Na cidade de Uagadugu, capital do Burkina Faso, há um torneio amador entre bairros que está a utilizar a tecnologia do videoárbitro.

Dito assim, desta maneira, até pode parecer uma graçola de gosto de duvidoso.

Afinal de contas estamos a falar de um país em que o principal campeonato nacional não tem ainda condições para utilizar o VAR, tal como acontece na maioria do continente, aliás. Pode, portanto, parecer uma graçola de gosto duvidoso, mas não é.

Todo o torneio, que está na primeira edição, foi pensado para funcionar como um exemplo para as competições profissionais do país. Basta dizer, por exemplo, que os jogos têm transmissão em direto na página oficial no Facebook e a final vai ser transmitida em sinal aberto pelo canal privado de implantação nacional BF1.

Inscreveram-se inicialmente no torneio dezasseis bairros, que foram divididos em quatro grupos de quatro equipas cada um. Os dois primeiros classificados de cada grupo apuraram-se para os quartos de final, e foi a partir daqui que tudo aconteceu.

O que significa que foi a partir dos quartos de final que entrou o VAR, em jogos dirigidos por árbitros com experiência profissional, disputados sempre ao fim de semana no campo do Hipódromo de Nonssin e com transmissão online.

A final está agendada para dia 4 de junho.

A estreia tem sido um sucesso

«Queremos que este torneio entre os bairros de Uagadugu, que reúne os juniores da nossa cidade, seja sem dúvida um momento importante na vida deles, que contribua inevitavelmente para estreitar as relações entre os jovens atletas, para que saibam viver em fraternidade e em comunhão», referiu Salifou Guigma, presidente da comissão organizadora, durante a apresentação do torneio.

«O futebol amador possibilita a formação de uma juventude consciente e lutadora.»

Ora este é, de facto, um ponto essencial: é de futebol amador que estamos a falar. As equipas vêm de bairros, não podem estar inscritas em competições oficiais, os jogadores são obrigados a ter menos de vinte anos e não podem ser atletas federados.

O campo de terra batida, marcado por linhas muito tortas, não tem sido suficiente para afastar o público e o entusiasmo. Até o selecionador nacional do Burkina Faso, Kamou Malo, já passou pelo hipódromo sem bancadas, para ver dois jogos dos quartos de final.

Sentado numa cadeira de plástico, que funciona como uma espécie de tribuna de honra, enquanto a maior parte das dezenas de adeptos estão de pé, Kamou Malo teve a oportunidade de ver num jogo o videoárbitro intervir duas vezes, por exemplo.

«O VAR permitiu detetar duas faltas duras, que configuraram situações de anti-jogo e que resultaram em dois cartões vermelhos, neste jogo dos quartos-de-final», congratulou-se no fim a organização.

Mas afinal, que videoárbitro é este?

O presidente da comissão organizadora, Salifou Guigma, chamou-lhe um mini VAR. Basicamente, e segundo um membro da organização contou ao Maisfutebol através de mensagem, tem seis câmaras digitais que filmam todo o jogo.

Depois há uma carrinha, onde chegam as imagens, que são trabalhadas por dois dois técnicos de régie e acompanhadas por dois videoárbitros, que avisam o árbitro para ir ver num ecrã próprio, sempre que necessário, a projetação das repetições.

No fundo, portanto, é necessário cada jogo ter cinco árbitros, seis camaramen e dois técnicos de régie.

«Não só é necessário ter muitos homens e equipamentos de última geração, como acima de tudo há que investir em câmeras de alta resolução», disse Salifou Guigma.

«Mas o nosso mini VAR é uma forma de sermos um exemplo, para os órgãos do desporto nacional. O que nós lhes mostrámos aqui é que não são coisas complicadas, se tivermos árbitros experientes para nos apoiar e vontade de evoluir.»

No caso do campeonato entre bairros de Uagadugu, o apoio veio de um empresa local, chamada GMO – Group Madina Oumarou, que aliás dá o nome ao torneio: GMO Foot Intersecteurs. De outra forma seria difícil ter o VAR em sete jogos.

O VAR que, refira-se, acaba por ser mais do que uma curiosidade.

É no fundo um exemplo cabal de como a tecnologia já faz hoje parte do futebol: no Campeonato do Mundo, na Liga dos Campeões, na Taça das Nações Africanas ou até num torneio amador do Burkina Faso. Como se sempre tivesse estado aqui.

Ao ponto de ser desejado como se sem ele não pudesse haver futebol.