O campo de todos os sonhos. Portugal acolheu quase 200 cidadãos afegãos - na sequência do regresso do regime talibã ao poder e da consequente fuga desesperada em nome de uma vida digna - e uma boa parte deles é apaixonado por futebol.

A crueldade da guerra obrigou-os a largar de forma abrupta o que mais amam. Parte da família, uma grande parcela dos amigos, a escola e o trabalho, os treinos com a bola mágica e o ambiente único no balneário.

Ora, «sensibilizadas» com a situação de espera e dúvida destas pessoas, tão humanas quanto cada um de nós, a equipa de futebol feminino do Sport Comércio e Salgueiros meteu mãos à obra.

Sabendo que nesse grupo imigrante há meninas, raparigas e mulheres futebolistas, as jogadoras do centenário emblema portuense solicitaram a intervenção rápida da direção do clube de Paranhos.

Gil Almeida, presidente do Salgueiros, explica detalhadamente ao Maisfutebol a reação de venial altruísmo das suas atletas. O futebol pode muito bem ser um lugar bom.

«A direção do Sport Comércio e Salgueiros foi alertada por um pedido da equipa de futebol feminino. Elas [jogadoras] ficaram muito sensibilizadas com a situação das refugiadas afegãs que o nosso país acolheu, muitas delas também jogadoras de futebol», contextualiza o dirigente do histórico Salgueiros, emblema com 24 presenças na 1ª divisão nacional e uma qualificação para a Taça UEFA, há precisamente 30 anos.

«As nossas atletas leram notícias que apontavam como possível a vinda de algumas dessas refugiadas para a cidade do Porto e fizeram questão de lhes abrir as portas do nosso balneário.»

No Salgueiros ninguém ficou indiferente. «Isto mexeu muito connosco. A história do clube tem uma ligação constante com a defesa da liberdade, da democracia e dos mais essenciais direitos de cada ser humano.»

Posto isto, Gil Almeida formalizou o contacto com as entidades competentes e aguarda a autorização para acolher estas refugiadas afegãs no balneário da equipa feminina.

«Contactámos o Alto Comissariado para os Refugiados, o Ministério dos Negócios Estrangeiros e a Câmara Municipal do Porto. Oficializámos o pedido, e disponibilidade, para acolher essas meninas e permitir que continuem a fazer o que mais gostam numa fase tão sensível das suas vidas: jogar futebol.»

Ser um clube grande também é isto. «Não é só estar no escalão máximo e aparecer todas as semanas na televisão.» O Salgueiros, versão 2021, honra os seus pais fundadores.

«Queremos concretizar esta ação e aguardamos o feedback das entidades responsáveis.»