Helton deixou de ser o portador da braçadeira de capitão do F.C. Porto. A pedido do próprio, de acordo com Vitor Pereira. O guarda-redes terá entendido que, por ocupar uma posição sensível em campo, as suas obrigações enquanto capitão poderiam aumentar o risco de ser repreendido pelos árbitros.

O Maisfutebol foi à procura de respostas, na tentativa de perceber qual é a diferença de ter um guarda-redes ou um avançado [Hulk, no caso] com o estatuto de capitão. A primeira conclusão é simples e aplicável a qualquer atleta: a regra elementar é a mais velha exortação de sempre, «o bom senso», explica o antigo árbitro Pedro Henriques

«Se um guarda-redes sair da sua zona acção para outra, na tentativa de protestar com o árbitro, deve ser advertido. Mas isto acontece com qualquer atleta, capitão ou não.»

F.C. Porto: Helton deixa de ser capitão

«A grande diferença é que o guarda-redes está mais exposto. O equipamento é diferente e o árbitro poderá ter uma sensibilidade maior nestes casos. Eu diria, por isso, que a não entrega da braçadeira de capitão a um guarda-redes é uma questão de bom senso. Apenas isso.»

Pedro Henriques, de resto, desmistifica o papel do capitão de equipa. «As pessoas pensam que o capitão pode protestar e repreender o árbitro. Nada mais errado. A única diferença entre o capitão e os restantes colegas passa pela possibilidade de pedir explicações ao árbitro. Com educação, naturalmente.»

Mas, insiste o ex-árbitro, «não há nenhuma nova regra que impeça o guarda-redes de ser capitão».

Não existe, de facto. Contactada pelo nosso jornal, fonte da UEFA fala apenas na emissão de uma «directiva recente aos árbitros».

Essa directiva sugere a punição de qualquer guarda-redes que saia da sua zona «a correr em direcção ao árbitro», de forma a evitar o incendiar de ânimos do público.

Terá sido esta normativa a influenciar a decisão de Helton e, em última análise, do F.C. Porto.

Eduardo Gottardi, o único guarda-redes e capitão

Na Liga, Helton era um dos pouco resistentes. O último dos moicanos. Ou penúltimo, em bom rigor. Depois de o atleta do F.C. Porto abdicar da braçadeira de capitão, Eduardo Gottardi (U. Leiria) passa a ser o único guarda-redes com essa incumbência em campo.

Gottardi até nem é o capitão da equipa. Esse é Marco Soares. As presenças intermitentes do defesa/médio em campo é que permitem ao guarda-redes usar a braçadeira. «Para mim não é uma responsabilidade extra. É, isso sim, uma forma ter mais liberdade para dialogar com os árbitros.»

O atleta ainda desconhece a existência de qualquer nova recomendação emitida pela UEFA.

«Não vou abdicar desse privilégio. Entendo a decisão do Helton, pois os atletas de campo estão normalmente mais próximos do árbitro, mas nunca tive quaisquer problemas. Se o técnico quiser, continuarei a ser capitão. O importante é saber como falar. Tem de haver respeito e é isso que eu faço.»

Gottardi revela também aquilo que os árbitros pedem aos capitães antes dos jogos. «A conversa é quase sempre a mesma. Pedem calma, respeito pelas decisões que tomam e que ninguém proteste.»