Mads Timm, antigo jogador do Manchester United, escreveu um livro intitulado «Red Devil» em que dá conta da sua passagem pelo clube de Old Trafford e, numa das passagens pelas suas memórias, recorda os primeiros tempos de Cristiano Ronaldo no clube, logo depois de ter chegado do Sporting em 2003.

O autor do livro, natural da Dinamarca, esteve seis anos no Manchester United, mas fez apenas um jogo pela equipa de Alex Ferguson, antes de deixar o clube, em 2006, depois de ter sido detido por condução perigosa. Acabou por terminar a carreira cedo, em 2009, quando tinha apenas 24 anos. Mas foi nesse período da juventude que o jovem Timm testemunhou os primeiros dias do jovem Cristiano Ronaldo, então com 18 anos, em Old Trafford.

Timm tinha sensivelmente a mesma idade de Cristiano Ronaldo, mas começa por contar que o estado de espírito do português era totalmente diferente do seu. «Era totalmente o oposto de mim. Eu estava mentalmente acabado e, na altura em que ele chegou, odiava o ambiente na equipa. Ele era o contrário, tinha a cabeça limpa e uma fé indomável nele próprio. Isso refletia-se no campo. Nos treinos eu jogava do lado esquerdo e ele jogava no lado direito da outra equipa. Sempre que nos cruzávamos em campo, ele passava por mim, nunca tive tanta falta de ar. Ele tirava-me o fôlego», começa por contar.

Mas nem tudo foi um mar de rosas para Cristiano Ronaldo. «Ele era um futebolista extraordinário e também era boa pessoa. Como eu, foi alvo de bullying quando chegou ao clube. Começaram por implicar com o cabelo dele - que acabou por cortar – e com a forma como procurava impressionar o treinador com as suas acrobacias. Ele passava o pé por cima da bola dez a quinze vezes antes de fazer o drible e passar pelo adversário. O Gary Neville  e o Ole Gunnar Solsljaer passavam o tempo a gritar “passa agora!”», recorda Timm.

No entanto, o antigo companheiro de Cristiano Ronaldo destaca a persistência do português que acabou por vencer os mais velhos. «O que ele tinha de especial é que fazia frente às hierarquias do clube. E venceu. Era completamente indiferente ao coletivo. Não dava espaço aos outros. Era ele, ele e ele. Cristiano Ronaldo. CR7», prossegue o narrador.

Características que Timm continua a ver no atual jogador da Juventus. «Olhem para ele. Todos os dias, depois de tudo o que já alcançou, ainda fica chateado se um companheiro marcar um golo em vez de lhe passar a bola. Não é o melhor jogador com quem já joguei, mas é a pessoa mais focada que já conheci. Mentalmente faz-me lembrar eu próprio quando tinha doze anos, mas ele continua a pensar assim. Acho que foi assim que ele sobreviveu no futebol profissional», conta ainda Timm.

O livro de Mads Timm conta ainda com um pormenor. «O Cristiano queria muito comprar uma jóia com um diamante que eu tinha, mas recusei vender-lhe. Ele não podia ter tudo, já me tinha roubado o meu sonho», revela ainda o antigo jogador.