Chama-se Francisco Martins, tem 28 anos e já é conhecido como o personal trainer das estrelas.

Na carteira de clientes tem jogadores como William Carvalho, João Mário, Renato Sanches, Ruben Dias, Ricardo Pereira, Luís Neto, Rafael Leão, Manuel Fernandes, Gonçalo Paciência, Ruben Vezo, Éder, Pedro Mendes, Jovane Cabral, Ruben Vinagre, Miguel Lopes, Gelson Martins, Svilar, Rui Fonte, André Silva, enfim: a lista é muito longa e variada.

O que, para início de conversa, coloca uma dúvida: afinal o que tem Francisco Martins de especial?

«O que eu faço de diferente, além do treino ser um processo individual próprio para cada um, é a relação humana que consigo estabelecer com os atletas. Acima de tudo acho que um treinador hoje em dia, e ainda outro dia ouvi Bruno Lage dizer o mesmo, tem de compreender os atletas e tem de compreender o que eles precisam. Essa é a grande ferramenta de um trabalho consistente.»

Francisco Martins tem tido uma ascensão meteórica, de resto.

Em apenas cinco anos de personal trainer, recolheu uma carteira respeitável de atletas, sobretudo – mas não só – jogadores de futebol de primeiro plano. Os quais têm vindo uns atrás dos outros.

«O primeiro jogador com quem trabalhei foi o Jorge Teixeira, na altura em que ele estava a deixar o Zurique para se transferir para o Standard Liège. Eu já tinha acabado a minha licenciatura na Lusófona e estava a sair de uma formação a nível do treino desportivo», recorda.

«Os jogadores estão muito nas redes sociais e essa é uma excelente ferramenta para expor os nossos conceitos, por isso comecei a publicar algumas ideias no Instagram. O Jorge Teixeira viu o que eu defendia, contactou-me para saber se havia a possibilidade de fazer um trabalho individualizado com ele, porque ia iniciar uma nova fase da carreira no Standard Liège, e eu respondi que sim.»

Ainda em início de atividade, Franscico Martins acabou por fazer os treinos com o central português nos jardins da Parque das Nações.

«Tudo começou aí. A palavra começou a passar de boca em boca, depois vieram o Tiago Gomes e o Manuel Fernandes, e nunca mais parou. Felizmente as pessoas continuam a procurar-me.»

Hoje trabalha no Ginásio Mr. Big Evolution, em Carcavelos, um dos maiores espaços de treino do país, onde conta com a ajuda de outros dois personal trainers para em equipa estudarem cada jogador, cada momento do jogador e em consonância com isso traçarem um plano adequado.

Sem nunca esquecer o essencial, acrescenta: são jogadores de futebol e têm que render é em campo.

«A minha especialidade na faculdade foi na área do treino desportivo, portanto estive sempre ligado a esta área. Para além disso estagiei por exemplo no Manchester United, trabalhei no Oeiras, joguei até júnior no Belenenses onde ganhei Rui Jorge como referência e estou sempre a tentar saber mais de treino de futebol. O que é importante para o trabalho que faço», refere.

«Acima de tudo quero que o jogador no final do jogo me diga: eh pá, senti-me bem, senti-me rápido, senti-me potente. Para isso acontecer, o trabalho tem de ser adequado à fase da época, às características do jogador, às características da equipa, à avaliação que fazemos do momento do atleta. Quando temos atletas que estão off season, por exemplo, podemos aumentar o volume e a intensidade de trabalho. Quando trabalhamos com atletas que estão em campeonato, aí temos de baixar o volume de trabalho e darmos ao treino a intensidade q.b. para ter resultados em jogo.»

No entanto, adianta Francisco Martins, para além do resultado em jogo há mais razões que ele encontra para os jogadores os procurarem tanto. O relacionamento de confiança, por exemplo.

«Claro que a ciência do treino é fundamental, porque é por isso que eles nos procuram - temos de compreender claramente através de análises e avaliações regulares aquilo que temos de fazer -, mas para lá disso é necessário fazer um caminho com o atleta: é necessário que ele perceba de que maneira o treino pode dar-lhes soluções para ele progredir na carreira», revela.

«Muitas vezes, por exemplo, falamos de um atleta que tem muito talento, mas que está a ter dificuldades em impor-se num campeonato fisicamente difícil ou numa equipa em que o processo ofensivo exige maior poder de aceleração. Nós conseguimos perceber claramente que carências existem no atleta e desenhar um trabalho para o melhor nesse aspeto, mas não só: queremos que ele compreenda o trabalho que está a fazer e como isso o vai ajudar.»

No fundo quer que os jogadores tenham a entrega ao trabalho com o personal trainer que ele também tem. Porque essa entrega, o empenho colocado no treino, é essencial para o sucesso.

«A dedicação dos atletas à carreira deles é fundamental: é isso que vai fazer com que tenham mais capacidade para evoluíram na carreira. Por isso falo tanto em educação: é fundamental sabermos educar os atletas. Fazer com que os atletas se dediquem mais à carreira e a pequenas coisas que se calhar antes não davam grande atenção. O descanso, a nutrição e o treino da força», refere.

«Um atleta que tenha mais predisposição para fazer um treino de força vai seguramente prevenir mais lesões e se prevenir mais lesões vai conseguir fazer quarenta jogos numa temporada. O que significa mais clubes atrás dele no fim da época e melhores contratos. Por isso parte da evolução do atleta é educação: compreenderem a importância deste trabalho e terem grande dedicação.»

Geralmente os jogadores com mais sucesso são os que têm mais dedicação. O que faz sentido.

Grande parte deles, de resto, joga no estrangeiro, o que lança a pergunta: como é feito o trabalho à distância? Francisco Martins diz que é fácil, porque o trabalho que se faz é uma coisa estimada por todos, para além de que é normal nas viagens a Portugal os atletas visitarem o ginásio.

«Os jogadores que estão no estrangeiro gostam muito de ter uma base mais sólida do que aquela que adquirem no clube e querem um trabalho que perceba as carências deles e a partir daí possa traçar um trabalho direcionado. Para isso ser bem feito é fundamental a comunicação entre ambos, para o que é necessário criar uma relação de confiança», refere.

«É fundamental que eles consigam compreender o que precisam de trabalhar e, para isso ser possível, procuramos muitas vezes fazer um bom acompanhamento sem estar presentes.»

No fundo, garante, o que interessa é que o jogador se apresente sempre a cem por cento nos jogos: rápidos, potentes e sem debilidades físicas. Esse é afinal de contas o segredo do sucesso.

(artigo originalment criado às 23h54 de 21 de fevereiro)