Dois dias seguidos, dois regressos impensáveis. Ou não tão impensáveis assim?... Primeiro foi Edwin van der Sar, no sábado. Depois foi Stuart Pearce, no domingo. O guarda-redes holandês voltou a jogar aos 45 anos. O defesa inglês regressou à competição aos 53 anos, 13 depois da sua reforma.

Reforma antecipada antes da hora, melhor dizendo? É a revolta da Brigada do Reumático ou alguma descoberta da fórmula do elixir da juventude? No ano passado, vimos como a dieta do então mais velho jogador a atuar em Portugal o mantinha em forma.

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Seja qual for a conclusão, é assumidamente pelo gosto do jogo.

Respeitando a cronologia do fim de semana, primeiro foi Edwin van der Sar a entrar em campo. Retirado em maio de 2011, o guarda-holandês voltou a competir quase cinco anos depois do adeus aos relvados.

O gosto pelo jogo só pode ter par no amor à camisola (quando o há). E com Van der Sar há ambos. O VV Noordwijk foi o clube onde ele começou a jogar. E quando o clube precisou dele, disse presente.

Van der Sar aceitou ser o guarda-redes da equipa enquanto o titular, Mustafa Amezrine, estiver lesionado. O regresso foi auspicioso quanto baste, pois se o guardião holandês teve hipótese de mostrar as qualidades que ainda conserva defendendo um penálti, o Noordwijk não conseguiu melhor do que um empate (1-1) frente ao Jodan Boys em jogo da quarta divisão da Holanda.

Mundialmente conhecido, Van der Sar construiu o mais importante da carreira no mais famoso clube holandês, o Ajax, e no inglês Manchester United. Por ambos foi campeão europeu de clubes, além dos outros troféus internacionais e nacionais que venceu. E jogou 130 vezes pela seleção holandesa.

A ligação ao futebol nunca acabou e o holandês de 45 anos que ainda faz perninhas pelo clube que o viu nascer vai fazendo carreira na estrutura do Ajax. Foi inclusive da equipa sub-9 do clube de Amesterdão que Van de Sar mais gostou quanto aos incentivos que recebeu para o jogo deste sábado.

Parecia o facto insólito do fim de semana. Foi um, mas não foi o único. Stuart Pearce pareceu estar a dizer «Se tu voltas aos 45 anos, eu volto aos 53!». Treze anos depois, o antigo internacional inglês (78 vezes) voltou a jogar uma partida oficial, já depois de ter começado a carreira de treinador.

Stuart Pearce foi um jogador emblemático do Nottingham Forest da segunda metade da década de 1980, clube que deixou em 1999, depois de 14 épocas. A carreira de futebolista terminou três épocas mais tarde. Terminou a primeira parte, melhor dizendo.

O lateral esquerdo deixou de jogar no Manchester City e foi nos «citizens» que começou a treinar. A carreira foi sendo contruída de forma interna e passou para as seleções inglesas sendo vice-campeão europeu sub-21. Antes já tinha sido chamado por Fabio Capello para a equipa técnica principal e foi selecionador interino quando o treinador italiano saiu.

Pearce comandou ainda a equipa da Grã-Bretanha nos Jogos Olímpicos Londres 2012 antes de voltar ao trabalho nos clubes. Foi parar a Nottingham, como não é de estranhar. Mas só lá esteve um ano, antes de ser demitido no ano passado. Em finais de janeiro pôs a carreira de treinador em suspenso, assim como suspendeu a reforma de futebolista, e assinou pelo Longford AFC.

Neste domingo, Stuarte pearce voltou a jogar aos 53 anos ao serviço daquela que é conhecida como a pior equipa de Inglaterra. O lateral inglês entrou para jogar a segunda parte. Mas não se pense que mudou muito. O título que o Longford detém deve-se ao facto de ter perdido todos os jogos do escalão onde milita: o 13º de Inglaterra.

E sem ou com Stuart Pearce, o título continua seu: o Longford voltou a perder na estreia do (já não antigo, mas ainda) internacional inglês (no ativo). A derrota (0-1) com o wolton Rovers deixou o pior registo dos campeonatos ingleses em 23 derrotas em 23 jogos com oito golos marcados e 199 sofridos.

Algo que não incomoda Pearce. Em declarações recolhidas pela «ITV», o lateral esquerdo destacou que o que importa são «as raízes», pois têm estado a perder visibilidade para as ligas famosas. Mas ele garante que «os sorrisos na cara das pessoas, dos jovens», que «aparecem todas as semanas pelo amor ao jogo» é o que ele agora valoriza: «É isso que é o futebol.»