A 'World Cup Experts Network' reúne órgãos de comunicação social de vários pontos do planeta para lhe apresentar a melhor informação sobre as 32 seleções que vão disputar o Campeonato do Mundo. O Maisfutebol representa Portugal nesta iniciativa do prestigiado jornal Guardian. Leia os perfis completos das seleções que participarão no torneio:

Autores dos textos: Hossein Radka e John Duerden 
Parceiro oficial no Irão: Arman Daily
Revisão: Filipe Caetano


É a quarta vez que o Irão vai estar presente na fase final de um campeonato do mundo, juntando o Brasil 2014 ao Argentina 1978, ao França 1998 e ao Alemanha 2006. Com Carlos Queiroz como selecionador muitos acreditam que a equipa pode chegar pela primeira vez à segunda fase do torneio.

Desde que o ex-treinador do Real Madrid e da seleção de Portugal assumiu o cargo, em 2011, tem vindo a apostar na formação em 4x3x3 ou em 4x2x3x1. Em algumas ocasiões, nomeadamente em amigáveis, também recorreu ao 4x1x4x1. Considerando os jogadores disponíveis, há a sensação de que a aposta no 4x3x3 não será a melhor opção. Inflige grande pressão sobre a defesa e deverá ser utilizado apenas quando existe a certeza que o setor mais recuado será superior à linha avançada do adversário.

É difícil dizer se vai ser assim no Brasil contra a Argentina, a Nigéria e a Bósnia, mas se o Irão apostar no 4x3x3 nestes jogos tem de ter a consciência que do outro lado estarão avançados como Sergio Agüero, Lionel Messi ou Edin Dzeko, com a capacidade para furar a defesa, e isso será penoso para quem estiver a ver pela televisão no Irão. É provável, e até expectável, que venha a recorrer ao 4x2x3x1 para poder potenciar ao máximo a equipa.

O lugar de guarda-redes é disputado entre Rahman Ahmadi e Daniel Davari. Rahmadi deixou boa impressão nos últimos jogos da qualificação, mas Davari joga na Bundesliga (embora o Eintracht Braunschweig tenha descido de divisão) e isso poderá dar-lhe alguma vantagem. No lado direito da defesa poderá surgir Khosro Heydari ou Steven Beitashour, com Jalal Hosseni e Amir Hossein Sadeqi como defesas-centrais. O enérgico Mehrdad Pooladi é um dos favoritos de Queiroz e deverá ser o lateral-esquerdo, atacando sempre que possível.

Os dois médios de contenção, Javad Nekounam e Andranik Teymourian, oferecem experiência e é importante que ambos consigam manter a forma. Um pouco mais à frente surge Ashkan Dejagah, que teve uma boa época na Premier League com o Fulham apesar da descida de divisão, e é capaz de criar oportunidades de golo a partir do lado direito do meio campo; enquanto do lado esquerdo podem surgir Mohammad Reza Khalatbari ou Alireza Jahanbakhsh. Masoud Shojaei é inconstante, mas pode surgir nas costas do avançado, o sempre irrequieto Reza Ghoochannejhad, cujos golos foram importantes para a qualificação.

Dito isto, com o Irão nunca é fácil dizer quem vai jogar ou de que forma o vai fazer, uma vez que a preparação foi terrível. Os problemas financeiros impediram a realização de jogos amigáveis e a seleção de Queiroz acabou por defrontar equipas muito fracas. Alguns estágios foram cancelados e quando se realizaram alguns jogadores fundamentais não apareceram devido a compromissos com os clubes.

Os jogadores baseados na Europa integraram o estádio na Áustria bastante tarde e há uma grande apreensão sobre a diferença de tratamento dos jogadores comparando com os de outras seleções (nem sequer vão poder trocar de camisolas com adversários porque só têm uma suplente).

Alguns nomes conhecidos ficaram de fora, como o guarda-redes Mehdi Rahmati ou os médios Ali Karimi e Payam Sadeghian, que vão ter de encontrar outra ocupação no verão. Rahmati chocou com Queiroz (que ignorou os pedidos de desculpa) e ficou fora da equipa. Muitos dos adeptos queriam que Ali Karimi, o «mágico de Teerão» e ex-estrela do Bayern Munique, fosse ao Mundial, mas o treinador tinha outras ideias.

Que jogador vai surpreender neste Mundial?
Reza Ghoochannejhad. Depois das brilhantes exibições na fase de qualificação, o avançado do Charlton assinou pelo Standard Liège em janeiro e pode vir a impressionar no Brasil. Rápido e direto, com o contra-ataque iraniano «Gucci» pode vir a ser uma séria ameaça. Igualmente no ataque, Ashkan Dejagah e Alireza Jahanbakhsh também podem ajudar.

