Holanda-Argentina, 21h, RTP1
Arena Corinthians, em São Paulo
Árbitro: Cuneyt Cakir (Turquia)


Holanda-Argentina é história. Já valeu um Campeonato do Mundo, já ajudou a definir o acesso a uma final, já teve um golo de sonho a decidir. Repete-se para o Mundial pela quinta vez nesta quinta-feira, no Arena Corinthians, para decidir quem se junta à Alemanha na final do Brasil 2014. Que legado deixará agora à História?

Vale a pena ficar para ver, isso é garantido. Como dizia Louis Van Gaal antes do jogo, quando lhe falaram do dilema que viviam os pais na Holanda, com um jogo a começar às 22h locais, se deviam ou não deixar os filhos permanecer acordados até perto da uma da manhã, se voltar a haver penáltis como aconteceu nos quartos de final da Holanda frente à Costa Rica.

«Eu deixaria sempre os meus filhos ver o jogo, porque é absolutamente único», disse o selecionador holandês na conferência antes do jogo: «Eles não vão dormir de qualquer maneira, porque estarão tão nervosos e ansiosos para saber se a Holanda ganha. Portanto, o meu conselho aos pais é que deixem as crianças ver.»

Van Gaal não acredita que venha a haver oportunidade para toda a gente se deitar mais cedo. Espera um jogo fechado, duro. «As probabilidades é que ainda dê para mais tarde, porque a Argentina está num nível mais alto que a Costa Rica», disse.

Se se mantiver a tendência poupada dos quartos de final (e não o desequilíbrio brutal que marcou a meia-final entre Alemanha e Brasil), é de admitir que sim, que o jogo dure.    

De um lado está uma Argentina que chegou até aqui com uma atitude conservadora mas sólida, apenas três golos sofridos até agora, que tem por rosto um Lionel Messi ciente de que esta é a sua grande oportunidade de o seu nome ficar marcado de vez na história do Campeonato do Mundo. Leva quatro golos para já, mais um do que cada um dos homens que são referência do ataque da Holanda, Van Persie e Robben. A Laranja era a equipa mais goleadora do Mundial, a par da Colômbia, antes de a Alemanha fazer o que fez ao Brasil, mas também tem ganho solidez lá atrás ao longo da prova, e mostrado uma notável capacidade de adaptação às circunstâncias.

Pode ter que o fazer de novo. É que a Laranja tem uma dúvida de última hora. Robin Van Persie está doente, com dores de estômago, e o treinador disse que apenas ao longo do próprio dia do jogo decidirá se coloca em campo o seu capitão. O lateral Jaanmat apresentou os mesmos sintomas e também treinou à parte. Por outro lado, Vlaar e De Jong, que vêm de lesões, treinaram integrados no Pacaembu. Van Gaal ainda não dá a sua recuperação como adquirida, mas as indicações são positivas. Certeza, há uma. Krul, o guarda-redes que saiu do banco para defender os penáltis frente à Costa Rica, não jogará de início.

Van Gaal reafirmou-o na véspera do jogo, insistindo que tem toda a confiança em Cillessen: «Jogar o Krul de início nem me passou pela cabeça. É algo que excluí desde o início, porque Cillessen está a fazer um grande trabalho. Marcar penáltis é o que os outros fazem melhor, por isso escolhi o Krul.» Ou seja, está em aberto que se repita a cena: ou, vá-se lá saber, que desta vez até possa ser o Michael Vorm, o terceiro guarda-redes, a entrar. 

Na Argentina, já se sabe, não joga Di María, que se lesionou nos quartos de final frente à Bélgica. Alejandro Sabella deve recorrer ao benfiquista Enzo Perez, que rendeu o jogador do Real Madrid em Brasília. Enzo diz que até tem dormido mal perante a responsabilidade e a expectativa do momento, sabendo também os argentinos que será sempre diferente jogar sem «Angelito», que tem sido o grande desequilibrador da albiceleste.  De volta está o sportinguista Marcos Rojo, que falhou os quartos de final por castigo.

A história de Argentina e Holanda no Mundial começou em 1974. No início da segunda fase, numa competição que não teve meias-finais. Ganhou a Laranja por 4-0, na caminhada para a final. A Holanda de Cruijff e do futebol total, recorde-a aqui.



Quatro anos depois, a final. O Monumental de Buenos Aires a arder num Campeonato do Mundo de que a ditadura argentina tirou ostensivamente partido, muita tensão no relvado. A Argentina adiou o início do jogo, protestando a proteção de plástico que René van de Kerkhof usava no pulso, uma manobra dilatória para aumentar a pressão sobre o rival. Venceu por 3-1, o único dos confrontos mundialistas que a albiceleste venceu até hoje.

Depois, 1998. Quartos de final, 1-1 aos 89 minutos e depois Dennis Bergkamp fez magia. 2-1, a Holanda seguiu até à meia-final, perdida para o Brasil.

Menos história em 2006, o 0-0 na última jornada da fase de grupos, ambas as equipas em frente, num confronto onde estiveram já vários dos nomes que serão protagonistas hoje em São Paulo: Van Persie, Sneijder ou Kuyt pela Holanda, Mascherano, Messi ou Maxi Rodríguez pela Argentina.

Desta vez, a parada é bem mais alta. Vamos ver.