As últimas voltas do Grande Prémio dos Países Baixos ficaram marcadas pela polémica comunicação entre a Mercedes e o piloto Valtteri Bottas.

O número dois da construtora alemã seguia tranquilamente no terceiro lugar quando foi mandado às boxes. Uma decisão, em tese, compreensível, uma vez que, sem o pódio em risco, Bottas poderia tentar arrecadar um ponto extra, atribuído a quem faz a volta mais rápida da corrida.

Só que quem tinha a melhor volta da corrida era o companheiro Lewis Hamilton, que está numa luta titânica pelo título com Max Verstappen e somaria 19 pontos contra 25 do piloto da Red Bull, que venceu o Grande Prémio. Significaria isto que, ainda que a Mercedes não perdesse nada no Mundial de Construtores (porque o ponto extra ficaria sempre para um piloto dela), Bottas «roubaria» um ponto a Hamilton, permitindo que Verstappen ganhasse mais um ponto ao heptacampeão mundial.

Durante a tentativa de fazer a volta mais rápida, Bottas recebeu a indicação para abrandar. «Não vamos para a volta mais rápida», ouviu-se na comunicação rádio que foi libertada pela realização. Bottas perguntou porquê e, a seguir, fez a volta mais rápida da corrida.

Ato contínuo, Lewis Hamilton foi às boxes na volta 70 de 72 para colocar pneus que lhe permitissem recuperar o melhor tempo e recuperar o ponto perdido para o outro piloto da Mercedes. Era «crítico», disse antes de, na derradeira volta, voltar a ficar com a volta mais rápida.

No final da corrida, todos na Mercedes tentaram desvalorizar o sucedido, garantindo que tudo - ou quase tudo - o que aconteceu estava, afinal, planeado.

Bottas trocou de pneus a cinco voltas do fim por precaução (eventualmente para prevenir um furo numa altura em que o desgaste era acentuado) e Hamilton não estaria a par do que estava a acontecer quando resolveu voltar às boxes. «Eu nem sequer sabia que o Valtteri tinha parado. Não fui informado disso. Eu é que decidi parar. Precisava desse ponto e parei», disse.

Explicação convincente? Isso fica ao critério de cada um, assim como a leitura das palavras de Valtteri Bottas a propósito da comunicação com a equipa.

«Eu inicialmente pensei que ia parar para fazermos a melhor volta, mas depois o Lewis ficou com margem (para segurar o segundo lugar) e parou. Eu forcei no primeiro setor e no segundo. E depois começaram a perguntar-me para abrandar no fim da volta. Eu estava a brincar. É óbvio que o Lewis precisava mais desse ponto do que eu. Ele está a lutar pelo título de pilotos», afirmou Bottas, referindo depois que já tinha a informação de que Hamilton pararia a seguir a ele e que o facto de ter abrandado no último setor permitiria sempre ao colega de equipa fazer um tempo melhor.

E o que tinha Toto Wolff a dizer? O homem-forte da Mercedes considerou que Bottas foi «um pouco atrevido», mas preferiu focar-se no lado positivo: e o lado positivo foi que, apesar dos riscos, Hamilton somou o tal ponto extra que, saber-se-á lá mais à frente, poderá vir a ser decisivo. «Vamos falar sobre isso, mas mais num sentido amigável e profissional.»