Precisar de vencer por cinco (ups, afinal por sete) golos de diferença para subir na última jornada? Parece utópico, mas aconteceu mesmo.
A 46.ª e última jornada da League Two, o quarto escalão do futebol inglês (equivalente ao Campeonato de Portugal) protagonizou, no sábado, um dos finais de campeonatos mais épicos e culminou com a subida do Bristol Rovers, atirando o Northampton Town para os play-off de subida à League One.
Northampton e Bristol partiam para a última jornada ambos com 77 pontos, respetivamente no terceiro (subida direta à League One) e quarto lugar (play-off de subida) e o Northampton a ter vantagem pelo saldo de 20 golos positivos, para 15 positivos dos «The Gas».
Ora, isto significava que, em caso de igualdade pontual, o Bristol teria de anular a diferença de cinco golos, o que parecia ainda mais impensável pelo desenrolar dos acontecimentos desde o apito inicial, na tarde de sábado.
O Northampton venceu na visita ao Barrow AFC por 3-1, o que lhe dava, com 80 pontos, um saldo positivo de 22 golos… Obrigando o Bristol a vencer o Scunthorpe por sete golos de diferença.
E o que é que o Bristol fez, à mesma hora? Ganhou por 7-0, ficou com os mesmos 80 pontos, saldo positivo de 22 golos entre marcados e sofridos… Mas com vantagem sobre o Northampton pelo número total de golos marcados, o critério seguinte de desempate (71 marcados e 49 sofridos para 60-38 entre marcados e sofridos do Northampton).
Um filme que tinha tudo para ser ao contrário
Para se perceber quão épica foi a subida do Bristol Rovers, é preciso olhar ao filme dos dois encontros que tinham o terceiro lugar em causa.
O Bristol chegou ao 1-0 aos 18 minutos, mas de Holker Street chegavam más notícias: o Northampton já vencia por 3-0 ao Barrow aos 22 minutos, precisamente a altura em que o Bristol aumentava a contagem para 2-0 sobre o Scunthorpe, o que deixava o Northampton, naquele momento, com seis golos de vantagem no saldo de golos face ao adversário direto.
A esperança, quase nula perto do intervalo, ficou um pouco alimentada para o Bristol com o golo do Barrow, que reduziu para 1-3 ante o Northampton. Por sua vez, o Bristol, a jogar em casa e com 2-0 ao intervalo, precisava de marcar pelo menos cinco golos nos 45 e poucos minutos restantes, não sofrer e esperar que a vantagem do Northampton não aumentasse.
E qual o espanto do mundo do futebol quando isso aconteceu mesmo.
O ex-Man. City que conduziu um feito épico
Quem não tinha dúvidas na subida era o treinador do Bristol Rovers, Joey Barton.
«Eu sabia que íamos subir, não tinha dúvidas disso. Uma coisa que não pode ser questionada é o caráter da nossa equipa e dos nossos jogadores. Como consequência disso, os adeptos apareceram e apoiaram os jogadores porque sabiam que eles iam dar tudo. Tens dias especiais se consegues este tipo de receita», afirmou o técnico de 39 anos, que tem no último sábado um dos dias mais memoráveis de uma carreira desportiva que, como jogador, passou com algum relevo pelo Manchester City, Newcastle ou Marselha, há pouco mais de uma década.
Os jogadores, em legítima festa, foram parcos em palavras ainda no estádio, mas com emoção evidente.
«Estou sem palavras, não se consegue resumir isto. Estou sem palavras. É por isto que jogamos futebol». As palavras foram do guarda-redes do Bristol Rovers, James Belshaw, em pleno relvado, no meio de festejos sem fim, em tons de azul e branco (vídeo acima).
«O que é que eu posso dizer? Isto foi fenomenal. Só mostra o caráter que temos neste balneário», disse Collins, autor de dois dos golos dos Rovers na derradeira jornada.
No próximo fim-de-semana, o Northampton vai ao play-off e joga as meias-finais com o Mansfield Town. Swindon Town e Port Vale disputam a outra meia-final, com quatro equipas por uma vaga pela subida ao terceiro escalão a decidir na final de 28 de maio.
Quem já não tem que passar por isso são os Rovers. A League One em 2022/23 é uma certeza.