Para falar de um dos melhores de sempre só um dos melhores de sempre. Este texto fala de Buffon e tem a opinião de Vítor Baía. Fala-se do italiano porque completou mais um número redondo na sua carreira: 500 jogos na série A. E no dia em que a Juventus joga tudo frente ao Copenhaga para continuar a pensar na próxima fase da Liga dos Campeões.

É só um motivo para falar dele, como se precisássemos disso. «Gosto muito do Buffon. É um guarda-redes que marca uma geração a nível mundial. Admiro-o pelo seu trajeto e carreira», reconhece Baía ao Maisfutebol, sabendo que está a falar de um gigante na sua área especializada.

«Para a altura que tem (1,91m) é extremamente ágil. Posiciona-se sempre bem na baliza e também sai com eficácia dos postes, embora essa não seja a sua especialidade. É capaz de defesas únicas», acrescentou, respondendo com diplomacia sobre quem será o melhor desta geração de guarda-redes: «Buffon está claramente no top 3 dos últimos dez anos, juntamente com Casillas e Petr Cech».



Aos 35 anos, Buffon já foi feliz repetidas vezes e nos 500 jogos de série A italiana efetuou inúmeras paradas memoráveis. Iniciou a carreira no Parma, onde assumiu estatuto de titular, atuou ao lado de grandes jogadores (entre eles os portugueses Fernando Couto, Paulo Sousa e Sérgio Conceição) e conquistou os seus primeiros títulos, como a Taça UEFA e a Taça de Itália em 98/99, época em que foi considerado o melhor guarda redes do campeonato italiano. Em 2001 é vendido à Juventus por uma quantia recorde para um jogador na sua posição: 100 biliões de liras (o correspondente a cerca de 51 milhões e meio de euros).

A Juve nunca mais deixou de ser a sua casa, assim como a seleção italiana, onde também conquistou o seu espaço de inquestionável. O número 1 estava entregue e o mito começava a ser construído. Em Itália Buffon só é comparável a Dino Zoff. Com Marcello Lippi em Turim, o guarda-redes foi duas vezes campeão italiano, conquistou duas Supertaças italianas e chegou à final da Liga dos Campeões em 2002/03, onde só foi derrotado pelo Milan nos penalties (apesar de ter defendido dois). Pelo caminho foi sucessivamente sendo considerado o melhor guarda-redes em Itália e na Europa.

Com a saída de Lippi para a Seleção e a entrada de Fabio Capello, a Juve continua a vencer. Buffon vence o seu terceiro título nacional em quatro épocas (mais tarde seria revogado devido ao calciocaos). 2005 será um ano complicado, com várias lesões, e a Juventus teve de pedir ao Milan que emprestasse Abbiati para colmatar a ausência de um insubstituível. 2006 é o melhor ano de sempre, com a conquista do campeonato do mundo pela Itália, a atribuição do prémio Lev Yashin (melhor guarda-redes do Mundial) e o segundo lugar no Ballon d’Or, atrás de Fabio Cannavaro.



O inferno viria a seguir, com o envolvimento no calciocaos e a relegação da Juventus para a segunda divisão. Apesar da caída para a série B, Buffon rejeitou sair do clube, conquistou o título da divisão secundária e regressou rapidamente aos grandes palcos, mantendo intactas as suas qualidades.

«Ele viveu tempos complicados, com algumas lesões e outros problemas, mas foi capaz de ultrapassar todas as questões com grande dignidade», comenta Vítor Baía, que também viveu tempos complicados na sua carreira: «Quanto eu estava a atingir o que seria o meu auge, aos 30-32 anos, tive várias lesões que me afastaram da competição. Curiosamente, ainda consegui viver o melhor da minha carreira após a recuperação, até aos 35 anos».

Em 2008/09 houve muita gente a duvidar das capacidades de Buffon, que chegou a ponderar deixar o clube, mas acabaria por renovar depois de lhe explicarem quais eram os projetos para o futuro. Apesar de relegado várias vezes para o banco de suplentes e afastado dos títulos, em 2010 foi considerado pela IFFHS o melhor guarda-redes da década. O Mundial estava perdido, as lesões acumulavam-se e Buffon já não parecia o mesmo.

«Colocaram a sua carreira em causa, mas ele soube responder. O guarda-redes, pela posição que ocupa, tem de estar sempre na melhor forma, tendo de cuidar da alimentação e da condição física, com índices de massa gorda baixíssimos. Em termos corporais a massa muscular tem de ser permanentemente alta, não havendo tanta exigência cardiaca, quando comparado com colegas de outras posições. Para além disso ainda há recuperação mental», refere o ex-internacional português, acrescentando:

«O guarda-redes nunca pode falhar e a sua melhor qualidade é a regularidade. Buffon, como tantos outros no seu nível, têm de responder sempre em campo, procurando não facilitar e nas situações mais críticas regressar às noções mais básicas. O guarda-redes anda sempre de mão dada com o erro e a ingratidão, por isso tem de ter uma enorme capacidade para aguentar a pressão e saber ultrapassar as dificuldades, passando a ideia de que não vai voltar a falhar».

Foi assim que Buffon respondeu e por isso regressou em grande. A época 2011/12 chegou e a Juventus passou a dominar, com Gigi novamente titularíssimo e a fazer grandes defesas. A Juve voltava a conquistar títulos e «superman» aos seus bons velhos tempos, mostrando que tinha uma outra vida e ainda com direito a braçadeira de «capitão» (após a saída de Del Piero). Com contrato renovado até 2015, a presença no Mundial garantida e mais uma época de sucessos em Itália, Buffon tem tudo para continuar.

«Para já sabemos que ele vai ao Mundial, depois logo se verá», diz Vítor Baía, dando a ideia de que o fim de Gigi poderá estar muito perto. Aos 36 anos já deu tudo ao futebol. Ficará na história como um dos melhores guarda-redes de sempre.