Os condimentos não pareciam dados a um prato tão saboroso. Hélder Sousa, português do Apoel Nicósia, vive aos 34 anos o momento mais alto da carreira. Estreou-se na Liga dos Campeões, depois de, em Portugal, ter jogado quase sempre em clubes de segunda linha, tirando uma fugaz passagem pelo Sp. Braga que lhe proporcionou os únicos minutos na Liga. Vinte, para se ser exacto.

A prova de que nunca se deve desistir dos sonhos está no percurso pouco comum deste médio. Longe vão os tempos do pelado do Senhora da Hora, de Matosinhos, onde se formou ou da luta pela sobrevivência na Honra. A mudança para o Olympiakos, do Chipre, em 2010, foi o ponto de viragem. Em dois anos foi da Liga de Honra à Champions.

«Acreditei sempre num momento destes. Era um sonho e quando em Janeiro recebi a proposta do Apoel percebi que estava mais perto do que nunca. Apesar da idade que tenho, consegui realizá-lo e estou muito satisfeito. Nunca é tarde para se realizar um sonho», afirma o português, em entrevista ao Maisfutebol.

Hélder Sousa foi titular na derrota (1-0) em Lyon. Entrou em campo, perfilou-se e ouviu o hino da Liga dos Campeões. «É uma sensação indescritível, sente-se que valeu tudo a pena. Lembro-me de ver os jogos na televisão e pensar que um dia gostaria de lá estar. Acho que qualquer jogador de futebol pensa o mesmo», frisa.

Cumprida a estreia, o pensamento é repetir. «Quando é algo bom, toda a gente lhe toma o gosto. Quero continuar a jogar na melhor Liga do mundo. Vamos tentar fazer o melhor na segunda mão, mas responsabilidade não é nossa», avisa.

Mais tempo na Champions do que na Liga portuguesa

Saiu aos 72 minutos, dando o lugar a Marcinho, ex-Marítimo, já com a equipa a perder. Curiosamente, mesmo que não volte a actuar na «Liga milionária», já tem mais experiência do que no principal campeonato português.

Depois de duas épocas na equipa B do Sp. Braga, teve, em 2002/03, a primeira oportunidade na formação principal. O espanhol Fernando Castro Santos lançou-o num jogo com o Varzim. Correu tudo mal.

«Vi um amarelo cedo e ele tirou-me aos 20 minutos. Ficou uma mágoa grande pela forma como tudo aconteceu e porque nunca mais voltei a ter oportunidades. Mas não adianta pensar nisso agora. E digo, hoje, que a culpa nem sempre é dos treinadores. Às vezes também é nossa...», assume.

Do Braga foi para a Ovarense. Depois Gondomar, Feirense, Vizela, Trofense...e o Chipre.

«Vim com a perspectiva de conhecer um novo campeonato, ter uma experiência nova. O percurso no Olympiakos correu-me bem e o Apoel também está a ser uma experiência muito positiva», afirma.

Foi tarde? «As pessoas dizem-me que podia ter vindo mais cedo. Eu acho que tudo aconteceu no momento certo. Nunca penso na minha idade, penso em jogar. Hei-de jogar sempre, seja onde for. Esta é a minha vida e o futebol é a minha paixão», resume.

Um conselho: «Não deixem de acreditar»

Hélder Sousa não guarda mágoa ao país que é seu mas que lhe privou das oportunidades para mostrar o que sabe noutros palcos. «É uma história antiga. Agora que as coisas correram bem é fácil vir dizer que não se aposta nos portugueses», atira, deixando ainda assim algumas críticas: «Vejo aqui jogadores de qualidade e não percebo como não são aproveitados por nenhum clube em Portugal. Tem muito a ver com empresários e com a forma como os clubes são geridos.»

Para o final deixa um conselho aos compatriotas: «Nunca deixem de acreditar». E explica porquê. «Muitas vezes as pessoas pensam: Agora que estou mais velho não vou estar a mudar. É errado. Os anos passam e as pessoas melhoram as suas qualidades muitas vezes. Nunca é tarde», defende. Ele provou que sim.

Hélder Sousa no Olympiakos Nicósia