Transmissão em direto de um jogo por jornada com entrevistas rápidas no final, eleição do melhor golo a cada semana no futebol de seniores e de formação, vários programas de rescaldo das jornadas, incluindo futebol feminino. E uma gala anual que consagra os melhores da época nos Distritais de Lisboa. Tudo isto é feito por apenas uma pessoa.

Hugo Rodrigues é o rosto por detrás do Futebol Online, um projeto dedicado ao futebol amador, sob a forma de um grupo no Facebook. Já tem mais de 30 mil seguidores. «Começou como uma brincadeira e ganhou proporções que nem eu imaginava», diz Hugo Rodrigues ao Maisfutebol, contando que já dedica mais tempo ao projeto do que à sua atividade profissional, no ramo imobiliário e agora também numa agência de viagens. «Dedico a isto cinco a seis horas por dia, no mínimo. Porque depois do fim de semana tenho programas em direto três vezes por semana. Hoje tenho o rescaldo da jornada do futebol sénior, amanhã do futebol de formação e às segundas-feiras do futebol feminino.»

«Sou um curioso, sempre ligado ao futebol», resume Hugo Rodrigues, a contar como o interesse pelo jogo vem de longe: «Comecei a jogar aos seis anos. Cheguei a júnior, fiz um ano de sénior, mas depois casei-me e parou o futebol enquanto jogador. Depois fui dirigente, fui treinador, fui coordenador de formação. Já passei pelos cargos todos.»

Agora dedicou-se à divulgação de informação sobre esse futebol, na sua região. Começou em 2019. «Passava por uma fase mais difícil a nível pessoal, tinha de distrair a cabeça de alguma maneira e então lembrei-me: ‘Vou criar aqui uma coisa no Facebook’.»

No início participava em tertúlias sobre futebol online, com um grupo de amigos. «Era tudo gente ligada ao futebol distrital. Fazíamos um programa em direto, sempre ao domingo, para falar de futebol distrital.» Entretanto chegou a pandemia e Hugo Rodrigues foi explorando outras formas de comunicação online. «Nessa altura abrangi também o futebol profissional. Lembrei-me de mandar um convite ao Manuel Cajuda. Fiz uma entrevista com o Manuel Cajuda e aquilo teve um boom enorme. A partir daí passou por lá muita gente. Toni, Carlos Manuel, Paulo Futre, sei lá. O Luís Freire, o Filipe Martins, muita gente mesmo.»

Quando o futebol voltou, novas ideias ganharam forma. «Experimentei começar a fazer relatos do Distrital, que também tiveram muita adesão. Passado uns tempos comecei a fazer transmissão em direto de jogos», conta, acrescentando que não tem formação em jornalismo e a única experiência anterior que teve na área foi o acompanhamento de alguns jogos na sua zona de residência, Mafra, para um site de futebol online, já depois de ter lançado o seu projeto.

Pôr o futebol amador «mais próximo do patamar do futebol profissional»

O projeto foi crescendo e agora Hugo Rodrigues conta que já tem uma parceria com a AF Lisboa, que lhe permite superar algumas limitações do que fazia. «Desde há dois, três meses, celebrei um protocolo com a AF Lisboa. A parceria surge porque eu cheguei a um ponto em que praticamente todos os jogos que fazia eram aqui na minha área de residência, por causa dos custos. Já não basta o trabalho, ainda estar a meter mais dinheiro…», desabafa. «Então a Associação propôs-me uma parceria. Eles ajudam na deslocação e escolhemos em conjunto os jogos que são transmitidos.»

É essencialmente a partir do seu telemóvel que Hugo Rodrigues transmite os jogos. «Tenho duas maneiras. Ou faço em streaming ou faço diretamente com o telemóvel e transmito pelo Facebook. Se for streaming, é através de uma câmara fotográfica. Mas isso obriga-me a levar o portátil. E eu até acho que a qualidade é melhor com o telemóvel, porque o streaming tem um delay de alguns segundos.»

Ao longo do tempo foi adquirindo algum equipamento de som ou microfones, para melhorar a qualidade das transmissões. Depois, é ele próprio quem faz também o trabalho técnico de edição de imagens: «Ainda agora estava a editar resumos para logo à noite.»

No fim de cada jogo não faltam as «flash interviews». «O meu objetivo era ter o futebol amador, principalmente os jogadores, um bocado mais próximos do patamar do futebol profissional. Sem dinheiro, porque não ganham para isso», explica. Então, replicou o que se faz no futebol de primeira. «Criei prémios semanais. Todas as semanas tenho o prémio do melhor golo da jornada, do melhor golo do futebol de formação.»

«Sete ou oito clubes» por semana a pedir para transmitir jogos

A adesão dos clubes e dos jogadores foi total, diz. «O meu trabalho é do agrado de toda a gente. Eu só posso fazer um jogo, mas tenho sempre sete ou oito clubes por fim de semana a pedirem-me para transmitir um jogo. Isto é algo diferente, que nunca houve no futebol distrital», observa: «E eles disponibilizam-se, tanto para o jogo como para programas. Muitas vezes vão também a programas em direto durante a semana, muitas vezes tenho lá um ou dois convidados.»

