confronto vários antigos colegas. Das selecções, de outras equipas, de outros triunfos. E também de outros cursos. No banco vai até haver um confronto muito particular entre dois ex-companheiros de longa data: José Mourinho vs. José Peseiro. Amigos desde os tempos do curso de treinadores, onde foram colegas no quarto nível, o nível máximo de treinador de futebol português. Jorge Silvério foi professor de ambos e recorda-se bem desses tempos. «Eram muito amigos. Formavam um grupo muito bom, muito companheiro, trocavam muitas ideias, informações e apontamentos. Gostavam de falar, de discutir e eles dois particularmente respondiam muito bem às minhas provocações para discutirem teorias».

Jorge Silvério ministrava-lhes a cadeira de treino psicológico. Uma vertente que se nota muito nos dois, como em outros treinadores da mesma geração. O que é normal. «Faziam parte de um grupo muito bom, muito participativo e empenhado, onde, para além deles os dois, havia o Couceiro, o Carvalhal, o Carlos Brito. Eles os dois, particularmente, eram pessoas que davam grande importância ao treino psicológico numa equipa de futebol. E isso nota-se nas equipas deles, embora de formas diferentes. O Mourinho assume ele esse papel, pela forma como trabalha a componente mental dos jogadores, como manda recados para dentro do grupo, como mentaliza os jogadores. O Peseiro tinha no Nacional um psicólogo a trabalhar especificamente para a equipa».

Da personalidade de cada um, Jorge Silvério recorda-se que «eram pessoas que mostravam grande inteligência». Embora tivessem óbvias diferenças. «O Mourinho sempre foi mais interventivo, mais polémico, gosta de assumir alguma arrogância, o Peseiro era mais reservado, mais recatado, menos expansivo, não intervém tanto como o Mourinho».

«Eram muito bons alunos»

As semelhanças eram encontradas sobretudo na forma aplicada como olhavam para os livros. «Eram muito bons alunos», diz. «Muito interessados, estudiosos, participativos». A forma como hoje treinam é disso o melhor exemplo. Aprenderam tudo muito bem, diz o professor. «Nota-se agora, aliás, na forma como colocam em prática muito das coisas que estudámos, por exemplo a introdução no treino de cartões amarelos e vermelhos para habituar os jogadores, a concepção de um treino muito semelhante ao ritmo de jogo, a questão do espírito do grupo e da integração das estrelas dentro da equipa. Foram tudo coisas que estudámos e que, nota-se hoje, eles aplicam».