A aventura de Hulk no F.C. Porto não será a primeira experiência do jogador em Portugal. Há sete anos, em Dezembro de 2001, o brasileiro veio por uma época e meia para bem perto do Porto. Mais concretamente par o Vilanovense, de Vila Nova de Gaia. Na altura tinha apenas quinze anos. Ainda com idade de juvenil, jogou pelos juniores da formação gaiense, deixou boas indicações, mas teve que regressar.
Voltou para o Brasil por problemas burocráticos. Hulk tinha vindo sozinho, entretanto a direcção do clube mudou e ninguém assumiu a responsabilidade de ficar como novo tutor do jovem. José Lopes foi o treinador da altura e lamenta que Hulk não tenha ficado. «Ainda me ofereci para o levar para minha casa, dar dormida e comida, mas ninguém quis assinar o termo a responsabilidade de tutória e ele não pôde ficar», diz, em diálogo com o Maisfutebol.
Ele também não o quis fazer, até porque garante que essa responsabilidade era dos dirigentes, e Hulk teve mesmo que voltar ao Brasil. Em Vila Nova de Gaia deixou porém grande imagem. «Era um excelente jogador», conta o treinador. «É esquerdino, muito rápido e tem um remate fortíssimo. Já nessa altura batia muito bem os lances de bola parada. Ainda era juvenil, mas jogava pelos juniores e marcava imensos golos».
Uma experiência no «Big Brother»
Por essa altura, Hulk tornou-se em mais um elemento numa casa do Vilanovense, no Largo Soares dos Reis, bem no centro da cidade. Cinco quartos, oito pessoas lá dentro, nas condições possíveis. Foi-se ambientando à sua nova família, formada por outros jovens que perseguiam um sonho. Entre esse núcleo, o nome mais consagrado é o de Nélson (Benfica).
O lateral encarnado tinha mais três anos que Givanildo, mas tornaram-se amigos quando partilharam o mesmo tecto no apartamento e o miúdo brasileiro tornou-se até apadrinhado por Nélson na primeira experiência longe do Brasil. Conta quem sabe que Nélson e Hulk eram melhores amigos e que o benfiquista fazia um grande esforço por integrar o portista. Hulk também se cruzou com outros jogadores que, coisas do futebol, não chegaram ao topo. Léo andava por lá e chegou a passar pelo F.C. Porto B, havia também Inácio, Luizinho e Edu Castigo, entre outros. Este último, actualmente no Penafiel, revelou ao Maisfutebol as dificuldades por que Hulk passou no Vilanovense.
«Éramos oito pessoas numa casa, como um lar que os grandes têm, mas com muito menos condições. Ele chegou cheio de sonhos à nossa chamada, a que chamávamos de Big Brother. O presidente do Vilanovense acreditava muito no seu talento, de vez em quando davam-lhe 100 euros ou isso, mas só dava para ele guardar, para ajudar a família. Depois, ia pedir comida ao Motoca», relata Edu Castigo.
Motoca, Sr. Artur, era o motorista do clube de Vila Nova de Gaia. Apesar dos parcos recursos, foi como um pai para essa fornada de talentos. No seu restaurante, serviu inúmeras refeições para enganar a fome dos miúdos. Edu Castigo recorda a primeira experiência de Hulk. «Chegou lá a dizer: preciso de comer, senão vou morrer à fome. O Motoca respondeu: morre à vontade, não sou teu pai. Claro que depois lhe deu de comer, era brincadeira. Mas o Hulk chegou a casa a dizer-me que, mal ouviu aquilo, foi logo para cima dele. Coitado do Motoca», remata Edu, entre gargalhas.