Tem três minutos na II Liga, mas já é protagonista quando se fala de negócios num encontro comercial em Portugal. O Sporting foi o convidado surpresa da Associação Comercial de Lisboa e uma delegação de 14 empresários goeses ouviu dois responsáveis leoninos analisarem uma das contratações mais sonantes (porque toda a gente falou sobre ela) da época: Sunil Chhetri.

O avançado é a estrela maior da Índia do futebol. Tanto assim é que, mal acabaram de intervir neste evento inserido na Semana Indo-Portuguesa , os responsáveis leoninos foram procurados por um curioso jornalista indiano para falarem de Sunil Chhetri. A ideia é chegar àquele mercado, explorar um novo caminho para a Índia, e estar implementado no país quando o «boom» do futebol por lá surgir.

«Temos um grande plano de globalização do Sporting, que é um dos maiores clubes nas modalidades olímpicas. O Sporting é uma marca muito forte no desporto, não só por ter mais de cem anos de história, mas também porque na última década foi o único clube que formou dois vencedores da Bola de Ouro, Cristiano Ronaldo e Figo.»

As palavras do vogal do Conselho Diretivo, João Pedro Varandas, apontam para uma estratégia que permitirá aos leões entrar «numa economia cheia de perspetivas e sonhos». O responsável do Sporting declara que o clube tem «um grande plano para a Índia».



E por que passa, afinal, esse plano? Qual o papel de Sunil Chhetri? Na intervenção que fez, o diretor da Academia, Diogo Matos, tentou explicar: «Estive em Mumbai há 15 dias. Estudei muito sobre o que se está a passar no futebol lá. Percebi que há um grupo que começa a mostrar interesse pelo futebol. Daqui a três, quatro ou cinco anos haverá um "boom". Quando, não se consegue precisar. Mas o Sporting quer dar a mão a esse "boom".»

«Vocês não têm bons jogadores»

Como se sabe, Sunil Chhetri foi integrado na equipa B. Aos 28 anos, não será propriamente uma aposta para o futuro. Mas é, isso sim, uma espécie de montra. Ora vejamos o que diz Diogo Matos: «O jogador indiano dificilmente tem lugar na nossa equipa, temos de ser realistas. Mas se olharmos para o que aconteceu com Cristiano Ronaldo sabemos que pode evoluir. Jogadores como Quaresma, Simão ou Figo não são uma coincidência. Por isso, o processo tem tudo para ser um sucesso. Na Índia dizemos: "Somos o Sporting e fizemos isto."»

A argumentação de Diogo Matos fica melhor com uma frase de João Pedro Varandas, já depois da intervenção que fez. «Hoje, o Sunil Chhetri é um jogador melhor.» Volte-se ao diretor da Academia, que atirou para a plateia, em Inglês: «Vocês não têm bons jogadores de futebol, mas nós vamos ajudar-vos a encontrá-los e desenvolvê-los. Há um bom mercado a explorar e o Sunil Chhetri é um bom exemplo, é um bom intérprete do que um indiano pode viver em Lisboa.»

Ainda assim, nos leões, parece haver algumas cautelas em abordar a situação do internacional indiano. A imagem vale muito nestas coisas. Depois de dizer que Sunil Chhetri é agora um jogador melhor, porque já evoluiu no Sporting, João Pedro Varandas assumiu: «Mas terá de adaptar-se à exigência do clube. Quem deve opinar são os profissionais de cada área e os responsáveis do futebol entenderam que ele se enquadrava melhor na equipa B. Todos temos a noção de que jogar no Sporting não é para qualquer um.»

Varandas sublinha que o Sporting não escolhe os jogadores apenas pelo local de nascimento. «Não é por ser indiano ou chinês, um jogador não vale só por ter nascido num determinado país. O Sporting é um clube multicultural, sempre procurou jogadores de várias nacionalidades», disse.



Ainda assim, para entrar no mercado indiano, dá jeito ter o capitão da seleção do país a vestir a camisola verde e branca. Mesmo que seja apenas por três minutos. Por agora, Sunil Chhetri tem mais linhas na imprensa do que aquelas que escreveu em campo. Isso já é uma vitória para os leões?