O porte, curto e irrequieto, confundia-o com Romário, as pernas curvas, que distinguem os génios, assemelhavam-no a Alenitchev e os cruzamentos, estupidamente esbanjados, pareciam lançados com as mãos, como se Drulovic nunca tivesse deixado as Antas. O pequeno, que compunha a pose depois de cada intervenção, retendo demoradamente o ar nos pulmões, para atenuar os contornos de uma barriga proeminente, prometia, fazia jogar, no estilo cerebral com que poupava o fôlego e concentrava atenções. 

Num terço do relvado, simulava-se um jogo. O treinador voltava atrás. Não na estratégia, mas no tempo. Era jogador outra vez. Por pouco mais de meia hora, porque até para esbanjar talento há limites. Extensíveis também à velocidade. Um tal Esnaider, hispano-argentino, já havia marcado. Ganhavam os azuis, quando Octávio, que estivera na génese de uma mão cheia de ataques de quem vestia de amarelo, teve o empate nos pés e... falhou. 

Acontece. Como aconteceu um pouco mais tarde, com Ovchinnikov novamente pela frente, já depois de Deco e o mesmo Esnaider, numa ousadia artística, que envolveu o seu calcanhar esquerdo e a participação involuntária de Sousa, terem dilatado a vantagem azul. O duplo desperdício refreou-lhe o génio, apagou-lhe a inspiração e recomentou-lhe o recuo. Meramente físico, então, porque Octávio continuaria a jogar, mas já carregando o peso psicológico de trinta anos de diferença em relação a cada adversário que tentara driblar. 

A equipa do treinador, que não é exactamente sinónimo de onze inicial, ressentiu-se da quebra de Octávio. Só assim se explica a goleada azul (9-1). Esnaider, Deco e Ibarra marcaram por duas vezes, Paulinho e Sousa acertaram na baliza errada, Costinha não falhou, Ricardo Sousa assinou o único golo dos amarelos e Rafael ficou em branco, apesar da insistência. A figura foi Octávio.