Gil Vicente e Benfica vão disputar o troféu da Taça da Liga em Coimbra. Para o emblema de Barcelos, esta será uma página histórica do clube.

Do outro lado, um crónico candidato a este troféu e uma curiosidade: o clube minhoto é uma delegação dos encarnados. Mas pouco.

A ligação remonta aos primórdios do Gil Vicente Futebol Clube mas perdeu força nas últimas décadas. Aliás, em Barcelos, a questão é relativizada.

O presidente António Fiúsa vai mais longe: «Acho que não há nada escrito que mostre essa ligação». Mas há. No site do Benfica, os gilistas surgem na página de casas e delegações (ou filial, no caso).

António Fiúsa sabe que o clube, fundado em 1924, desenvolveu uma relação com o Benfica. Uns garantem que era por simpatia pelo emblema da Luz, outros falam em mera questão estratégica. De qualquer forma, embora o formalismo não encontre reflexos práticos na atualidade, a ligação perdura.

«O Gil Vicente é uma delegação do Benfica, ainda hoje. Não é uma filial, são coisas diferentes. É algo que vem da fundação do clube. Na altura era muito comum, hoje ninguém liga a nada disso», confirma João Trigueiros, antigo jogador e dirigente, homem com meio século de ligação ao clube.

«Não sei se fundadores tinham ligação ao Benfica»

João Trigueiros acha que o Gil Vicente «é a 2ª ou 3ª delegação do Benfica». António Fiúsa fala na «3ª ou 4ª delegação».

Sá Pereira, ex-jogador e elemento do departamento juvenil, desempata. «É a quarta delegação».

«É algo que nos dias de hoje nao tem muita importância. Naquela altura era diferente, não sei se os fundadores tinham alguma ligação ao Benfica. Um deles até era o meu falecido avô materno, o senhor António Pereira.», remata António Fiúsa.

Memória viva do Gil Vicente, a caminho dos 80 anos, João Trigueiros sabe mais pormenores sobre a curiosidade.

«Fazia-se isso porque era um conforto maior para os clubes quando nasciam. Na prática servia para termos alguma preferência em jogadores ou em material. Podiam vir emprestados, por exemplo. Sinceramente, nunca vi bem qual a vantagem.»

É um facto. Atualmente, a ligação esfumou-se, embora perdure no papel. Longe vão os tempos de encantamento, fosse por questões logísticas ou pela conhecida afetividade de muitos minhotos ao clube de Lisboa.

Aliás, em 1943, aproveitando a deslocação ao reduto do Leixões, uma representação do Benfica deu um salto a Barcelos para fazer um jogo amigável contra a sua delegação, uma prática habitual nas incursões pelo norte do país. Venceu por 7-2.

A dúvida nos equipamentos e o F.C. Porto

A ligação histórica levantava até dúvidas em relação ao próprio equipamento do Gil Vicente. A dada altura, o clube de Barcelos vestiu camisola vermelha e calção branco. Quem relata a história duvida que haja uma relação direta.

«Também não sei se é por isso que o equipamento do Gil é vermelho», duvida António Fiúsa, em conversa com o Maisfutebol.

Sá Pereira e João Trigueiros vão pelo mesmo caminho. «Que eu me lembre, o Gil Vicente sempre equipou de vermelho e branco. O azul era o segundo. Houve alguns equipamentos que também tinham azul no equipamento principal, mas isso é uma questão das marcas, não teve nada a ver com o clube. Mas sempre existiu o vermelho, o branco e o azul», explica o último.

Para final de conversa, em jeito de conclusão, as figuras do Gil Vicente lembram que até foi o F.C. Porto a prestar maior auxílio ao clube em momentos decisivos.

«Olhe, quando subimos à I Divisão pela primeira vez, quem nos ajudou mais até foi o F.C. Porto. O Gil Vicente deve muito ao F.C. Porto. Emprestou-nos muitos jogadores naquela altura. E bons jogadores», concluiu João Trigueiros, também ao Maisfutebol.

A ligação ao Benfica, percebe-se, é passado. Embora continue a ser uma realidade, no papel.