Portugal devia evoluir. Devia olhar para si mesmo e olhar para fora. A opinião de Hugo Oliveira, o primeiro treinador de guarda-redes português licenciado pela UEFA, é que o futebol nacional devia olhar para países por vezes culturalmente tão próximos como é o Brasil. E aprender. Porque o segredo do futuro está na formação do presente. De guarda-redes, naturalmente, mas antes de mais de quem possa formar os guarda-redes.
O princípio de treinadores de guarda-redes que foram guarda-redes é um mau princípio?
Não, é um bom princípio. Mas é necessário que eles tenham formação para que sejam melhores. O Pelé, o Eusébio, o Maradona foram bons treinadores? O Mourinho foi um grande jogador? Por isso o facto de ter sido um grande guarda-redes não significa que se vá ser um bom técnico de guarda-redes. Uma coisa é fazer, outra é explicar. O futebol está sempre a evoluir e há pessoas que pararam no tempo. Nos últimos dez anos a metodologia de treino mudou muito e ainda há muita coisa a ser feita.
Por exemplo?
Temos de apostar na formação de guarda-redes. É preciso criar mais acções de formação para os treinadores e depois passar a formar os guarda-redes. Temos de criar uma escola de treinadores. Vou dar duas razões. Os Estados Unidos, por exemplo. Em 2000 criaram o projecto Estados Unidos 2010, pegaram em jogadores de 14 anos para os trabalhar e agora vemos um Tim Howard, um Brad Friedel e outros. A outra razão chama-se Brasil. Eram criticados pela pouca qualidade dos guarda-redes, a CBF criou uma escola específica para a posição e agora têm fantásticos guarda-redes. As coisas não acontecem do nada. Têm de ser pensadas e depois trabalhadas. Devíamos olhar para o trabalho feito nesses países.
Portugal ainda está muito longe da Europa nesse aspecto?
Está. O treinador de guarda-redes em Portugal o que faz? Coloca uma bateria de bolas e toca a chutar para lá. Depois dizem que foi bom ou que foi mau. Mas porque é que foi bom? Porque é que foi mau? Porque é que as mãos estão assim e deviam estar de outra maneira? Porque é que está um passo atrás e devia estar um passo à frente? O guarda-redes tem que saber que deve fazer assim porque assim é que está bem. E que se fizer bem pode melhorar dez por cento a sua capacidade. Mas eu pergunto, há muitos treinadores em Portugal que sabem fazer isto?
Era isso que ia perguntar¿
Acho que não há. Há muitos que sabem o que é estar lá dentro e sabem como faziam bem, mas não sabem explicá-lo em treino com um exercício com objectivo específico. Trabalhamos mais do ponto de vista físico e esquecemos o ponto de vista técnico-táctico. Podemos ter guarda-redes que fazem voos com uma extensão de dois metros, ou dois metros e meio, mas que não se posicionam correctamente ou que não fazem bem o bloqueio da bola. Eu não quero ver o meu guarda-redes a fazer grandes defesas, quero é ver o meu guarda-redes a evitar que seja necessário fazer essas grandes defesas.