Além do jogo semanal da I Divisão distrital, Hugo Rodrigues também transmite alguns jogos do futebol de formação, nesse caso como um serviço. «Os clubes podem candidatar-se, se quiserem, e eu cobro um determinado valor, para a deslocação e para as horas que perco.»

Depois, passa muitas horas a ver futebol e a reunir informação. «No caso do futebol senior vejo sempre um ou dois jogos por semana, depende dos horários. Depois acompanho através do site da FPF os resultados, marcadores, cartões, isso tudo. No caso do futebol feminino vejo um jogo que dê na televisão por fim de semana e depois vejo os resumos todos ao domingo à noite.» Além, claro, das imagens dos Distritais. «Já pertenço a um grupo dos treinadores, onde eles descarregam imagens todas as segundas-feiras. Porque os jogos já são todos filmados pelas equipas técnicas.»

Também recebe muitas imagens do futebol de formação, com candidaturas a golo da jornada. «Esta semana recebi cerca de 40 golos. Tenho muita gente a mandar, cada vez mais.» A escolha final é feita por um júri, explica. «Até ao final da época passada eram os seguidores que escolhiam o golo da jornada. Ou seja, eu escolhia cinco ou seis dos golos que me faziam chegar. Depois eram os seguidores que votavam. Mas chegou a um ponto que era tipo reality show. Ganhava não quem tinha o melhor golo, mas quem tinha mais votos, quem tinha mais seguidores ou divulgava melhor. Este ano, para não acabar com isso totalmente, até por respeito aos seguidores, criei uma regra diferente. A votação dos seguidores vale 50 por cento e os outros 50 são decididos por mim e por mais seis pessoas, que somos o júri. Dá um pouco mais e justiça ao prémio, digamos assim.»

Uma gala e prémios «como na FIFA»

Por falar em prémios, no final da época passada Hugo Rodrigues decidiu criar outra iniciativa, uma gala anual. «Consegui juntar 500 pessoas em Odivelas para a atribuição dos melhores jogadores, dos melhores treinadores. Foi uma coisa excecional», recorda.

Os prémios resultam dos dados que vai compilando ao longo da época, para atribuir por exemplo um troféu de fair play à equipa que viu menos cartões, mas também de uma votação dos treinadores e dos jogadores. «Como eu já conheço praticamente toda a gente do distrital, são mesmo os jogadores e os capitães de equipa que escolhem. É como na FIFA. Um mês antes mando um mail, a pedir que cada treinador vote no melhor treinador e no melhor jogador do seu campeonato.»

«Não é fácil sozinho organizar um evento daquela dimensão», diz, a contar como foi possível fazer a gala acontecer. «Consegui com a ajuda dos seguidores. Criei uma campanha, fui à procura de patrocínios para os troféus, criei uma campanha de seguidores. Basicamente houve quatro ou cinco empresas que deram um x para ter ali um welcome drink antes de começar a gala. O espaço foi-me oferecido também por uma pessoa que está ligada ao futebol distrital e que também era vereador na câmara de Odivelas.» Este ano, acrescenta, há a possibilidade de AF Lisboa «se associar também» à gala.

Em direto a partir da… Turquia

Hugo Rodrigues já levou o seu projeto para lá das fronteiras de Portugal. Em novembro (de 2022) esteve na Turquia a acompanhar a UEFA Regions Cup, competição europeia de seleções regionais. «Meti na cabeça e consegui ir para a Turquia acompanhar a seleção da AF Lisboa. Fui com um operador de câmara que é meu colega, estivemos lá dez dias e transmitimos os jogos em direto para Portugal. Era o único país que tinha os jogos a ser transmitidos. Tive de fazer campanha também no Futebol Online, fui à procura de patrocinadores e fui por minha conta. A seleção ficou numa ponta de Istambul e eu fiquei noutra. Eram horas e horas enfiado dentro de táxis para ir aos treinos, para ir aos jogos. Mas fez-se.»

A seleção lisboeta garantiu a presença na fase final, que vai jogar-se na Galiza (Espanha), e Hugo Rodrigues deve voltar a estar presente: «Tudo indica que sim, de uma maneira ou de outra.»

O trabalho é muito, mas Hugo Rodrigues vai continuar. «Pensei duas ou três vezes em desistir, mas não há volta a dar. Isto já ganhou dimensões mesmo muito grandes para aquilo que eu estava à espera», diz. Agora, na verdade, até gostava de poder dedicar-se ao projeto a tempo inteiro: «É o meu objetivo, sou sincero. Na empresa tenho a minha esposa e o meu filho, que já conseguem gerir. Se me dedicasse a 100 por cento a isto ainda conseguia fazer mais.»