Episódio surreal na última jornada do campeonato da Estónia. O primeiro escalão, saliente-se. O Nomme Kalju de Jorge Rodrigues viu-se obrigado a recorrer aos carros dos seus adeptos para chegar a tempo do embate com o Tammeka Tartu.

Um pneu furado no autocarro da equipa e a intransigência do adversário, a lutar desesperadamente pela permanência, colocaram o Nomme Kalju num beco sem saída.

Sem hipóteses de revalidar o título, perdido para o Levadia, a formação onde joga o defesa português visitava o Tammeka Tartu com um objetivo paralelo, algo como um prémio de consolação: fazer de Vladimir Voskoboinikov o melhor marcador do campeonato.

«O seu principal adversário era do Levadia, portanto seria a nossa pequena vingança. E felizmente, conseguimos. Mas foi um dia de loucos, algo que parecia dos campeonatos amadores em Portugal. Felizmente, é uma situação rara aqui na Estónia.»

O mau tempo deixara o relvado do Tammeka Tartu em péssimas condições. O natural seria a realização do encontro em Tallin, no estádio da federação. Mas a pressão do adversário do Nomme Kalju resultou e o jogo foi marcado para o Elva Linnastaadion.

«Aquilo era um relvado no meio de um bosque, sem bancadas, parecia até que estávamos a pisar pinhas. Como era mais perto da cidade deles, disseram que era importante para os adeptos e conseguiram. Lá fomos nós, numa longa viagem de autocarro, até que tivemos um furo», explica Jorge Rodrigues.


Não restava tempo para um autocarro de recurso. A presença do Nomme Kalju estava em risco. «Claro que o adversário achou que assim iria ganhar o jogo e não aceitou adiar. Ligámos para a Federação mas só esperaram mais quinze minutos, os jogos começavam à mesma hora e tiveram de mudar todos. Não podia ser mais tempo por causa dos jogos online, de uma empresa que patrocina o campeonato.»

Os adeptos salvaram a equipa. A caminho de Elva, alguns seguidores do Kalju viram o autocarro parado na beira da estrada e foram perceber o que se passava. A solução estava ali, nos seus veículos particulares.

«Era a única solução. Tínhamos de ir nos carros deles e a grande velocidade. Nós até queríamos conduzir mas o treinador não deixou. Então, fomos apenas os onzes titulares, mais o treinador e o massagista, à boleia com os adeptos. Os restantes ficaram à espera da mudança do pneu.»

A viagem contra o tempo não terminou aí para Jorge Rodrigues. Pelo caminho, o carro onde seguia entrou na reserva. Não chegaria ao estádio. Ao campo, aliás. «O rapaz que levava o carro não tinha a carteira com ele e o massagista, que ia comigo, também não. Felizmente, eu tinha dinheiro no bolso e acabei por pagar a despesa. Fomos os últimos a chegar mas ainda a tempo. O adversário, claro, ficou desgostoso quando aparecemos em cima da hora.»

O Nomme Kalju venceu com um hat-trick do seu goleador (0-3). Rimo Hunt, do Levadia, também marcou três golos mas ficou a um de Vladimir Voskoboinikov. «Fizemos uma festa tremenda, claro, e celebrámos cada golo junto dos nossos adeptos. Foi uma vitória contra tudo e todos e muito se deveu a eles.»


Jorge Rodrigues, atualmente com 31 anos, está no clube estónio desde 2011. Sente-se feliz e vai continuar. «Sou acarinhado no clube, gostam de mim e sinto-me envolvido neste projeto para o futuro. Tenho mais um ano de contrato mas já estamos a discutir a renovação.»

«Passámos uma pré-eliminatória da Liga dos Campeões frente ao HJK, o campeão da Finlândia mas depois fomos afastados pelo Viktoria Plzen. De qualquer forma, passamos para o play-off da Liga Europa, onde perdemos com o Dnipro. Mesmo assim, foi a época onde um clube conseguiu mais pontos para a Estónia», lembra o português.

O segundo lugar no campeonato foi o maior amargo de boca. «Estávamos envolvidos nesses jogos europeus e utilizámos jogadores da equipa B em alguns compromissos do campeonato. Depois, não conseguimos recuperar o atraso», remata Jorge Rodrigues, em conversa com o Maisfutebol.