É um livro que não vai agradar a todos e não é aconselhável a menores de 18 anos, pela violência da palavra, mas trata-se de um texto, no mínimo, diferente. E que se encaixa na perfeição no propalado movimento ultra, que não deixa de ser uma fatia importante do futebol. «Fernando Madureira ¿ O líder» é editado por «O Gaiense» e retrata a vida de um dos responsáveis pelos «Super Dragões», a principal claque que apoia o F.C. Porto.
O produto final tem 272 páginas e é escrito pelo jornalista Filipe Bastos, que passou para papel a visão de uma figura controversa, reconhecível por qualquer dragão. Desde os primeiros passos na Ribeira até Yokohama, passando por Sevilha, Gelsenkirchen e os palcos dos inimigos. O ódio ao Benfica tem particular atenção e não é disfarçado, assim como a explicação para o crescimento de um grupo que nasceu em 1986 e que cedo se afirmou como fiel seguidor do clube.
Sem subterfúgios, censuras ou refúgios na linguagem, a história do «Macaco», como é conhecido no meio, promete revelações escaldantes, não só das viagens mais conturbadas, mas também a propósito das relações com dirigentes, jogadores e treinadores. Ninguém ficará indiferente, até porque é sabida a influência que os «Super» assumem em momentos cruciais da vida do clube, começando na «escolta» a Pinto da Costa ao Tribunal de Gondomar e terminando na pressão ao plantel nos momentos de menor fulgor, como sucedeu por várias vezes na época passada.
Sem cair em falsos moralismos, Filipe Bastos optou por utilizar no texto a «linguagem de Super Dragão, mesmo com asneiras, pois só assim é possível retratar fielmente o que se passa na claque. De outra forma seria um livro igual a outro qualquer». Fica um excerto do capítulo «Turbulência em Turim», com as devidas partes sensíveis devidamente truncadas para não ferir os mais sensíveis:
«Houve uma situação engraçada com três ciganos da claque do Bairro S. João de Deus. O Toneca, o Matreco e o Isidro são muito medrosos e têm medo de andar de avião. Como era a primeira vez que tinham andado de avião, sempre que o avião levantava e aterrava e, mesmo durante a viagem, eles iam muito quietos. Parecia que iam colados ao banco.
- Ai Macaco, a minha mulher disse que tinha sonhado que o avião ia cair
- Não vai cair nada. Ela só disse isso para tu não vires, comecei a gozar com eles
Como sempre, tinha de haver confusão e o Tiago Preto e o Xuxa, da Ribeira, pegaram-se. Quando dou fé, tinham feito um ringue no meio do avião, com tudo à rodinha e eles mesmo à porrada a atirarem-se um ao outro, contra as janelas. O avião começou a abanar por todo o lado e o ciganos a entrarem em pânico.
- Aí! Ó Macaco anda aqui, que a minha mulher sonhou que isto ia cair
-Ouçam lá¿ vocês são malucos, ou quê? Podem causar aqui um acidente¿
O resto da viagem decorreu normalmente até à saída. Contudo, quando aterrámos, o Corpo de Intervenção estava à nossa espera para que o SEF nos revistasse, porque tinham desaparecido os coletes salva-vidas do avião!»
O exemplo «soft» fica à consideração dos leitores, que, caso pretendam comprar o livro, terão de o fazer a partir do final desta semana, desembolsando 14,80 euros.