O episódio insólito aconteceu na primeira divisão do futebol distrital de Viana do Castelo: à meia hora de jogo o Moreira do Lima já tinha tido os dois guarda-redes expulsos. Pelo caminho ainda venceu por 4-0. Uma goleada, portanto.
 
Mas por partes.
 
Antes de mais é preciso dizer que tudo aconteceu na receção do Moreira do Lima à AD Campos. No terreno defrontavam-se duas equipas que tentam fugir à despromoção: o Campos é último, o Moreira do Lima está quatro posições acima.
 
Aos trinta minutos, portanto, o Moreira do Lima tinha tido os dois guarda-redes expulsos. Mas não se queixa do árbitro.
 
«Os cartões vermelhos foram bem dados», conta Amaral. «Nada a dizer.»
 
Ora Amaral é o médio que foi para a baliza quando os dois guarda-redes foram expulsos. Revela ele que aos dez minutos Marco Costa «foi expulso por parar com a mão uma bola de um adversário isolado» e que pouco depois «Duarte foi expulso por cometer penálti.»
 
Nessa altura Amaral ofereceu-se para ir à baliza.
 
«A equipa não queria que ele fosse, porque é dos nossos melhores jogadores. Mas ele insistiu. Insistiu, insistiu e insistiu, até que foi mesmo», refere o colega Leiva.


 
Ora foi chegar à baliza e... defender uma grande penalidade.
 
«Em termos de sabedoria, não teve nenhuma. Foi instinto. Atirei-me para a esquerda e ele rematou para esse lado», conta Amaral. «Mas já me tinha dado a impressão que ele ia rematar para aquele lado, aguentei até ao último segundo e fui feliz.»
 
Leiva nessa altura já não estava em campo. Tinha saído para dar lugar ao guarda-redes suplente, que pouco depois também acabaria por ser expulso.
 
«Portou-se muito bem. Até já lhe chamo o Manuel Neuer português», conta. «Costumo dizer-lhe que é o guarda-redes menos batido de todos os campeonatos em Portugal. Zero golos sofridos e ainda um penálti defendido.»
 
Pelo caminho, o Moreira do Lima, e apesar de jogar uma hora com nove jogadores, goleou por 4-0. Ora a pergunta é: os adversários eram assim tão maus?
 
«Não, nada disso. Até lhe digo mais: se o jogo fosse onze contra onze, desconfio que não ganhávamos por 4-0», garante Amaral.
 
«Foi uma coisa inexplicável, só mesmo visto», acrescenta Leiva.
 
«Na altura do penálti estávamos a ganhar por 1-0. Depois, falhando a grande penalidade, eles foram por ali abaixo. A confiança deles caiu muito, fizemos dois golos de bola parada e nos descontos marcámos mais um em contra-ataque. E pronto, foi isso. 4-0.»


 
Leiva diz que houve mais. «Foi uma vitória da raça bertesca.»
 
Oi? Bertesca? O que é isso, mesmo?
 
«Não tem explicação», responde. «Eu tenho um grupo de amigos, do qual fazem parte o João Vilela, o Pedro Moreira e o Nuno Santos guarda-redes, entre outros, que se auto intitula o grupo da raça bertesca. Foi o que esse jogo foi: raça bertesca.»
 
A história não acaba aqui, porém. No próximo fim-de-semana há mais um jogo, os dois guarda-redes do plantel estão castigados e lá vai outra vez Amaral para a baliza. Ele que nunca tinha ido à baliza, para além de um jogo ou outro com os amigos no pavilhão.
 
«No treino que fizemos já fui à baliza, mas isto não se aprende num treino.»
 
Os companheiros não estão preocupados, garante Leiva.
 
«Defendeu um penálti, saiu bem da baliza quando foi preciso, muito seguro nos cruzamentos, ainda fez mais duas boas defesas. Está impecável.»
 
Ou não fosse ele o guarda-redes menos batido dos campeonatos nacionais.