Uma sucessão invulgar de acasos permitiu à Espanha dobrar o Chile e conseguir uma vitória que por largos minutos pareceu escondida num grande sarilho. Uma saída despropositada da baliza de Bravo proporcionou a David Villa inaugurar o marcador e a expulsão despropositada de Estrada arrumou o Chile.

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Pelo meio Iniesta fez o segundo golo, no fim de uma combinação bem conseguida e muito rápida com David Villa. Um golo que deixou evidentes também todos os méritos do campeão europeu: mesmo quando parece afastada do jogo, a Espanha é sempre um perigo. Porquê? Porque tem jogadores excepcionais. Simples.

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Ora por isso, e mesmo que tenha entrado mal no jogo, recompôs-se no meio dos acasos felizes que se lhe cruzaram no caminho, acabou a primeira parte a mandar no jogo e deixou ao intervalo a certeza quase absoluta que iria ser o próximo adversário de Portugal. Confirmou-se. Há um duelo ibérico nos oitavos.

Percebeste tudo, Queiroz?

Nesta altura convém voltar atrás, ao início da crónica, para frisar que o triunfo da Espanha chegou a parecer complicado. O Chile entrou melhor, aliás, bem melhor no jogo. Durante largos minutos só se percebeu no relvado uma sombra escura da selecção campeã europeia, incapaz de assentar o jogo e de trocar a bola.

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No esquema de três defesas e quatro médios, mais dois extremos que recuavam para sobrelotar o meio-campo, o Chile exerceu uma pressão que não deixou a Espanha respirar. Nem respirar, nem jogar. A selecção de Bielsa não marcava individualmente, mas apertava o espanhol que recebia a bola com dois jogadores.

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Ora a partir daí percebeu-se que há um antídoto para a Espanha: colocar toda a pressão no meio-campo. Não precisa de ser uma pressão alta. Basta apertar quando a bola passa a linha de meio-campo, nos primeiros dez metros. Sem espaço para trocar a bola em progressão, a Espanha é uma equipa quase banal.

Mas há mais, Carlos...

Só não é a banal porque, lá está!, tem jogadores que num instante pequeno fazem a diferença. O segundo golo, numa combinação entre David Villa e Iniesta que trocou as voltas à defesa chilena, é o melhor exemplo. Curiosamente a bonita jogada foi um marco neste Mundial: significou o centésimo golo na prova.

Del Bosque, de resto, ele que ainda não colocou esta Espanha ao nível da formação campeã europeia, tentou abrir o campo com a colocação de Torres colado à linha do lado direito e Villa colado à esquerda. Xavi e sobretudo Iniesta entravam pelo meio, com a companhia do extremo do lado oposto ao que tinha a bola.

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A estratégia não funcionou enquanto houve onze chilenos e revelou mais um defeito: não há uma identidade. Ao contrário de há dois anos, a campeã não tem uma filosofia de jogo: com as Honduras jogou em 4x3x3, esta noite preferiu um 4x4x2 com um quadrado a meio-campo e mais tarde voltou aos três avançados.

Ora sabe-se que um dos principais méritos da Espanha era, um pouco como o Barça, ter uma identidade que não mudava nunca. O que ajuda a perceber como o próximo adversário nacional não é demolidor como já foi. Mas é perigoso, claro. E tem um mérito: quando precisa, ganha. Já teve duas finais, e venceu ambas.