Há quem lhe chame a casa das seleções, o que não é absolutamente rigoroso: não tem espaço de hotel, não há quartos, portanto, pelo que chamar-lhe casa é um exagero. Será mais o escritório das seleções: um ambiente de trabalho para as equipas nacionais.

Ora começando por aí, pela ausência de um hotel, importa dizer que foi uma decisão consciente dos responsáveis federativos. Palavra do diretor geral Tiago Craveiro.

«Este projeto foi pensando para ter tudo em português, todos os pormenores devem ser portugueses, por isso queremos também servir o tecido comercial em redor. Queremos ter boa vizinhança, por isso não queremos que a comunidade seja uma barriga de aluguer, queremos também servir a comunidade onde estamos instalados», referiu.

«Por outro lado, e ao contrário do que acontece nos clubes grandes, este centro de treinos não está isolado. Num raio de dez quilómetros temos dezenas de hotéis com quem temos trabalhado e com quem queremos continuar a trabalhar no futuro.»  

Perfil do edifício da Cidade do Futebol visto a partir dos relvados de trabalho das seleções

De resto, acrescentou Tiago Craveiro, ninguém pode, «nem deve», dizer que a Cidade do Futebol não virá a ter um hotel no futuro: é uma possibilidade sempre em aberto.

Ora por falar em possibilidades em aberto, interessa sublinhar que a Cidade do Futebol é nesta altura uma obra inacabada. Em vários sentidos.

Em primeiro lugar porque, como se viu, pode no futuro vir a ter um hotel: o que não está para já previsto, todavia. Em segundo lugar porque ainda falta construir dois campos de treinos de futebol de praia, que vão ficar no espaço onde estão agora os estaleiros da obra. E em terceiro porque a obra está de facto inacabada: há muitos pormenores por concluir.

Os operários trabalhavam ontem a todo o gás para ter a Cidade do Futebol o mais próxima possível de concluída antes da inauguração, marcada para esta tarde. É praticamente certo, porém, que as mudanças para a Cidade do Futebol ainda demoraram um par de semanas.

A intenção da Federação passa, aliás, por ter o edifício a funcionar em pleno até ao final de abril. Nessa altura todos os departamentos estarão concentrados na Cidade do Futebol.

Fazem-se os últimos trabalhos na sala de reuniões da Direção da Federação

E que obra é esta, afinal?

Construída no Vale do Jamor, na zona de Queijas, a Cidade do Futebol custou 15 milhões de euros, que é o preço orçamentado inicialmente, eestá paredes meias com o Estádio Nacional: as duas infraestruturas estão aliás ligadas por um túnel, o que permite que no fundo tenham comunicação direta, ocupando o mesmo espaço.

Tem de resto três relvados e meio, os quais estão construídos em duas plataformas desniveladas: a seleção principal vai trabalhar sempre na mais elevada, onde fica um relvado e uma metade de relvado, com uma bancada de apoio onde caberão 300 pessoas.

A bancada de apoio ao relvado número um da Cidade do Futebol, no qual vai trabalhar a seleção principal

Refira-se que a Cidade do Futebol foi pensada para otimizar o espaço e potencializar os trabalhos da seleção principal: as facilidades são tantas que os jogadores chegam do parque do autocarro ao relvado, passando pelo balneário, em menos de trinta segundos.

Há de resto 11 balneários, que vão servir as 22 seleções nacionais que funcionam sob a égide da Federação, uma piscina, um ginásio, um health center, um centro de imprensa, um auditório, dois restaurantes, uma sala de refeições da presidência, enfim.

Construído em forma de T, o edifício da Cidade do futebol distribui-se por três zonas: o centro logístisco (onde estão os armazéns, centro de imprensa, lavandaria, farmárcia…), o centro técnico (onde fica o ginásio, balneários, unidade de saúde e gabinetes dos selecionadores) e a sede da Federação (onde ficam os gabinetes de trabalho de dirigentes e funcionários, mais restaurantes, cozinha, sala de reuniões e estúdio multimédia).

O balneário de apoio ao relvado número um, que vai servir a seleção principal

Refira-se que o centro técnico e o centro logístico têm dois pisos, sendo que no centro técnico o primeiro piso é para estruturas e o segundo piso para os gabinetes dos treinadores: o gabinete de Fernando Santos é o maior, com sala de reuniões incluída).

Já a sede da Federação estende-se por três pisos, sendo por isso o setor mais elevado do edifício. No primeiro piso ficam as estruturas (restaurantes, por exemplo), no segundo pisam ficam os escritórios das secções de arbitragem, justiça e disciplina, mais serviços jurídicos e recurso humanos, enquanto no terceiro piso ficam os gabinetes da direção da Federação, do departamento de marketing, de media e de tecnologia.

Da sede da Federação, bem como de alguns relvados, têm-se uma vista deslumbrante, com o Tejo em fundo: há até um terraço virado para o rio.

A sala de trabalho do departamento de Pessoas e Media da Federação, com o rio ao fundo

Refira-se por fim que a Federação mantém a ideia de descentralizar, pelo que as seleções nacionais vão continuar a viajar (em estágios e em jogos) pelo país. Seria até impossível juntar todas as equipas nacionais num centro de treinos com apenas três relvados e meio.

António Laranjo, coordenador geral da obra, remata que a Cidade do Futebol foi pensada para ser apenas o local de trabalho das seleções enquanto estão em Lisboa. Tendo nascido da conclusão a que se chegou após o estudo de vários outros centros de treino.

«Esta obra passou por dez estádios e vinte e cinco centros de treinos do Euro 2004, passou por visitas às academias dos quatro maiores clubes nacionais, passou pelo centro de treinos do Real Madrid, enfim, é o histórico de vários projetos analisados», referiu.

É o futuro, portanto. Seja bem-vindo.