Chama-se Francisco Barriga, mas toda a gente o conhece por Paquito. Tem dez anos, vive na aldeia de San Serván, em Badajoz, e respira futebol desde que começou a andar.

Palavra da mãe, Mayte Barriga.

Paquito nasceu, porém, com um problema: uma doença genética que lhe afeta o crescimento dos ossos do quadril. Já foi operado quatro vezes, a primeira delas com três anos, e frequentemente é obrigado a fazer fisioterapia. A maior dor, no entanto, nem foi essa.

«É um menino que adora o futebol e dizer-lhe que não pode jogar deitou-o totalmente abaixo. Foi um choque para ele e um motivo de profunda tristeza.»

Em conversa com o Maisfutebol, Mayte diz que, desde que começou a andar, o filho só queria a bola: queria jogar, dar pontapés, marcar golos e sair a correr de braços abertos imaginando receber o amor de uma bancada cheia.

«A doença foi-lhe diagnosticada quando tinha dois anos e meio. Portanto já sabíamos que ia chegar uma altura em que ele ia ter que parar de jogar. Começou a praticar futebol com três anos e jogou até aos sete. Só que, por causa do problema dele, não subia de escalão», acrescenta a mãe.

«Os colegas da idade dele iam crescendo e ele ficava sempre a jogar com os meninos de três anos, para evitar pontapés mais fortes e encontrões mais duros. Quando se tornou benjamim, teve que parar. Não dava para uma criança de oito anos jogar com meninos de três anos.»

Paquito jogava no San Serván, da aldeia de quatro mil habitantes onde vive, e o dia em que foi informado que não podia continuar a jogar foi o dia em que rebentou num pranto.

«Quando o encontrei, estava em casa a chorar e a mãe tentava acarinhá-lo. Mas o menino estava desfeito em lágrimas», conta o treinador Luis Miguel Patiño, mais conhecido por Luismi.

«Conheço-o praticamente desde que nasceu. Esta é uma aldeia pequena e toda a gente se conhece. Treinei-o dois anos, quando tinha 5 ou 6 anos, e sabia desde sempre que ele tinha aquela doença. Mas foi nessa altura em que o encontrei a chorar que ele me disse que não podia jogar nunca mais.»

Luismi sentiu que tinha de fazer alguma coisa. Paquito amava de mais o futebol para ficar longe dos relvados. O treinador, que orientava a equipa de benjamins e a equipa de seniores, lembrou-se então que se não podia correr, aquela criança então com oito anos podia pelo menos mandar correr.

«O Luismi veio falar comigo sobre a possibilidade de ter o Paquito como treinador. O meu filho ficou louco, louco, louco. Já não quis pensar em mais nada», conta Mayte Barriga.

«Quis começar logo a ver jogos, a analisar equipas, a discutir táticas. A partir desse dia, tornou-se uma criança super feliz. Falamos muito, vemos vídeos, explico-lhe os momentos do jogo, o treino ofensivo, o treino defensivo e aos poucos vou-o introduzindo nos sistemas táticos», diz o treinador.

Desde então, Paquito tornou-se adjunto de Luismi, tanto na equipa de escolinhas como nos seniores. Nunca falha um treino às terças, quintas e sextas – a não ser em alturas como esta, em que está a recuperar de uma operação –, gosta de ser o primeiro a chegar ao campo, incentiva os jogadores no balneário, levanta-se para dar indicações durante o jogo.

«Ele está muito contente com a nova função que desempenha no clube e até já fala de tirar o curso de treinador. Mas tem de esperar até aos 16 anos para poder tirá-lo», diz Luismi.

«Agora quer assistir às aulas para poder aprender algumas coisas. Estamos a conversar com a Real Federação Espanhola para saber se o autorizam a estar no curso, mesmo não tendo idade.»

A mãe corrobora tudo o que disse o treinador. Afinal esse é o sonho do filho.

«Nos mês de fevereiro vai haver um curso, ele descobriu-o e convenceu-nos a pedir autorização para assistir às aulas. No entanto, o curso acabou por ser desmarcado, por falta de inscrições suficientes, sendo adiado para o verão. Estamos a falar com a Federação para ver o que dá.»

Sendo certo que pelo menos há uma certeza: Paquito está completamente seguro que é a carreira de treinador que quer agarrar com as duas mãos quando for grande.

Para já sonha um dia seguir as pisadas do herói Luismi e orientar o San Serván, para mais tarde saltar para o Mérida e um dia cumprir a ilusão de treinar o Real Madrid.

«É a equipa que ele apoia. Ainda no último fim de semana o clube lhe enviou uma camisola.»

Mayte Barriga conta, aliás, que não tem faltado carinho ao filho. Paquito tornou-se um caso viral em Espanha, justificou reportagens de televisões, notícias de jornais e até publicações das figuras públicas nas redes sociais. Uma delas, por exemplo, chegou de Casillas.

O guarda-redes do FC Porto enviou um vídeo à criança de Badajoz a dar-lhe força, na cruzada por continuar a viver a paixão pelo futebol por dentro.

«Ele é fã do Casillas. Tem o sonho de o conhecer. Então, através de um primo do guarda-redes, que vive em Madrid, conseguimos chegar a ele e pedir-lhe uma mensagem de apoio. O Casillas foi muito simpático e enviou-lhe um vídeo», sorri a mãe.

«O Paquito guarda religiosamente esse vídeo no telemóvel. Nem pensar em apagá-lo.»

Para já, e enquanto não cumpre o sonho de chegar ao Real Madrid, o jovem de dez anos vai continuando a ser um exemplo para quem pratica futebol em San Serván.

«Vendo a alegria de Paquito, capacitamo-nos da sorte que temos em poder fazer uma coisa simples como é jogar futebol e percebemos que não existem barreiras para cumprir os nossos sonhos», acrescenta Luismi.

«Por isso aqui na aldeia toda a gente tem um grande carinho por ele. É uma inspiração.»