O Gafanha, equipa que disputa a série B do Campeonato de Portugal prepara-se para enfrentar o Marítimo B, no próximo domingo, com uma equipa com média de idades «entre os 18 e os 19 anos». E o mais provável é que esse cenário se repita nos jogos seguintes.

A confirmação foi feita ao Maisfutebol por Paulo Matos, que há duas semanas assumiu o comando da equipa principal, depois de o anterior técnico ter deixado o clube.

Acontece que esta realidade da equipa do concelho de Ílhavo não se prende com uma intencional aposta na formação, mas sim com a adaptação às circunstâncias que se têm vindo a agravar nas últimas semanas.

Tudo porque o clube assistiu a uma verdadeira debandada dos jogadores que compunham plantel principal no início da época, com a saída de cerca de uma dezena de jogadores – oito dos quais esta semana.

A somar a isto, a instituição atravessa também uma crise diretiva e vai a eleições neste sábado… mas ainda não se sabe se vai haver candidatos.

Um barco sem rumo em terra de pescadores

«O que acontece é que a direção tinha caído e já só restava o presidente [que esta semana anunciou que ia deixar o clube] e, neste momento, o barco não tem quem o dirija», explica Paulo Matos, conformado com a situação: «Amanhã [sábado] é que vamos saber se há candidatos à presidência.»

Ora, o que de menos positivo se passa no clube tem tido reflexo dentro do relvado onde, depois de um bom arranque, o Gafanha vem de cinco derrotas consecutivas, duas das quais já sob o comando técnico de Paulo Matos.

«O que posso dizer é que, em termos de empenho, não posso apontar nada aos jogadores, que têm sido verdadeiros heróis», sublinha.

Mas os heróis também se cansam. Nos últimos dias, alguns dos jogadores mais experientes e com mais tempo de casa, deixaram também o Gafanha. A solução para todas as saídas, porém, não deixa Paulo Matos inquieto, afinal, a Gafanha da Nazaré é cidade de pescadores e por mais agitado que se mostre o mar, a coragem tem de ser uma constante.

«Eu venho da formação e o que a experiência me diz é que quando surgem as dificuldades que percebemos aquilo de que somos feitos. Eu vejo sempre as coisas pelo lado positivo e nunca pelo negativo», continua o homem que era o coordenador de formação e técnico da equipa de juniores.

E o «lado positivo» são as oportunidades que surgem.

«Neste momento temos quatro juniores e seis ou sete jogadores da equipa B [que milita no segundo escalão da AF Aveiro] a trabalhar com o plantel principal e são esses que vão jogar. Vamos ter uma equipa com média de idades entre os 18 e os 19 anos, mas sei que todos vão fazer por dignificar o clube», garante.

«Acho que a continuidade do clube não está em causa»

E será suficiente para enfrentar uma competição como o Campeonato de Portugal? «O que vamos ter de fazer é trocar a experiência, que não temos, pela irreverência e força de vontade destes jovens», reflete o treinador, de 38 anos.  

Com 18 jornadas cumpridas, o Gafanha ocupa o 11.º lugar, três pontos acima da linha de água e Paulo Matos acredita que não há a possibilidade de o clube deixar de ter condições para continuar a competir nesta época.

«Acho que não se coloca a possibilidade de não terminarmos a época. O clube tem força humana para sobreviver e posso garantir que os jogadores que temos vão dar tudo até ao fim da temporada», aponta.

Contudo, o treinador sabe que o momento atual do Gafanha é tudo menos simples. «É preciso que o clube se encontre e que surja gente que dê um rumo a este barco. A equipa técnica e os jogadores que compõem o plantel querem ajudar, mas é preciso que todos remem para o mesmo lado», receita.

Presidente cessante não se candidata… mas não deixa o clube cair

O Maisfutebol falou também com João Paulo Ramos, presidente cessante que começa por garantir que «não há vontade de concorrer a novas eleições». Contudo, o homem que presidiu ao Gafanha nos últimos três anos assegura outra coisa: «se não houver ninguém que assuma, eu estarei disponível para não deixar cair o clube.»

E como principal responsável pelo Gafanha, como é que João Paulo Ramos explica o ponto a que chegou a situação?

«Em dezembro, o anterior treinador mostrou vontade de sair porque tinha uma proposta para trabalhar à porta de casa, na ilha da Madeira. Isso precipitou a vontade dos jogadores, mas eu consegui segurar os homens, até que os informei que não iria candidatar-me novamente à presidência», explica.

Certo é que foram onze os jogadores que deixaram o Gafanha. No entanto, o presidente cessante não acredita que isso possa colocar em causa a continuidade do clube.

«Não acho que a continuidade ou a permanência nos campeonatos nacionais esteja em perigo. Tem é de aparecer alguém para assumir o clube e refazer a equipa. Esse foi o meu trabalho todos os anos em que fui presidente», aponta, não mostrando preocupação também com a ausência de candidatos à presidência do clube.

«Nos estatutos do Gafanha está escrito que até ao último minuto antes da hora marcada para as eleições, podem surgir candidatos. Só têm de ser sócios e ter as quotas em dia», explica.

Têm a palavra os sócios do Gafanha. As eleições estão marcadas para este sábado, às 21h30, na junta de freguesia da Gafanha da Nazaré.