Não há palavras para descrever este momento de forma de Cristiano Ronaldo. Um 2013 de sonho, acima de todos os outros. Um Ibrahimovic de bom nível não chegou para travar o melhor Ronaldo de sempre.

Recuemos no tempo. Lembra-se de uma arrancada do português a um quarto-de-hora do final? Um toque de Lustig, CR7 aguenta, adianta a bola e tenta dar sequência ao lance, deixando-se cair segundos mais tarde? Howard Webb manda seguir.

A Suécia chegara ao 2-1 pouco antes. Ibrahimovic mostrara a sua melhor face. Ronaldo ficava caído, a seleção local fechava os olhos, ignorava e virava-se para a baliza de Rui Patrício. Portugal tremia, o nervoso miudinho ia crescendo.

Cristiano Ronaldo levantou-se, irritado. Os génios adoram uma boa provocação. Ibra ficou agastado com um estalo involuntário de Pepe e vingou-se com dois golos. Na resposta, com o mesmo ingrediente, Ronaldo completou o seu hat-trick. Eliminatória resolvida, Suécia rendida ao talento.

Ibrahimovic a deixar o tempo correr

O Maisfutebol avaliou os dois craques no jogo do Estádio da Luz e decidiu seguir a mesma lógica, perante a possibilidade de uma inversão de papéis. Afinal, Zlatan Ibrahimovic fizera apenas um remate em Portugal, num jogo em que o empate era objetivo claro e assumido.

No Friends Arena, a Suécia entra mal, sem pressão imediata sobre o adversário, demonstrando pouca capacidade para contrariar a circulação portuguesa.

Ao terceiro minuto de jogo, um sinal. Pepe recebe a bola em zona defensiva e espera. Deixa o tempo correr, sem pressão. Ibrahimovic está a dez metros. Não pressiona. Não é seu hábito nem achou que a situação o justificasse.

O avançado do Paris Saint-Germain surgia agora em zonas mais recuadas, procurando aumentar o fluxo ofensivo da sua seleção. Erra pouco, arriscando em igual medida. Após o primeiro quarto-de-hora, um lampejo, uma finta vistosa a arrancar uma falta.

Do outro lado, Ronaldo acumulava ocasiões de golo. Parecia jogar em casa, imune à pressão. Começa com um remate sem sentido, ao lado. Depois, na sequência de um canto de Moutinho, um cabeceamento por cima. Segue-se um remate com o pé esquerdo, para defesa segura, e outro com o direito, em excelente posição, errando o alvo.

Ao minuto 38, CR7 foge na direita e oferece o 0-1 a Hugo Almeida, que falha. Ainda antes do intervalo, mais um remate, após passe atrasado de Nani. Por cima. Pontaria por afinar.

Fez as contas? Cinco ensaios do português na etapa inicial, apenas um de Ibrahimovic. Muito pouco. O sueco destacou-se nos minutos finais, primeiro com uma assistência para remate de Kallstrom. Depois, com a sua primeira tentativa. Pontapé de canto, bola perdida na área de Portugal, remate perigoso por cima.


Segunda parte para mais tarde recordar

0-0 no arranque da segunda metade. O calculismo parecia superar a arte. Puro engano. Ibra dá o tiro de partida, num lance em que finta dois adversários, vê Miguel Veloso à procura de um pontapé de baliza e faz o carrinho para servir um companheiro de equipa.

A resposta portuguesa é avassaladora. Grande passe de João Moutinho, o génio que fica  escondido na sombra de Ronaldo, e o capitão português a ganhar a Martin Olsson, uma vez mais. Tal como aconteceu na Luz, o lateral sueco não teve capacidade para travar o adversário direto. Corrida desenfreada, finalização de classe com o pé esquerdo,o Brasil mais perto.

Zlatan Ibrahimovic solta-se no momento adverso. Até então, servira de elemento de transição entre o meio-campo e o ataque, sem assumir plenamente as suas responsabilidades. Ao minuto 67, disputa uma bola junto à linha de fundo e ganha um canto. Queixa-se de uma bofetada de Pepe e avisa o luso-brasileiro. Não gostou.

Bruno Alves paga a fatura. Na sequência do canto, o avançado do PSG ganha a luta de braços (em falta?) e cabeceia para o fundo da baliza. O alvo da sua fúria é evidente. Olha para Pepe e insulta-o. O internacional luso ignora.

É o melhor momento da Suécia. Miguel Veloso faz uma falta desnecessária à entrada da área e Zlatan agradece. Um remate seco, com violência, em linha reta. As pernas de Moutinho e as mãos de Rui Patrício não conseguiram evitar o 2-1.

A noite era de Cristiano Ronaldo

O sofrimento português dura quatro minutos. Ronaldo explode, uma vez mais. Agora a passe de Hugo Almeida, uma desmarcação no momento certo. Em velocidade, ninguém consegue acompanhar o português. Novo remate com o pé esquerdo, cruzado.

A noite era lusitana, a noite era de Cristiano Ronaldo. Ao minuto 79, já com a Suécia desorientada, João Moutinho volta a aparecer para nova assistência de grande nível. Desta vez, o capitão finta o guarda-redes, foge para a direita e conclui com o seu pé mais forte.

Ibrahimovic baixa os braços. CR7 não, quer ainda mais. O hat-trick coloca-o a par de Pauleta como o melhor marcador da história da seleção. Mas chega? Já em período de descontos, com o público local a abandonar o estádio, o português utiliza o peito para ganhar um duelo de forma impressionante. Desta vez, porém, atira ao lado. Seria o póquer, o prémio para uma noite de sonho.

O mundo aos pés de Cristiano Ronaldo. O Brasil à espera, a Bola de Ouro ao seu alcance. Joseph Blatter, disposto a encerrar a polémica, dá os parabéns a Portugal e lembra que o seu voto não conta. Um pormenor delicioso, simbólico, ao cair do pano de uma jornada inesquecível.
Números finais de Ibrahimovic e Ronaldo

Intervenções no jogo
Ronaldo: 41
Ibrahimovic: 45

Passes certos
Ronaldo: 17
Ibrahimovic: 31

Passes errados
Ronaldo: 2
Ibrahimovic: 7

Perdas de bola
Ronaldo: 9
Ibrahimovic: 1

Recuperações
Ronaldo: 2
Ibrahimovic: 0

Remates
Ronaldo: 12
Ibrahimovic: 3

Faltas cometidas
Ronaldo: 1
Ibrahimovic: 2

Foras-de-jogo
Ronaldo: 1
Ibrahimovic: 0