No Sporting-U. Leiria estiveram 15.510 espectadores. Nas eleições do Sporting votaram 14.205 sócios. Dois números, dois sinais muito distintos.

Os adeptos/sócios estão distantas da equipa, que só os desilude, mas ainda muito ligados ao clube, ao emblema. Por isso poucos vão ao estádio quando se joga, muitos se aproximam das urnas quando se decide.

O Sporting, viu-se durante a campanha, é sobretudo um clube agitado. Muita gente, muitas vozes, muitas ideias, muitas certezas. Pouca capacidade para ouvir o outro, nenhuma possibilidade de juntar forças e colocar o clube primeiro.

Para quem assistiu de fora, a uma distância prudente, fica a ideia que no Sporting existem muitas pessoas que se acham pelo menos tão grandes como o clube. Vivem iludidas, sim. Eu sei, mas elas não sabem.

Por outro lado, o facto de tanta gente se interessar pelo destino do clube é uma esperança. Por mais de uma vez, durante a campanha, dei por mim a pensar que pode ser a única.

A equipa está fraca. O plantel vale menos do que F.C. Porto e Benfica. A dívida é brutal e até a Academia já pareceu mais capaz de produzir diamantes. E no entanto as pessoas interessam-se, discutem, entusiasmam-se, vibram. E votam.

A madrugada eleitoral foi mais um momento em que apareceram duas versões do Sporting.

Primeiro o Sporting entusiasmado, capaz de produzir um acto eleitoral intenso, sem vencedor anunciado, que agarra os adeptos até de outros emblemas.

Depois o Sporting de cabeça perdida, já sem paciência para esperar, incapaz de aceitar os resultados. Incapaz de encontrar até os resultados. Incapaz de descobrir o sítio certo para o novo presidente discursar. Incapaz, enfim, de montar um sistema de contagem simples, eficaz e inatacável. Incapaz, como em muitas ocasiões, de comunicar.

Este Sporting, o incapaz, chega a ser assustador. A madrugada eleitoral deixou à vista as debilidades do clube. Ali, preto no branco, para o país que não dormia assistir, de boca aberta. Um Sporting com adeptos que, de forma fácil, confundem paixão com agressividade e violência. Um Sporting, enfim, que pede a demissão do candidato que acabou de ganhar.

Godinho Lopes, o novo presidente, parece tudo menos ser capaz de lidar com isto. Durante a campanha deu sinais de fragilidade pouco admissível a este nível. Comunica mal, não passa firmeza e há razões para ter dúvidas sobre a sua garra para enfrentar líderes como Pinto da Costa e Luís Filipe Vieira.

Este presidente, eleito por uma diferença de 360 votos, começa já em perda. É verdade que tem do seu lado nomes fortes como Luís Duque e Carlos Freitas. E provavelmente (no Sporting é sempre preciso dizer provavelmente) algumas figuras que se sentam nos camarotes certos. Mas não terá um minuto de estado de graça. Resta-lhe uma oportunidade: fazer depressa as coisas certas. Começando por anunciar já Domingos Paciência como treinador.

P.S.: O discurso de Bruno de Carvalho no auge da tensão foi adequado, corajoso e muito provavelmente salvou o Sporting de outros momentos embaraçosos e graves. Demonstrou frieza e sentido de responsabilidade. Se não cometer muitos erros, será ele o presidente depois de Godinho Lopes. Só não sei quando.