O antigo futebolista brasileiro Cafu falou pela primeira vez publicamente sobre o filho, que não resistiu a um enfarte e morreu a 4 de setembro, com apenas 30 anos.

«Jogar terra no seu filho e ver que ele não vai voltar mais é... (...) Ainda não assimilei o facto de que enterrei um filho. Vou ao cemitério a cada cinco dias», disse numa entrevista à revista Veja.

Num testemunho pesado, fica claro que a ferida aberta pela perda do filho nunca fechará. «Enterrar um filho foge do contexto geral, de tudo o que você sente ao longo da vida. Não tive coragem de entrar no quarto dele até agora. O meu filho Wellington recolheu as coisas e colocou tudo para doação. Nunca mais pisei no campo onde aconteceu a convulsão. Não sei como descrever a sensação de jogar terra sobre o caixão de um filho sabendo que ele nunca mais vai voltar. A morte de um filho acompanha um pai e uma mãe para o resto da vida», referiu em lágrimas sobre Danilo, o filho.

Cafu assimiu que chora todos os dias, mas que procura mostrar-se forte quando chega a casa. «Choro no trânsito e ligo para amigos apenas para chorar. Eles até sabem e ficam calados. Então eu choro, choro e choro. Chorar alivia o peito.»

Para trás ficam boas memórias de um filho, que para Cafu era também um grande amigo. «Ele chegou a atuar na formação do Milan quando morámos em Itália, mas deu-se conta de que aquela não era a praia dele e saiu. Era agregador e piadista. Tirava sarro de toda a gente. Dentro de casa ele chamava-me de capitão. Para quem é pai, a dor cega. Eu não perdi apenas um filho. Perdi um amigo de futebol e de truco, o meu companheiro de viagens e de cervejadas. Perdi tudo. O Danilo preenchia a casa.»

Cafu relatou ainda os momentos que mudaram a vida dele, num jogo entre amigos que até estava marcado para o dia seguinte mas que o próprio Cafu antecipou porque ia em trabalho para os Estados Unidos. «Ele saiu num intervalo e eu continuei a jogar. Três minutos depois, notei um tumulto fora do campo. Por curiosidade fui ver o que estava a acontecer e deparei-me com o meu filho a sofrer convulsões. Entrei em pânico, pois ele tinha um histórico cardíaco delicado. Ligámos para os bombeiros e eles disseram que chegariam em dez minutos, mas o meu filho não poderia esperar.»

Cafu pegou no filho ao colo, arrancou no carro e chegou ao hospital em cinco minutos. «Ele já estava pior quando chegou ao hospital. Os médicos tentaram reanimá-lo de muitas formas. Depois de meia hora, um médico chamou-me a um canto. Eu disse: 'Doutor, não precisa de falar nada. Estou a ver que ele não responde'. Fiquei de pé, orando e pedindo a Deus que não levasse o meu menino... Não foi possível», concluiu.