Quando os jornalistas aguardavam a presença do treinador Daniel Ramos na pequena sala destinada às conferencias de imprensa no estádio de São Miguel, aqueles que estavam mais perto da porta, começaram a rir-se.

O motivo: para celebrar o histórico sexto lugar no campeonato, o treinador do Santa Clara aparece vestido de vaca para prestar declarações aos jornalistas.

Mais: não veio sozinho. O presidente Rui Cordeiro acompanhou-o, ele também devidamente vestido de vaca. A gargalhada foi geral. Quando se retomou a (possível) solenidade da conferencia de imprensa, Daniel Ramos lá explicou que se tratava de uma forma praticamente literal de vestir a camisola de uma região. Uma forma de agradecer aos adeptos, justificou.

A tal solenidade foi de pouca dura. Dois minutos depois, o plantel do Santa Clara invadiu a sala e mergulhou o treinador e o presidente em cerveja, bebidas energéticas e em tudo mais o que houvesse.

Gritou-se pelo Santa Clara e celebrou-se a Europa. Os jornalistas da linha da frente, claro está, ficaram igualmente molhados. O cheiro a cerveja ainda vai continuar entranhado na sala.

O dia era de festa. Antes, mal o jogo acabou, houve fogo de artifício e o plantel todo celebrou no relvado, entre camisolas criadas especificamente para o feito, tochas vermelhas e bandeiras dos Açores.

Mas voltando à tal salinha. Após a invasão, seguiram-se mais de 30 minutos da conferencia possível. Daniel Ramos agradeceu aos adeptos, aos jogadores e à estrutura do clube. Depois falou o presidente – faça-se aqui uma nota para a piada de ver dois homens vestidos de vaca a falar seriamente sobre o esforço de uma época.

Rui Cordeiro enalteceu o feito histórico: «Hoje escrevemos uma das histórias mais bonitas, mais fantásticas, de maior superação do futebol açoriano. Este também é o nosso contributo», disse.

O segredo, disse, está na união do grupo. «O grande contributo por detrás desta qualificação europeia é isto: é a capacidade de cada um de nos carregarmos uns aos outros às costas quando estamos em dificuldades e eu enquanto estiver aqui a presidir esta instituição será esse o meu lema».

E não deixou de apontar o recado para o Governo dos Açores. É que o estádio de São Miguel é propriedade da região e não tem condições para as provas europeias. «É altura de o Governo dos Açores abrir a pestana de uma vez por todas», disse Rui Cordeiro, acrescentando que até vai vestido de vaca até ao Palácio de Sant’ana, sede da presidência, se tal for necessário.

No final, a sala estava inundada de latas e garrafas de bebida. Era os vestígios de uma festa que só passou para outro lado. No estádio de São Miguel continuou a ouvir-se os gritos e os festejos dos jogadores e da equipa técnica. Gritou-se pelo Santa Clara e pela Europa. Hoje é dia de festa nos Açores.

[artigo atualizado]