José Mourinho encontrou-se duas vezes com dirigentes do Benfica na última semana de 2001. Jesualdo Ferreira foi o único obstáculo à mudança de Leiria para a Luz. Maisfutebol conta-lhe a história das conversações fracassadas. 

Dia 26 (quarta-feira) 

A notícia da saída de Toni é conhecida tarde, já de noite. É colocada online, na página de «O Independente». Pouco depois da meia-noite a TSF e o Maisfutebol confirmam o desfecho: o Benfica ia mudar de treinador.  

Por essa altura, José Mourinho acabava de ter uma conversa com Manuel Vilarinho, presidente do Benfica. O encontro decorreu no escritório do número 1 «encarnado», na zona de Santos, em Lisboa.  

O diálogo entre ambos era condição indispensável para o regresso. Depois do que tinham dito um do outro, há um ano, era fundamental que Manuel Vilarinho e José Mourinho se encontrassem e percebessem o que havia para ultrapassar. Aquele encontro fora preparado com alguma antecedência. De resto, foi Vilarinho quem tomou a iniciativa de deixar cair Toni. Presidente e treinador acabaram por concordar que a melhor forma de apresentar a decisão seria o técnico chamar a si a iniciativa do despedimento. Assim fizeram, no outro dia à tarde. 

O passado foi «enterrado» sem dificuldade. Aliás, ambos tinham dado passos improtantes nesse sentido, em entrevistas anteriores. Ainda nessa noite, Vilarinho tentou conversar com Mourinho sobre o vencimento que teria no Benfica, mas foi surpreendido pela resposta. Dinheiro não era problema, o técnico queria antes de mais saber com quem iria trabalhar na Luz. Tinha ideias sobre o assunto e pretendia saber o que pensava o presidente do Benfica. O nome de Jesualdo Ferreira apareceu pela primeira vez e foi suficiente para adiar o acordo, à partida tido como «feito». 

Dia 27 (quinta-feira) 

Pouco depois do almoço, Manuel Vilarinho, Luís Filipe Vieira e Toni explicam ao plantel a decisão tomada. Segue-se a conferência de imprensa. O homem forte do futebol deixara Lisboa na véspera e faz constar que pode até nem estar no encontro com os jornalistas. Acaba por repensar, aparece mas mantém-se em silêncio. Tudo decorre de acordo com o previsto: Toni assume a demissão, embora de forma pouco convicta. 

Nesse mesmo dia, Luís Filipe Vieira e José Mourinho encontram-se. A reunião decorre em Lisboa, desta vez no escritório de José Veiga, empresário com quem ambos mantêm excelentes relações profissionais. 

O diálogo serve para o gestor do futebol confirmar as ideias do presidente: para José Mourinho a questão da equipa técnica é fundamental. A duração do contrato fica clara: dois anos e meio. Os euros do contratos também. Sobre a mesa continua, inultrapassável, o nome de Jesualdo Ferreira.  

O treinador do União de Leiria admite a continuidade de Jesualdo Ferreira no clube, desde que afastado do relvado. O Benfica já aceita que Mourinho traga duas das pessoas com quem trabalha actualmente, mas continua a insistir em Jesualdo. Por estranho que possa parecer, os dirigentes da Luz também fazem sentir que deve ser Mourinho a conversar com os administradores da SAD que o contratou no início da temporada. 

Dia 28 (sexta-feira) 

Jesualdo Ferreira é informado, no final do primeiro treino, que Manuel Vilarinho pretende conversar. Almoçam juntos e o presidente do Benfica fica a saber que o adjunto de Toni admite continuar nesse cargo, com José Mourinho como técnico principal. Inaceitável só o papel de coordenador técnico, apontado na imprensa como «prateleira dourada».  

A resposta de Jesualdo Ferreira não resolve o problema de Manuel Vilarinho. Entretanto o tempo passa e a sexta-feira chega ao fim sem que os responsáveis do futebol «encarnado» descubram um fim feliz para a história. Começa a ganhar forma a tese de que um encontro entre Mourinho e Jesualdo pode ser a chave do problema. 

O Benfica adia mais uma vez a solução do assunto, mas ficam prometidas para sábado decisões.  

Ao terceiro dia, continuava por decidir qual o papel de Jesualdo Ferreira. O Benfica não abdicava de manter um homem «seu» na estrutura técnica, José Mourinho não aceitava a continuação daquele que é hoje o treinador principal.  

Dia 29 (sábado) 

Para este dia é sugerido um encontro entre os dois treinadores, mediado pelos responsáveis do Benfica. Na Luz, à tarde, Jesualdo Ferreira dirige mais um treino, ainda no papel de técnico interino. É nessa condição que começa e acaba a sessão de trabalho. 

Horas antes, José Mourinho comunica aos dirigentes do União de Leiria que decidiu ficar no clube até ao final da temporada. Os jogadores sabem antes do almoço. Quando, em Riachos, observa o jogo particular da sua equipa já sabe o que dirá aos jornalistas, minutos depois. Pouco passa das 18 horas quando anuncia a decisão, que apanha de surpresa os dirigentes do Benfica e outras pessoas ligadas ao processo desde o início. Se tudo tivesse decorrido de outra forma, esse seria o dia da apresentação na Luz. 

Pela mesma altura, o director de comunicação do Benfica adia mais algumas horas o nome prometido para suceder a Toni. No balneário, Jesualdo Ferreira é então contactado e aceita o lugar. Às 20 horas de sábado, João Malheiro anuncia-o como novo técnico.