A onda verde que invadiu Barcelos empurrou o Sporting para a liderança isolada do campeonato, facto de enorme relevância por todos os motivos e mais um: não acontecia há quase nove anos. É o mesmo que dizer que há crianças no terceiro ano do ensino primário que vão, pela primeira vez, ver o clube de Alvalade à frente de toda a concorrência interna.

Não admira, portanto, que o estádio do Gil Vicente tenha estado quase completamente pintado a verde e branco. Mesmo que não assuma, já é complicado imaginar a disputa pelo título sem ver o Sporting, pelo menos, lá no meio.

Para chegar ao cimo da montanha, a equipa de Leonardo Jardim teve de sobreviver a um duro teste em Barcelos, face a um Gil Vicente que foi, quase sempre, o que tem vindo a ser este ano: compacto, disciplinado e solidário. Quando não o conseguiu, foi obrigado a sofrer.

Vencer em Barcelos, onde ainda ninguém o tinha feito, é mais uma medalha para Jardim e seus pupilos porque, sublinhe-se, o jogo não foi fácil. Haveria de ficar, na última meia hora. Mas já lá vamos. Antes a fase dura.

Com Wilson Eduardo no lugar que foi de Carrillo frente ao P. Ferreira, o Sporting mostrou ter preparado bem o jogo e, desde cedo, expôs uma das lacunas deste Gil: o espaço nas costas dos laterais.

Luís Martins, então, passou por momentos muito complicados para travar o extremo português e também André Martins que ali aparecia a colocar ainda mais o dedo na ferida aberta. O Gil demorou a estancar mas conseguiu-o. O Sporting percebeu que o caminho estava fechado, sobretudo pela ação de Luan nas dobras, e migrou para o outro lado.

Foi por aí que marcou. Gabriel assustou-se com a sombra de Capel e cortou para local proibido, de cabeça. Depois Montero foi mais forte que Danielson, ficou com o ressalto, encarou Adriano e atirou a contar. Assim encerraram os primeiros vinte minutos de jogo.

Gil cresceu no desconforto até à traição de Pecks

O Gil acusou o toque porque obrigava a uma mudança de estratégia. Parte do sucesso da equipa de Barcelos neste início de temporada deve-se a um plano bem montado que costuma ser, também, bem cumprido.

Solidariedade, coesão defensiva, entrega e lançamentos para os extremos Diogo Viana e Avto. Portanto, esperar pelo adversário, roubar-lhe a bola e tentar surpreender. Isto funciona na perfeição quando o rival está obrigado a atacar. A partir do golo de Montero, o Sporting deixou de ter essa necessidade. Pausou o jogo e perguntou ao Gil o que queria dele.

A resposta foi trémula. É verdade que, após canto, João Vilela esteve perto de empatar, num remate à meia volta, mas as melhores oportunidades foram do Sporting. E inesperadas. Em dois lances, o pequenino André Martins agigantou-se na área para assustar de cabeça. Em ambas, errou o alvo.

O segundo tempo começou, praticamente, com a perdida mais escandalosa do desafio, quando Wilson Eduardo, só com Adriano pela frente, atirou por cima.

Mas esse lance foi uma exceção nos minutos iniciais da segunda metade. Foi ali que se viu o melhor Gil, apostado em crescer no desconforto. Durou foi pouco.

Paulinho, isolado por César Peixoto, não conseguiu desviar de Rui Patrício. Avto, após bom trabalho na área, rematou a rasar o poste. Dava a ideia que o Gil podia empatar. Mas Pecks perdeu a cabeça, entrou de forma descabida sobre William Carvalho e viu, justamente, o cartão vermelho. Ruía tudo ali.

Treze vezes Montero

A jogar com dez o Gil ainda tentou fazer valer novamente a forma solidária como encara os jogos, mas o Sporting não foi na cantiga. Capel aproveitou algum espaço na direita, puxou para o seu melhor pé e rematou rasteiro. Adriano defendeu para a frente e, vindo de trás, Montero fez o golo que desfez todas as dúvidas. O seu 13º no campeonato.

O Gil ainda iria atirar uma bola ao poste, por Brito, e acabou o jogo em cima do Sporting. Não é, aliás, descabido dizer que merecia o golo de honra: a diferença entre as duas equipas em campo não foi tão grande.

Mas o Sporting resistiu, controlou, geriu com o banco e, no final, ganhou. Foi competente, como tantas vezes esta época. É líder. E quem foi seguindo as jornadas que já leva esta campeonato não pode achar assim tão estranho.