Rúben Semedo deu uma entrevista a Paulo Battista, na rubrica que o alfaiate mantém no programa Você na TV, na qual recordou os tempos difíceis vividos no ano passado, quando esteve preso cinco meses e acabou inevitavelmente afastado do Villarreal, equipa que o contratara no verão de 2017 ao Sporting.

«Deixei-me deslumbrar um bocado e levar-me por ambientes em que não devia meter-me como jogador profissional. Achava que podia fazer o que quisesse, que não haveria nenhum problema. Todos os problemas que tive foram em ambientes noturnos. Numa semana saía quatro ou cinco vezes. Um dos problemas que tive foi numa discoteca. Discuti com um rapaz da minha idade, a quem ameacei por não querer deixar-me entrar. Ele esbarrou-se comigo lá dentro, ameacei-o e ele meteu-me uma denúncia. O segundo foi também numa discoteca», disse, lembrando depois o pior episódio que o levou à prisão.

«Eu tinha um grupo de pessoas que conheci em Valência numa discoteca. Pensei que eram meus amigos. Algumas vezes ficavam em minha casa ou com os meus carros quando eu vinha para Portugal ver a minha família: confiava neles. Em outubro, um deles pediu-me dinheiro emprestado. E eu emprestei. Depois andou a enrolar-me três ou quatro meses e eu disse-lhe que ele andava a enganar-me. Eu disse-lhe que ou pagava ou chamava a polícia e denunciava-o. Ele tinha cadastro de burlas a outros jogadores e problemas com tráfico de drogas. Uns dias depois ele veio a minha casa para falar e tivemos uma discussão com agressões. Ele pegou numa ameaça que eu fiz e foi à polícia denunciar-me. Montou a história para ser eu o mau da fita. Depois, a polícia vai a minha casa, sou detido e aconteceram uma série de coincidências que não me ajudaram em nada», recordou ainda.

Rúben Semedo partilhou cela com mais três pessoas, uma delas com tendências suicidas. «É assustador pensar que uma pessoa ao teu lado pode tentar suicidar-se com o mínimo material que tenha. Nas primeiras duas, três noites não consegui dormir: pensava que se ele queria sucidar-se, porque é que não haveria de tentar matar-me?»

As memórias de tempos difíceis continuam bem presentes e o defesa, agora com 25 anos, passou-as também para o papel. A partir do terceiro mês detido, começou a escrever um diário. «Escrevia todos os dias e comecei a ganhar gosto. Era ali que podia desabafar: como se estivesse a ter uma conversa com outra pessoa, mas comigo mesmo. (...) O maior erro e a melhor experiência que aprendi na minha vida foi esta experiência.»