Quantas vezes nos perguntamos quem será aquela pessoa que se esconde atrás de um nickname numa rede social? E quantas vezes nos intrigamos com a admiração e o respeito que um desconhecido nos provoca com as opiniões que emite em vários posts

Esse é o caso de Joaquín Carmona. O maior expert de atletismo em Espanha tem mais de 30 mil seguidores no Twitter, coleciona uma legião de fãs incomum e deixou de publicar as suas histórias e estatísticas no dia 15 de março. Logo no início da pandemia. 

Os seus milhares de leitores deram pela ausência e preocuparam-se. Como se um ente querido deixasse subitamente de dar notícias. Teria sucumbido à Covid-19? Este foi o seu derradeiro tweet. Sobre atletismo, claro.

O mistério adensou-se e durou três meses, até ser agora desvendado. Com um desenlace duríssimo. Joaquín Carmona, o homem que Espanha aprendeu a admirar desde 2010 pelo fantástico conteúdo partilhado sobre atletismo, é afinal um sem abrigo. Perdeu tudo, o pouco que tinha, com a pandemia. 

A história foi descoberta pelo Sport, que localizou o bom do Joaquín num parque em Madrid. Estava sozinho, ao lado de um colchão, de vários cartões de papelão e três livros. Três obras sobre atletismo, naturalmente. 

«Porque desapareci? Bem, no dia 15 de março ainda consegui publicar um tweet na Estação de Atocha. Foi a última vez que consegui ligar o meu velho computador a uma tomada. Depois fechou tudo e fiquei sem bateria. As bibliotecas onde ia todos os dias encerraram com o Estado de Emergência e a polícia bloqueou as minhas tentativas de pedir ajuda.»

A história é tão rocambolesca, e triste, que se torna quase impossível nela acreditar. Mas Joaquín, 46 anos, garante ser tudo verdade. 

«Este colchão onde durmo foi encontrado na rua. Tenho-me alimentado nos caixotes de lixo, de restos e sobras que as pessoas me dão. Albergues? Não, não. Contaram-me coisas horríveis, não quero ser infetado e não me aproximo desses sítios.»

Mas como é que Joaquín Carmona, um homem capaz de apaixonar milhares e milhares de leitores numa rede social, chegou a esta situação de indigência? 

O homem nasceu perto de Bilbau e chegou a Madrid com 19 anos. Fugiu de uma família completamente disfuncional e, sobretudo, do pai alcoólico. «A minha mãe era muito doente e quase não saía de casa. Fartei-me de tudo e procurei uma vida nova na capital de Espanha.»

Em Madrid, Joaquín começou a distribuir publicidade para sobreviver. As coisas correram bem e anos depois passou a gerir um quiosque de gelados na calle Orense. «Um dia fui obrigado a fechar o estabelecimento, por causa da crise. Ainda trabalhei nos Correios, nas cozinhas do Atlético Madrid em part-time, para sobreviver e ter o que comer. Depois, enfim, tenho-me desenrascado.»

Joaquín Carmona é vegetariano - «não preciso de muito para me sentir bem alimentado» -, apaixonado por atletismo e cinema. Fala destes temas com uma rara erudição e assegura que «muito em breve» regressará ao Twitter. «Tenho milhares de leitores, não os posso deixar mal.»

Carmona, o homem que tantos seguem, tem pouco para dar. Um velho computador, uma mente fresca e a bondade. As ruas desertas de Madrid levaram-lhe o acesso à eletricidade - «nem no Metro me deixavam entrar» - e as almas que lhe davam esmola. 

O maior talento de Joaquín Carmona depende da rede wifi. É a escrever sobre o que mais gosta que esquece as dores de uma vida injusta. «Apaixonei-me por atletismo em 1983, a ver os Mundiais de Helsínquia e uma atleta chamada Kratochvilova. Como adoro números, passei a devorar estatísticas e a partilhá-lha há alguns anos no Twitter. Pelo menos sei que faço bem a algumas pessoas.»

Joaquín ainda não sabe, porque continua sem acesso à internet, mas na caixa de mensagens diretas tem centenas de perguntas de admiradores. Alguns são atletas profissionais, gente de prestígio. Perguntam-lhe como está e o que anda a fazer.

A resposta é feia: Joaquín está na rua, é um sem abrigo.  

Quem quiser ajudar Joaquín Carmona a voltar à internet e a uma vida mais digna, só tem de entrar neste LINK e doar a quantia que pretender. Não se admirem se um destes dias a história de Joaquín Carmona chegar aos estúdios de Hollywood.

Ele ainda não sabe, mas já tem na conta bancária mais de dez mil euros.