Uma vida dedicada ao futebol, é o que se pode dizer de Bobby Robson. Um gentleman que fez parte significativa da sua carreira em Portugal, onde treinou o Sporting e o F.C. Porto. Publicada originalmente em 2005, sob o título «Bobby Robson - Farewell but not Goodbye - My autobiography», a autobiografia surge agora em versão portuguesa sob a chancela da «Prime Books».
São 334 páginas recheadas de revelações, bom humor e sentido crítico. Das origens humildes, onde teve de trabalhar nas minas de carvão, passando pelos tempos de jogador e terminando como treinador. Chama «patife» a Maradona e «louco» a Sousa Cintra, não se esquecendo que Mourinho lhe foi leal durante cinco anos.
As revelações são inúmeras, por isso o livro é altamente recomendável a quem gosta de futebol. Figuras difíceis de lidar como Romário ou o benfiquista Laurent Robert têm direito a comentários abundantes, num mundo de personalidades, com direito de passagem obrigatória pelo Ipswich, PSV Eindhoven, selecção inglesa, Barcelona e Newcastle.
Para aguçar o apetite, ficam alguns excertos
«Não foi a mão de Deus. Foi a mão de um patife. Deus não teve nada a ver com aquilo. O Mundo engoliu a descrição poética que Maradona fez do golo que nos deixou de fora do Campeonato do Mundo de 1986, mas eu não. Nesse dia, Maradona saiu para sempre diminuído aos meus olhos». Assim começa o capítulo 9, intitulado «Um gancho de esquerda», em que «Sir» Bobby Robson aborda o golo infame de «El Pibe» à Inglaterra. Pouco depois, reconhece que Diego foi «genial» no que restou do Mundial, mas nunca lhe irá perdoar tal falta de fair-play.
Em Portugal
Os tempos de Sporting trazem momentos hilariantes, para além do encontro com Mourinho: «O meu primeiro encontro com aquele que viria a ser o manager do Chelsea teve lugar no Aeroporto de Lisboa, onde ele estava ao lado de Sousa Cintra, o presidente do Sporting. Cintra não falava uma palavra de inglês, razão pela qual se fez acompanhar daquele jovem e atraente ex-professor de liceu, que falava muito bem inglês e tinha um diploma de treinador que lhe conferia uma graduação mínima no futebol português. (...) Basicamente, José era um tradutor com algumas noções de futebol. Era inteligente, atento e tinha força de vontade. (...) Ele cresceu comigo. Tive-o debaixo da minha alçada durante cinco anos. Era excepcionalmente leal e estava sempre disposto a proteger-me».
A comunicação com o presidente era, no mínimo, surreal. «O Sporting estava num estado lastimável. O presidente, viria eu a descobrir mais tarde, era completamente louco, extremamente emotivo e muito instável. (...) Sousa Cintra tinha a mania que era um grande caçador de talentos escondidos», conta, apontando um episódio delicioso nas vésperas de um jogo da Luz, quando pretendia observar os encarnados em acção: «Não vais nada ao Estádio da Luz. Nós odiamos aquela gente. Tu és o nosso treinador e não tens nada que ser visto nas instalações do Benfica. Proíbo-te de ires lá».
A novela terminou bruscamente: «A forma como tudo acabou foi espectacular: o presidente agarrou no microfone do intercomunicador do avião, na viagem de regresso a Portugal depois de um jogo fora com o Casino de Salzburgo, e anunciou a toda a gente que o treinador seria afastado no dia seguinte. (...) Aquele presidente maluco estava para ali exaltado a dizer: 'Fomos eliminados das competições europeias, isto é um desastre para o clube, tenho que te mandar embora'».
As histórias nunca mais terminam e com toda a certeza não cabem neste texto, por isso nada como comprar o livro. Há espaço para só mais uma frase: «Quando Cristiano Ronaldo se aperceber que o futebol é um jogo de passes, além de um jogo de fintas, vai ser um grande jogador.»
Título: «Bobby Robson, a minha autobiografia»
Autores: Bobby Robson, com Paul Hayward
Páginas: 334
Editora: Prime Books
Preço: €18.80