Jogar em casa a mais de 30 quilómetros. Na próxima época, será esta a sina da Oliveirense.

De regresso à II Liga, após uma temporada no Campeonato de Portugal, o clube de Oliveira de Azeméis anunciou esta semana que vai disputar os seus jogos em casa em 2017/18 no Estádio Municipal de Aveiro. Tudo porque o velho Parque de Jogos Carlos Osório deixou de cumprir os requisitos para receber jogos das competições profissionais.

«Fomos apanhados de surpresa. Alertaram-nos de que o nosso estádio já não podia receber jogos da II Liga, de acordo com uma alteração aprovada numa  recente assembleia-geral da Liga, quando estávamos a lutar pela subida», conta ao Maisfutebol Horácio Bastos, presidente Oliveirense, reconhecendo que as melhorias obrigam a uma intervenção profunda no estádio que ainda não está decidida: «Falta iluminação, mais camarotes e mais lugares na tribuna de imprensa e melhorar os balneários. O problema é a iluminação, que obriga a um investimento de 350 ou 400 mil euros. Ora, a mexer, mexemos em tudo. Estamos a estudar projetos para nos decidirmos por uma grande remodelação do estádio ou pela construção de um estádio novo noutro local.»

Não são de agora conhecidas as debilidades do estádio de Oliveira de Azeméis. Em novembro de 2009, o Oliveirense-FC Porto da Taça de Portugal foi inclusivamente adiado, devido às péssimas condições do relvado, tendo sido realizado dois meses mais tarde em Águeda.

Imagem do Oliveirense-FC Porto da Taça de Portugal de 2009/10 

Desta vez, para receber os jogos da II Liga, restavam três alternativas à Oliveirense: além do Municipal de Aveiro, só os estádios do Feirense e do Arouca.

«Apesar de o estádio do Feirense ser bem mais próximo, cerca de metade do caminho, Aveiro é a melhor opção, porque dos três é o menos utilizado e aquele que tem melhores condições. Vamos animar aquele estádio, que tem estado vazio nos últimos tempos», promete Horácio Bastos.

Seleção e taças ajudam na ocupação

Na verdade, o Municipal de Aveiro, um dos dez recintos construídos para acolher o Euro 2004, tem estado órfão do inquilino que lhe parecia destinado.

O Beira-Mar, que desde 2003/04 ali jogava, deixou este grande palco de 30 mil lugares a cerca de sete quilómetros do centro da cidade em 2014/15, quando caiu para os distritais, e desde então joga no velhinho e bem mais central Mário Duarte.

Apesar da aparente preferência dos adeptos auri-negros por esta solução, o regresso à velha casa será no entanto sol de pouca dura. Os terrenos do estádio serão cedidos para a ampliação do Hospital de Aveiro e em 2019 o Beira-Mar terá de voltar ao Municipal.

O Municipal de Aveiro recebeu apenas dois jogos do Euro. Tantos quantos o de Leiria. O Estádio do Algarve além de dois jogos da fase de grupos recebeu ainda um dos quartos-de-final.

Dos dez estádios do Euro estes são designados «elefantes brancos»: os recintos têm sido menos rentabilizados e os que têm uma utilização mais intermitente. Ao contrário dos outros sete (Dragão, Bessa, Guimarães, Braga, Coimbra, Luz e Alvalade) estes três estádios não têm tido nos últimos anos uma equipa a jogar nas competições profissionais.

Nos últimos anos são sobretudo as finais da Taça da Liga e da Supertaça e alguns jogos da seleção que têm trazido o futebol de elite a estádios construídos para esse efeito.

O Algarve tem servido de casa ao Louletano (além de Farense, Olhanense e Portimonense, pontualmente), a jogos particulares de seleções e clubes em estágio e sobretudo às finais da Taça da Liga como casa emprestada à recém-criada seleção de Gibraltar, que usa o palco de 30 mil lugares nos jogos oficiais nas fases de qualificação. Em Leiria, alguns jogos da seleção e a União, clube da terra que caiu para os escalões não profissionais, ajudam a manter a ocupação.

No caso de Aveiro, o Municipal acolheu sete das últimas oito edições da Supertaça Cândido de Oliveira.

O estádio aveirense serviu de casa ao Gafanha na receção ao FC Porto, na 3.ª eliminatória da Taça de Portugal da última época. Em 2015/16 foi também casa do então recém-promovido Tondela, na receção aos três grandes e também do Arouca na receção ao Benfica (jornada 2).

Foi uma situação semelhante à que aconteceu em 2011/12, quando o Feirense então também a fazer obras de requalificação no seu estádio Marcolino de Castro, na sequência da subida à I Liga, jogou até à 9.ª jornada em Aveiro.  

Desta vez, é a Oliveirense que vai servir-se do estádio projetado por António Taveira, cujos custos de financiamento e manutenção se tornaram uma dor de cabeça para a autarquia (a ponto de ter sido equacionada a sua demolição).

Oliveirense fez nesta época a festa da subida à II Liga

Horácio Bastos não revela os custos desta mudança, mas salienta que obrigará a restrições orçamentais na próxima época.

«Treinaremos no Carlos Osório e jogaremos no Municipal de Aveiro. Os custos com a logística vão obrigar-nos a ter um plantel mais reduzido e com jogadores mais baratos do que a concorrência.»

E os adeptos? Como reagem ao facto de verem a sua equipa a jogar a mais de 30 quilómetros?

«Uns reagem bem, outros não. Mas que se façam sócios da Oliveirense. Temos apenas 1 700 sócios num concelho de 60 mil habitantes. Se tivéssemos muitos mais financiaríamos com maior facilidade o nosso novo estádio.»