Marion Jones propôs-se fazer algo que nunca nenhuma mulher tinha alcançado: conquistar cinco medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos. No seu caso, vencer todas as provas em que iria participar na sua estreia olímpica. A atleta norte-americana não conseguiu o pretendido, mas não deixou de ser uma das protagonistas dos Jogos de Sydney.  

Coragem, força, obstinação e muita velocidade, deram a Marion Jones, ainda assim, a maior colecção de medalhas olímpicas ganha por uma mulher no atletismo e numa só edição dos Jogos - cinco, embora apenas três fossem de ouro, e nas outras se tenha ficado pelo bronze. 

O sonho de criança de Marion Jones, que aos oito anos, ao ver os Jogos Olímpicos de Los Angeles-84 na televisão, escreveu no quadro do seu quarto «Eu quero ser uma campeã olímpica», realizou-se no dia 23 de Setembro, quando conquistou a medalha de ouro nos 100 m. A primeira medalha veio juntamente com a melhor marca do ano, um tempo de 10.75s. 

Dois dias depois soube-se que o seu marido, o campeão do mundo do lançamento do peso, C. J. Hunter, que desistiu deste Jogos devido, segundo afirmou, a uma lesão, acusou o esteróide nandrolona nos testes anti-doping. A atleta apoiou o marido e esteve presente na conferência de imprensa em que Hunter se declarou inocente.  

Logo recairam suspeitas de doping sobre ela. Jones disse não estar preocupada: «Os que me conhecem sabem que sou uma atleta limpa».  

Marion Jones não mudou de atitude e na próxima prova, os 200 m, alcançou novamente o primeiro lugar do pódio. O tempo de 21.84s separava-a da segunda classificada pela maior margem de sempre, 57 segundos. «O objectivo não são duas, nas cinco», disse na altura. 

O salto em comprimento foi a primeira desilusão. Jones não conseguiu ir além do bronze, deixando o ouro para a alemã Heike Drechsler, a atleta que em 1998, tinha sido a única a vencê-la numa prova durante todo o ano. Mas também isso não lhe retirou a motivação.  

No sábado, Marion Jones subiu ao pódio duas vezes, mas em lugares diferentes. Nos 4x100 m, a equipa norte-americana chegou em terceiro lugar e Marion Jones teve que se contentar con o bronze. E, para fechar em grande, na última prova, os 4x400 as norte-americanas foram as primeiras a cortar a linha da chegada e Jones juntou o último ouro à sua colecção. 

Agora com 24 anos, a filha de Marion Toler, uma secretária do Belize, e de George Jones, um crioulo de Lousiana, teve pouco contacto com o seu pai, que após a sua nascença se divorciou. Dizem que o seu casamento com C. J. Hunter, em 1998, foi em parte para preencher a falta de uma figura paterna. Afirmação que Jones refuta, dizendo que o seu padrasto a tem suportado e apoiado sempre que necessário. 

Marion Jones iniciou-se no desporto no basquetebol, durante o liceu, e até à Universidade, onde se licenciou em Comunicação, fez uma boa carreira, que terminou no campeonato da Carolina do Norte em 1997. Depois de ter partido uma perna foi obrigada a parar. Ainda no liceu, foi eleita a jogadora número um da primeira divisão da Califórnia. Mas o seu treinador cedo viu que a sua vocação era a velocidade. 

Em 1998, Marion Jones, sagrou-se campeã do mundo nos 100 e 200 m. Nas 36 provas em que participou venceu 35. Em 1999, foi a primeira nos 100 m e conquistou a medalha de bronze no salto em comprimento no campeonato de Sevilha. Apesar de ainda não ter batido nenhum recorde do mundo, a atleta norte-americana é já uma referência. 

O presidente da Federação de Atletismo Americana não poupa elogios à super-atleta: «Tem a chance de ser a primeira atleta feminina a transcender o desporto. No meu entender apenas três pessoas o fizeram: Pelé, Muhammad Ali e Michael Jordan». 

Não ter conquistado o objectivo das cinco medalhas de ouro pode ser considerado uma derrota, mas as XXVII Olímpiadas nunca irão esquecer a passagem de furacão Marion Jones. A ver como será em Atenas-2004. Ela promete manter o objectivo de ganhar cinco vezes ouro.