As notícias da queda de José Mourinho eram claramente exageradas.

O treinador foi ao fundo da alma buscar a última gota de orgulho para voltar a ser o Special One de outros tempos. Num clube menos forte, com um grupo mais sedento de vitórias.

Exatamente como ele gosta, no fundo.

Mourinho voltou enfim a ser Mourinho e somou o quinto triunfo em outras tantas finais europeias, devolvendo à Roma um velho hábito que parecia distante: o hábito de ser feliz.

Ora por isso, e porque muitos insistem em dizer que está ultrapassado, o Maisfutebol foi tentar perceber junto de alguns jornalistas italianos como é que a crítica tem olhado para o nove José Mourinho, dez anos depois de o conhecer e de o adorar.

«Mourinho sempre foi apreciado em Itália, pela sua história como treinador e pelo carisma. Este ano na Roma confirmou e consolidou este pensamento. Mesmo aqueles que são um pouco críticos com ele, e que são uma minoria, tiveram que mudar de ideias», diz por exemplo Alessandro Russo, jornalista da Gazzeta dello Sport.

«Mourinho continua a ser um dos melhores treinadores do mundo. Ele tem experiência, talento e conhecimentos de como vencer.»

Flavio Tassotti, jornalista da Teleradio, que acompanha diariamente a atividade da Roma, assina por baixo a opinião do colega da Gazzetta dello Sport.

A vontade de vencer é sempre a mesma, mas agora também tenta estruturar uma equipa, prepará-la. A Roma melhorou muito no jogo nos últimos meses, defende muito bem e cria várias oportunidades de golo», começa por dizer.

«Ele nunca será Guardiola com um jogo espetacular, mas Mourinho sempre será o melhor pela capacidade de defender um resultado. Em 2010 venceu com uma equipa que tornou imbatível na Europa, hoje venceu com uma equipa muito mais pobre, mas que soube explorar muito bem. Graças a ele Pellegrini tornou-se uma força motriz, um grande capitão, Abraham faz golos importantes e Rui Patrício talvez tenha feito a melhor temporada como profissional. Para além disso, lançou muitos jovens que serão o futuro de Roma, como Zalewski e Bove... e ganhou sem Spinazzola durante toda a temporada. Se isso não é uma obra-prima, o que será?»

Vamos então às opiniões em discurso direto com a avaliação à época de estreia na Roma.

Massimo Franchi
Tuttosport

Nota 7,5

«José Mourinho é uma lenda. Chegou depois de alguns anos em Inglaterra em que parecia que tinha perdido a chispa, mas a verdade é que em Itália voltou a ser o treinador que conhecíamos. Construir uma relação com os adeptos da Roma verdadeiramente incrível. Faz-me lembrar os adeptos do At. Madrid no final do jogo em casa com o Man. City, em que a equipa foi eliminada e o Simeone foi aplaudido. Em Itália isso não acontece, os adeptos italianos não aplaudem depois de uma derrota. A não ser em Roma. Com Mourinho isso também acontece, os adeptos adoram-no e aplaudem-no mesmo quando perde. Até se diz que ele é o décimo Imperador de Roma. Roma, como se sabe, teve sete imperadores. Depois há o oitavo, que é o Paulo Henrique Falcao, brasileiro que jogava com a camisola oito. O nono é Totti. E o décimo imperador dizem que é Mourinho. Isto é inacreditável, porque Mourinho só tem um ano de clube. Mas as pessoas adoram-no. Ele até mudou o vocabulário do futebol em Itália. Quando ele disse «Juventus, zero títulos, Roma, zero títulos, Milan, zero títulos» ele enganou-se, disse à portuguesa, «zero tituli». Mas em italiano é «zero titoli», com «o». Então hoje quando alguém quer dizer que uma equipa está muito mal e teve uma má temporada, dizemos «zero tituli». Isto prova a influência dele. É um fenómeno.

GiacomoIacobellis
TuttoMercatoWeb

Nota 9

«Mourinho entrou mais uma vez na história do futebol italiano: a última vitória numa competição europeia tinha sido com ele no Inter, antes do sucesso da Roma na Liga Conferência. Todos os italianos, com exceção dos adeptos da Juventus e da Lazio, simpatizam com Mourinho e estão genuinamente felizes com esta grande vitória. É a vitória de Mourinho mais do que a vitória de Roma. Certamente podemos dizer que muitos não esperavam este Mourinho, um Mourinho ainda vencedor e competitivo doze anos depois. Ele surpreendeu-nos muito. Ainda é um treinador de topo, especialmente do ponto de vista da mentalidade. É na mentalidade e no desejo de vencer que se vê se um treinador é de topo ou não. E Mourinho é um mestre a criar proteção em torno da equipa, assumindo toda a responsabilidade para melhor ou para pior. Talvez tenha mudado a nível tático, com um jogo um pouco mais defensivo e princípios que necessariamente se adaptam a um futebol cada vez mais intenso, rápido e fisicamente forte, mas no essencial continua a ser aquele líder que entra no coração dos jogadores, um pouco como António Conte.»

Flavio Tassotti
Teleradiostereo

Nota 8

«Em Roma Mourinho é visto como uma espécie de Deus. Ainda hoje, por exemplo, nas muralhas da cidade apareceu uma inscrição que dizia: ‘Jesus Cristo nasceu em Setúbal’. A opinião dos italianos, por outro lado, acredito que continue a mesma: os adeptos do Inter adoram-no, os outros adeptos odeiam-no. Mas a verdade é mais uma vez José ganhou e ele fez isso em Roma, na cidade mais difícil do futebol italiano. Mourinho continua a ser o número um, um vencedor. Se dizem que ele é especial, é definitivamente a verdade. Transformou os sonhos dos adeptos em realidade. A Roma não ganhava um título desde 2008, não levantava uma taça europeia há 61 anos. Talvez não tenha estado muito bem no campeonato, mas ainda assim melhorou o lugar do ano passado e devolveu à Roma sensações que o clube não experimentava há muito tempo. Mourinho fez um milagre, acreditem. Vencer em Roma na primeira tentativa é muito difícil, e ele conseguiu. O sentimento que existe é que a Liga Conferência de quarta-feira é o primeiro troféu desta nova era com José Mourinho.»

Mirko DiNatale
TuttoJuve

Nota 7

«De uma forma geral a maneira como os italianos olham para ele não mudou. Mourinho sempre foi considerado um treinador de topo, é um dos mais bem sucedidos da história do futebol e o seu palmarés está cheio de troféus. Ele ganhou em todos os lugares. Há respeito e admiração por ele. Para os adeptos da Roma ele é um ídolo indiscutível, mesmo para aqueles que em 2010 choraram amargas lágrimas por terem perdido o campeonato e a Taça da Itália para ele. Curiosamente, a única coisa que mudou desde 2010 foi o cabelo que ficou mais branco. O estilo de jogo é sempre o mesmo. No Inter treinou jogadores de topo, aqui encontrou um grupo de jogadores muito jovens. Conseguiu manter-se à tona num estádio onde nunca é fácil conviver com a pressão dos media. Mourinho é um grande treinador. Eterno. Porque o seu estilo é o mesmo da primeira vitória obtida com o FC Porto. Ele já não é aquele treinador de um clube de ponta, mas conseguiu ganhar o mesmo. E no futebol, em qualquer idade, o importante é ganhar.»