«Uma cidade de futebol» podia ser um epíteto atribuído a inúmeras cidades do Mundo. Este tem um destino muito concreto. Lisboa. E é desta forma que a capital portuguesa é anunciada na exposição de fotografia que a partir desta sexta-feira e até 29 de Agosto pode ser visitada, qual jogo dividido em duas partes, no Arquivo Fotográfico Municipal e na Cordoaria Nacional.
A fotografia da primeira selecção de Lisboa, datada de 1911, é o mote para começar a ter imagens de uma viagem que só termina nos dias de hoje com o trabalho de António Júlio Duarte, Paulo Catrica e Pedro Letria. Mas, antes, vale a pena ver o espólio do Arquivo Municipal presente no projecto idealizado pelos três fotógrafos. «As poses [que] revelam a descontracção de um qualquer grupo excursionista que deseja, depois do jogo, recordar o seu passeio» podem ver-se em pleno na «Equipa Suplementar do Sport Lisboa e Benfica», captada em 1910 por Joshua Benoliel.
Ou, simplesmente, apreciar as imagens dos grandes calções, bigodes ainda maiores e a alternância entre as camisolas muito justas ou as camisas, que marcavam uma época em que as balizas eram «adornadas» com redes que pareciam de pesca... um «conjunto de portfolios que pudessem mostrar em termos visuais imagens sobre o futebol de outros tempos», frisa Paulo Catrica, o comissário da exposição.
Em construção até hoje
A revisitação continua no Arquivo Fotográfico com o destaque devido ao «Porfolio de Winslow atribuído a Amadeu Ferrari», que retrata a Selecção Nacional no Mundial de 1966, em Inglaterra. Uma visão de uma equipa fora de campo que, algumas vezes, posa para a fotografia, mas fá-lo de modo descontraído; em cadeiras de praia nos jardins, ou em passeio pelas ruas do subúrbio de Manchester.
Passando do Arquivo para a Cordoaria Nacional é-se (re)introduzido na viagem pelo tempo por debaixo de uma estrutura de madeira que imita as bancadas de um estádio entrando no túnel de acesso ao «campo» onde se vai desenrolar a «segunda parte».
Mais extensa, com direito, até, a um prolongamento, esta parte regressa de novo ao passado mais longínquo, tempo de quando ainda se andava «de baliza às costas», mostrando captações dos primeiros jogos nos primeiros campos, como o das Salésias, que é retratado desde 1909 até à sua demolição (das bancadas), em 1961, por Artur Goulart, e visto actualmente (em 1998) por Paulo Catrica.
O lado não visível
Os estádios, a sua construção «em massa», pelas décadas de 1930, 40 e 50 até aos dias de hoje, com os novos palcos lisboetas do Euro 2004, são passados em revista, mas, mais do que isso. Os próprios repórteres fotográficos não escapam à objectiva de Ferrari num plano de abrangência onde «há 40 ou 50 anos de distância, as fotografias eram a única imagem do jogo», como explica Paulo Catrica. «Hoje, os tempos [em que se vê o futebol] são outros, há a televisão, vêem-se até as discussões com os árbitros, mas não há uma fotografia dentro de um balneário ou de uma equipa feminina a treinar», refere o fotógrafo.
É o que se pode, então, ver pelo trabalho de António Júlio Duarte e Pedro Letria; que vai até ao lado existente mas mais escondido do futebol e que é revelado por Paulo Catrica que deixa guiar-se pela «paixão completa» por este deporto praticado também nos campos do Alhandra ou do Sacavenense, nitidamente vincados pela cintura industrial que envolve a grande Lisboa.
«Estas coisas podem ser vistas com a candura e a energia que têm e que não há numa Superliga», explica o comissário da exposição. Por isso, Catrica espera que esta «cidade de futebol» seja visitada por «públicos muito diferentes». Ou seja, explicita, por «pessoas que gostem de futebol» e que se deixem levar entre as «fotografias históricas e mais fáceis de ver pela emoção que despontam» até às «fotografias mais analíticas de jogos de miúdos que não têm a atracção dos media, mas que são muito importantes».