Em Lubeck, cidade de 200 mil habitantes no norte da Alemanha, há um herói português. Luís Diogo é o braço direito do treinador Rolf Landerl, outro homem com ligações a Portugal, e festeja por estes dias a subida à Bundesliga III.

O feito é notável por vários motivos. O VFB Lubeck esperava há 12 anos por esta alegria e, talvez mais relevante do que isso, estava longe de ser o clube com maior orçamento. Na mesma série estavam as equipas B de Wolfsburgo, Hannover, Werder Bremen e St. Pauli, todas empenhadas em colocar os seus jovens nos escalões nacionais.

Na passada sexta-feira, a federação alemã decidiu não retomar a Regionalliga Nord e promoveu de imediato a equipa que liderava a prova. Festa nas ruas da cidade cuja arquitetura de origem gótica foi elevada pela UNESCO a património da Humanidade em 1987.

À distância, bloqueado pelo encerramento das fronteiras em março, celebra um treinador português. Luís Diogo, 42 anos, antigo adjunto de Luís Castro e Manuel Fernandes em Penafiel, Jaime Pacheco (Arábia Saudita e China), Ljubinko Drulovic (Macedónia, Sérvia e EAU) e Domingos Paciência (Belenenses), além de ter sido treinador principal do Trofense, na II Liga.

Luís Diogo é um dos poucos portugueses no futebol profissional alemão

«A Alemanha é outro mundo. Nos nossos jogos há sempre sete/oito mil pessoas no estádio. Em janeiro fizemos um estágio em Cádiz, no sul de Espanha, e no hotel ao lado estavam cerca de 80 dos nossos adeptos. Viajaram propositadamente para estar connosco durante esse período. É impressionante», diz Luís Diogo ao Maisfutebol, encantado pela possibilidade que teve de entrar «num mercado de difícil acesso».

«O Rolf Landerl foi meu jogador em Penafiel [19 jogos/1 golo na época 2004/05] e mantivemos sempre uma relação de grande proximidade. Já há quatro anos recebi um convite dele para trabalhar na Alemanha, mas na altura estava comprometido com outro projeto. Ele insistiu e na fase final da época passada foi possível aceitar o desafio do VFB Lubeck.»

Luís Diogo fez os últimos dois meses da temporada 2018/19 e adorou o que encontrou no quarto escalão germânico. Boas infraestruturas, mentalidade extremamente profissional e a ambição de subir aos nacionais.

«Não tenho palavras suficientes para agradecer a estas pessoas. Fui pai praticamente na mesma altura e eles nunca colocaram qualquer problema, perceberam que eu tinha de viajar mais regularmente para Portugal. O clube é exemplar e merece voltar às principais divisões.»

VÍDEO: a equipa de Luís Diogo celebra com os adeptos a vitória em Wolfsburgo

Kaiserslautern, Karlsruhe e outros históricos no próximo passo

No momento em que foi decretada a suspensão do campeonato, o VFB Lubeck acabara de vencer em casa do Wolfsburgo B, principal concorrente na luta pela promoção. Luís Diogo não esquece a imagem de uma bancada repleta de adeptos da sua equipa, mesmo fora de casa.

«A cidade é bonita, fica a 40 minutos de Hamburgo e os adeptos adoram futebol. Agora terão a possibilidade de desfrutar da Bundesliga III, uma liga perfeitamente comparável à primeira divisão portuguesa. Estamos a falar de estádios grandes, lotações a rondar os 20 mil espetadores e clubes históricos, como o Kaiserslautern, o Hansa Rostock, o 1860 Munique e o Karlsruhe», explica Luís Diogo.

Luís e Rolf conheceram-se em 2004 no FC Penafiel

E o treinador português continuará no VFB Lubeck? «Há conversações para eu ficar, sim, mas esta situação da Covid-19 veio alterar o paradigma no mundo do futebol. Temos de perceber o contexto do clube no próximo ano e se vale a pena continuar longe da família», sublinha o treinador português, natural da cidade do Porto.

«Tenho um entendimento perfeito com a direção e com o Rolf. Há ideias muito semelhantes sobre a forma de treinar e jogar, encaixamos bem. O projeto é aliciante, sem dúvida. Tenho de ponderar bem, pois a minha mulher tem emprego em Portugal e os meus filhos gémeos, os mais velhos, já andam na escola. Terei de continuar sem eles se ficar na Alemanha.»

Luís Diogo trabalhou pela última vez no futebol português na época 2017/18, quando esteve com Domingos Paciência no Belenenses, e não descarta também um regresso à nossa liga. «Estou disponível para convites, tenho o desejo e a ambição de treinar em Portugal na I Liga. Não há nada como estar em casa, apesar da forma maravilhosa como sou tratado pelas gentes de Lubeck.»