Royce White foi escolhido pelos Houston Rockets na primeira ronda do «draft» de 2012, era um extremo promissor que tinha brilhado nos Cyclones, da Universidade de Iowa. Nunca chegou a jogar pelos texanos, nem por qualquer outra equipa, até agora. Estreou-se na NBA 631 dias depois do draft. Até agora jogou nove minutos pelos Sacramento Kings, em três jogos. Não marcou ainda qualquer ponto. Tem apenas 22 anos, mas as dúvidas sobre o seu futuro ao mais alto nível na Liga são muitas.

Aquele draft de 2012 foi o início de um pesadelo, para os Rockets e para a Royce. Por causa de um problema de saúde do jogador, mas uma condição diferente e mais difícil de enquadrar. Royce sofre de um transtorno de ansiedade generalizada, associado a transtorno obsessivo-compulsivo, que se traduz, por exemplo, em medo de voar que conduz a ataques de pânico. A sua doença estava documentada e ele não a escondeu, falou nisso em entrevistas antes do evento de escolha dos caloiros da NBA.

Royce já tinha um passado atribulado. Tanto no liceu como na universidade viu-se envolvido em acusações de furtos e problemas com a justiça. Foi por causa deles que deixou a universidade de Minnesota e foi para Iowa State. Na época 2011/2012 concentrou-se em jogar basquetebol e fez uma excelente temporada, que lhe valeu a tal escolha dos Rockets: foi em absoluto a 16ª escolha desse draft. 

Um resumo dessa época e do que prometia Royce antes do draft de 2012:


Os problemas em Houston começaram quando White quis que a equipa lhe permitisse tratamento de exceção em alguns casos, nomeadamente que lhe permitisse viajar de autocarro nos jogos fora de casa, ou que deixasse um médico independente avaliar a sua condição para jogar. Foi o início de um braço de ferro que se prolongou por toda a época, sem que White jogasse um minuto.

Em janeiro de 2013 chegou a ser suspenso pela equipa, por se ter recusado a jogar pelos Rio Grande Valley Vipers, que funcionam como equipa de reservas dos Rockets, competindo na NBA Development League. Acabou por aceitar e foi-lhe levantada a suspensão. Representou os Vipers até final da temporada, nem sempre de forma pacífica. Chegou a recusar-se jogar por «indicação médica» e a equipa acabou por lhe providenciar um autocarro para as viagens. Ao todo fez 16 jogos, com média de 11.4 pontos, 5.7 ressaltos e 3.3 assistências.

Ao longo dessa época assumiu a luta pública pela maior consciencialização na Liga em relação às questões de saúde mental, em várias entrevistas. «Se eu fosse jogador da NBA agora, sem protocolos e medidas de segurança, estaria a arriscar a minha saúde, a minha vida. O que é que acompanha problemas mentais, se não forem tratados? Abuso de álcool, abuso de marijuana, comportamento suicida. São coisas que eu não estou disposto a arriscar em troca de jogar basquetebol, de ter dinheiro e fama», dizia num documentário da HBO. 
 
Aquele que Daryl Morey, diretor geral dos Rockets, chegou a chamar «a pior escolha de primeira ronda» da história do clube, acabou a carreira em Houston no verão de 2013, quando a equipa chegou a acordo com os Philadelphia 76ers para a sua transferência. 

Integrou os trabalhos de pré-temporada dos 76ers, mas nem chegou a começar a época: foi dispensado numa redução do plantel em outubro.

Esteve parado desde então, até que surgiram os Sacramento Kings. No início de março contrataram-no por dez dias. Começou de imediato a jogar na equipa dos Kings da D League, os Reno Bighorns, jogou de início em quatro jogos, com números razoáveis: 8.8 pontos, 4.3 ressaltos, 2.8 assistências. 

A 18 de março renovou o contrato de 10 dias e ganhou a sua oportunidade na NBA. Sem pressão, diz o treinador dos Kings, que rolam para um final de temporada em que já não têm hipóteses de chegar aos play-off. «Todo este processo entre Royce e os Kings resume-se a ele enquanto jogador de basquetebol», diz Michael Malone, desvalorizando toda a outra bagagem associada ao nome do jogador: «Ele fez tudo o que lhe pedimos nos Reno. Tem sido fantástico, sem qualquer problema. Parece estar pronto, com vontade e capaz de o fazer.»
Na sexta-feira passada estreou-se finalmente, a um minuto do final do jogo com os San Antonio Spurs. Na partida seguinte, uma vitória frente aos Milwaukee Bucks, jogou igualmente um minuto, sem que tenha tido intervenção relevante no jogo.



Os Kings voltaram a jogar em casa nesta quarta-feira, Royce jogou mais sete minutos, sem interferência nas estatísticas, e depois disso iniciam uma série de jogos fora: Oklahoma, Dallas e Nova Orleães. Não se sabe como será com White. Ele evitou falar disso, embora, conta o USA Today, tenha notado que quando foi contratado pelos Kings apanhou um avião de sua casa, em Minneapolis, para Sacramento. 

As coisas mudaram desde Houston, diz. «É muito diferente. Sendo justo para Houston, estavam numa posição diferente. Tinham de esperar por uma série de Oks de pessoas diferentes. Era uma situação complexa. Agora é tudo diferente. A organização é diferente, a cidade é diferente. As pessoas são diferentes, os meus companheiros de equipa também. Eu sou provavelmente o menos diferente de toda a equação», disse no final.
Royce evita fazer grandes previsões sobre o seu futuro na NBA. Mas diz que nunca vai abandonar a sua outra luta. «A minha militância pela saúde mental estará presente quer eu jogue quer não. Se for precisa esta plataforma para para divulgar o que é preciso fazer, é porque as coisas não estão bem», diz.