Que jogador vai dececionar no Brasil?
Masoud Shojaei. A jogar em Espanha há várias épocas, não tem estado a bom nível na seleção nos últimos dois anos. O seu estilo parece não ajustar-se na estrutura rigorosa de Queiroz, embora continue a ser sempre chamado para os grandes jogos. Mesmo no seu melhor é sempre inconsistente.

Qual é a expetativa real para a seleção no Mundial?
Nas três presenças anteriores em Mundiais o Irão nunca ultrapassou a fase de grupos e isso é o que toda a gente quer. Queiroz prometeu que iria melhorar a equipa, mas a qualificação não foi fácil, muito menos a preparação para o Brasil. O primeiro jogo, com a Nigéria, é crucial e será a prova do trabalho feito pelo selecionador. Talvez a sorte seja um condimento mais importante do que a real capacidade da equipa.



Curiosidades e segredos da seleção

Daniel Davari
O jovem guarda-redes precisou de intervenção diplomática para poder estrear-se internacionalmente. Nascido na Alemanha, filho de mãe polava e pai iraniano, o «gigante» chamou a atenção de Carlos Queiroz quando jogava no Eintracht Braunschweig, da Bundesliga. O problema da FIFA é que o nome do jogador de 23 anos tinha duas grafias no passaporte: Daniel no alemão e Mohammad no documento persa.Os diplomatas iranianos foram chamados e o problema acabou por ser resolvido, permitindo que Davari represente o país do seu pai, mesmo que pouco saiba dizer em Farsi.

Andranik Teymourian
O médio ex-Bolton, Fulham e Barnsley é um sério competidor e nunca desiste ou pede tempo para respirar. Mas tem um lado doce que foi revelado na Liga dos Campeões asiática de 2013. O jogador de rabo de cavalo salvou uma borboleta que não conseguia voar, pegando nela e ajudando-a a sair da situação em segurança. O jogador mais bem pago no Irão parece lutar contra o carma e espera aproveitar o Mundial para voltar a ter uma oportunidade na Europa.

Ashkan Dejagah
Marcou dois golos na estreia pela seleção e fez tudo para ajudar o Fulham a manter-se na Premier League, mas nem todos gostaram de saber que passaria a representar as cores da «Team Melli» (depois de ter jogado até aos sub-21 pela Alemanha), nomeadamente por causa das suas tatuagens. Nascido no Irão, mas a viver na Alemanha desde o primeiro ano de idade, Dejagah, agora com 27, tem uma tatuagem de Berlim num braço e de Teerão no outro, assim como a inscrição «Nunca te esqueças de onde vens» no pescoço. As tatuagens são ilegais no Irão, embora sejam cada vez mais populares entre os jovens. Alguns media consideraram que o comportamento de Dejagah era vulgar, mas a o jogador tem respondido em campo e quem tem beneficiado é a equipa, com Queiroz a apoiá-lo. Usa muitas vezes manga comprida para tapar as tatuagens, mas há sempre quem puxe o assunto quando Ashkan é chamado para representar a seleção.


Perfil de uma figura da seleção: Javad Nekounam



«Nek-ou-nam, Nek-ou-nam, Nek-ou-nam!!!» gritava o marcador do golo, apontando para o número 15 inscrito no peito, enquanto corria para a linha de fundo para celebrar o golo que mantinha as esperanças do Irão intactas. Os 100 mil adeptos presentes no Estádio Azadi, em Teerão, também gritavam o seu nome, assim como o relatador do jogo pela televisão e a maioria dos 80 milhões de iranianos. Javad Nekounam é o talismã da seleção.

Há quatro anos, na qualificação para a África do Sul, o mesmo jogador marcou à Coreia do Sul, mas Park Ji-sung empatou e silenciou o estádio, impedindo o apuramento para o Mundial de 2010. Agora, perante o mesmo adversário e no mesmo estádio, Nekounam voltou a repetir o gesto, mas desta vez com um desfecho bem melhor, pois a equipa vai estar no Brasil. No segundo jogo, na Coreia, e após garantido o apuramento, Carlos Queiroz elogiou-o: «Ele é o capitão perfeito. É o tipo de jogador que qualquer equipa preciso e contribui de várias formas. Quando maior é o desafio melhor ele joga».

Aos 33 anos, o médio pode não cobrir a mesma extensão de campo que no passado, mas impõe o ritmo e continua a saber lançar os contra-ataques. Experiente, estará num Mundial pela segunda vez, depois de ter integrado o lote que disputou o Mundial da Alemanha, em 2006, tendo defrontado Portugal, México e Angola. Alguns problemas no balneário contribuíram para a obtenção de apenas um empate (com os africanos).

Após seis épocas no Osasuna, onde ganhou o respeito dos adeptos, regressou ao Irão em 2012 para representar o Esteghlal, um dos gigantes de Teerão, capaz de atrair 100 mil adeptos ao estádio Azadi. Recentemente mudou-se para Kuwait SC, onde aproveitou para rechear a conta bancária e descansar um pouco para poder surgir fresco no Brasil.