Uma grande penalidade assinalada contra o Sporting da Covilhã deixou de ser motivo de festejo para os adversários. Tudo porque na baliza dos Leões da Serra mora um verdadeiro especialista em parar pontapés da marca dos onze metros. 
 
Aos 36 anos, Taborda aceitou o repto de regressar à Covilhã após uma carreira de quase 20 temporadas cumprida, na maior parte, ao serviço da Naval e que conta, ainda, com uma passagem pelo FC Porto.
 
A cumprir a segunda época na sua terra natal, Taborda já inscreveu o seu nome nos registos do campeonato ao defender sete das dez grandes penalidades assinaladas contra a sua equipa. Um registo sem paralelo no futebol profissional português, mesmo para especialistas como Adriano Facchini (Gil Vicente), que ainda neste domingo voltou a deter um castigo máximo.
 
Uma autêntica montanha que contribuiu, decisivamente, para a escalada dos beirões na tabela classificativa e que lhes permite estar, na recta final, a disputar o acesso à subida de divisão que escapa há 27 anos.

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«Não é um dom recente, já me acompanha há algum tempo. Muitos podem considerar que é apenas sorte, mas não é qualquer guarda-redes que defende sete grandes penalidades em dez. Se for uma, tudo bem, pode ser sorte. Agora sete já não pode ser só isso», sublinha em entrevista ao  Maisfutebol, recusando qualquer disposição sobrenatural que contribua para o efeito.
 
«Atualmente há sempre muito trabalho de visualização que ajuda a antecipar o momento. Estudar um jogador não é, por si só, sinónimo de sucesso, porque pode haver alguma mudança circunstancial ou o marcador pode mudar. Tem muito a ver com as tua convicções, com aquilo que consegues observar nos instantes que antecedem a cobrança e, depois, há o  feeling», desvenda.

 
Quando o árbitro apita para a cobrança do castigo máximo, o guarda-redes tem o universo virado na sua direção: adversários, colegas e adeptos. Aquelas fracções de segundo são fundamentais para descodificar sinais e ser bem sucedido.
 
«Ainda não senti nervosismo do lado de quem se preparar para cobrar, até porque quem se perfila é escolha habitual nesses momentos. Há alguns jogadores que inadvertidamente denunciam o lado para onde vão atirar e outros que pecam por excesso de confiança. Isso é perceptível através das expressões faciais ou do olhar», conta guardião que contabilizou passagens pela Liga Romena, antes de recordar alguns dos melhores marcadores de grandes penalidades que lhe apareceram ao caminho.
 
«Gostei muito da forma de cobrar do Rainho do Freamunde. Costuma bater de forma cortada, a fugir do guarda-redes e isso dificulta muito. O Guzzo do Desportivo de Chaves também costuma bater bem, mas já noutro estilo porque costuma escolher o meio da baliza», lembra.
 
Taborda salta dos elogios para as alfinetadas aos marcadores de grandes penalidades com a mesma agilidade com que se atira sobre a linha de golo para atacar a bola. Numa altura em que os adeptos exultam com a  Panenka, o guarda-redes do Sporting da Covilhã assume-se contra esse tipo de cobrança e explica porquê.
 
«Costumo dizer que um penálti marcado no centro da baliza é um penálti cobarde. Demonstra medo de escolher um dos lados. Tendencialmente o guarda-redes escolhe um dos lados e, por isso, o meio da baliza acaba por um escape fácil», considera, prosseguindo no duelo com os avançados.
 
«Para mim é pior não conseguir acertar na baliza do que um guarda-redes falhar a defesa. O guarda-redes está sozinho sobre a linha e é a última esperança da sua equipa. Nessa altura o segredo é aguentar ao máximo para perceber a escolha do avançado, como aconteceu no jogo com o Vitória Guimarães B. Esperei e felizmente consegui parar», sintetiza.


 
 
Chatinho no balneário quer chegar ao topo
 
O Sporting da Covilhã caiu este fim de semana na Madeira, diante do União e, por isso, termina a jornada fora da zona de acesso à I Liga. No entanto, a equipa orientada por Francisco Chaló continua na corrida e Taborda acredita que as dificuldades do passado podem ser a chave para o sucesso no futuro.

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«Na última temporada também fizemos um bom trabalho e acredito que as dificuldades que passámos ajudaram no decorrer desta época. Ultrapassámos uma fase difícil sem vitórias e estamos na luta apesar de haver adversários com outro tipo de orçamento. Isto é a prova que nem só os orçamentos ganham jogos», vinca o homem das luvas, acreditando que uma eventual subida dos Serranos seria benéfica para toda a Região.
 
«Um país tão pequeno não pode estar tão divido. Não faz sentido e acredito que uma eventual subida de divisão acabaria por alterar toda a dinâmica da Região. Traria outro impacto económico e social, e talvez desse o abanão que esta zona tanto precisa», analisa.


 
Além das grandes penalidades defendidas por Taborda, outro dos segredos para o sucesso do Sporting da Covilhã tem sido o velhinho Santos Pinto. Apesar das condições de excelência que oferece o novo Estádio, foi tomada a decisão de regressar ao passado em busca das míticas noites do futebol que se viveram na cidade beirã há quase três décadas.
 
«O Santos Pinto é um estádio mítico e quem o conhece sabe que a força dos adeptos empurra a equipa nas situações em que mais precisamos deles. O novo estádio tem muito boas condições, mas é complicado teres os adeptos a mais de 100 metros de distância. Ainda por cima os nossos já são pessoas de uma faixa etária considerável», reforça.
 
A II Liga entra agora numa fase decisiva e a experiência do capitão é fundamental para ajudar os mais novos a líder com a pressão. Taborda assume na plenitude o papel de tutor e até já há quem lhe chame nome no balneário.
 
«Costumo dizer no balneário que nunca tive empresário e se atingi o que atingi foi devido ao meu trabalho e à minha vontade. É essa a mensagem que lhes passo diariamente e eles até me chamam  chatinho. Porquê?  Porque faço com que tenham de dar o máximo. Estou com 36 anos e ainda quero chegar ao topo e alguns com 20 ainda precisam de um empurrão», sublinha, desvendando um pouco da experiência que tem sido esta temporada onde já cumpriu 53 jogos.
 
«Agora que estou velho jogo mais e ganho menos. São mais jogos, mais deslocações, mais despesas e os clubes com planteis curtos atravessam dificuldades ao longo da temporada. O modelo pode manter-se mas têm de existir outro tipo de incentivos», rematou.